Aquele fim de tarde, aquelas bebidas, as reflexões e conversas me deixaram bem.
Por Joel Martins Cavalcante*
Sexta-feira, 16h30. Saí do sindicato. Aquela tarde estava bem tranquila sem aquele entra e sai de professores em busca de informações de seus direitos ou adesão aos acordos judiciais ganhos pelo SINTEP-PB. Às 18h, eu tinha uma plenária política para ir. Portanto, mais de uma hora sem fazer nada.
Saí do sindicato e passei em frente à Igreja do Carmo. Me benzi. Estava no momento da consagração. Não fiquei na missa, porque não gosto de participar dos rituais do meio para o fim. Segui e parei em frente a um café na General Osório. Entrei. Olhei o lindo pôr do sol. Contemplei a Basílica de Nossa Senhora das Neves. Mas percebi que aquele espaço estava ocupado por alguns casais. Não era um lugar propício para quem não estava acompanhado.
No celular, uma notificação. Olho a mensagem no aplicativo de texto. Uma amiga me pergunta o que aconteceu com Eduardo¹. Tive um susto, a princípio. Mas depois percebi que ela desejaria saber se estávamos juntos. Eu expliquei que rompemos. Falei de minha dificuldade em relações monogâmicas. Nossas visões eram distintas sobre relacionamentos. Se bem que não agi corretamente durante o tempo que ficamos juntos; fruto de minha não adaptação a regras fechadas.
Ano passado escrevi Estado de Espírito ou um consolo para o dia 12. Discorri sobre o Dia dos Namorados e a vida rapariga. Quem quiser pode ler depois neste mesmo site. Passei esse ano namorando, mas triste, porque a data rememora ao falecimento de pai. A terapia, a propósito, foi sobre o luto e as consequências. Mas tudo bem. Eu estava em um relacionamento. Primeira vez na vida na data magna dos amantes. Menos de um mês depois tudo acaba. Fazer o quê?
Saí do café e fui para General Store. Certamente lá eu iria curtir minha vibe enquanto não chegava a hora da plenária. Entrei. Pedi informações sobre as cervejas artesanais que tinham disponíveis. Foi-me dito de uma preta com uma quantidade de álcool bem acima do normal; peguei essa.
Fiquei sentado na parte de baixo da General. Pouca gente presente. O sol se pondo, naquele ambiente, dando visão para o rio Sanhauá é perfeito. Pouca gente no local. Achei propício. Queria apreciar aquele ocaso e minha solidão. O som alterava, música pop americana e reggae. Nos primeiros goles de cerveja já me arrependi; era muito forte mesmo.
A semana passou toda na minha mente. Na terça-feira retornei, depois de anos, ao curso de Jornalismo da UFPB. Aula de Telejornalismo. A professora apresentou algumas produções de estudantes dos períodos passados. Uma chamou atenção de toda a turma. Gasolina², um documentário com vários personagens que falavam suas vivências e concepções de amor.
Um personagem de Gasolina foi especial para mim. Sua fala deu nome ao filme. Ele discorria de suas concepções, sentimentos e da não monogamia. Me identifiquei logo com ele. Uns dias atrás, em um bar na Praça da Paz, nos Bancários, conversava com um casal de amigos heterossexual sobre a temática. Conversei sobre minha situação e eles disseram que eu não servia para namorar mesmo. Que tudo era tentativas vãs. Mas ponderei algumas coisas e tal. No fim, estavam certos. Pelo menos por enquanto... Tudo muda... Quem sabe...
Sei que a dor é terreno fértil para a escrita.
Enquanto repassava a semana, Gasolina, o fim do relacionamento e contemplava o sol se pondo, pedi outra cerveja. Não da mesma, claro. Pedi uma que já conhecia e sabia que o teor alcóolico era normal. Quando a bebida chegou, peguei a agenda comemorativa dos 50 anos do SINTEP-PB e comecei a escrever. Sei que a dor é terreno fértil para a escrita. Por anos tive um blog que colocava tudo o que não conseguia falar para as pessoas. Era uma forma de aliviar as tensões internas.
Quatro cervejas depois uma amiga, que também iria para o evento político, chega para fazer companhia. Ficamos até 19h entre conversas, análises políticas e amorosas, risadas e mais cervejas. Pedimos um uber e fomos até o local da plenária. Obviamente, cheguei um pouco alterado, mas hiper animado. Aquele fim de tarde, aquelas bebidas, as reflexões e conversas me deixaram bem. Durante os discursos políticos, me animei mais ainda. Até as redes sociais que tinha desativado retomei. Se a política do afeto não vai bem, que a política pública venha a funcionar; pelo menos isso.
Notas
¹ Nome fictício de um personagem real.
² Disponível aqui.
*Joel Martins Cavalcante é professor de História da rede estadual de ensino da Paraíba, membro da diretoria do SINTEP-PB e CUT-PB e militante dos Direitos Humanos e do Movimento Brasil Popular.
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Edição: Carolina Ferreira