Rio Grande do Sul

DESAPARECIDOS

Revolucionário Cilon Cunha Brum é homenageado no cinquentenário de seu assassinato

Passados 50 anos, família ainda espera pelo seu corpo e mantém uma sepultura vazia em sua cidade natal, São Sepé (RS)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Lideranças recordam assassinato de Cilon Brum em praça que tem seu nome na capital gaúcha - Foto: arquivo pessoal

Na tarde de domingo (3), foi realizada em Porto Alegre uma cerimônia para homenagear o militante político Cilon Cunha Brum na data em que completaria 78 anos de idade. O ato também rememorou os 50 anos do seu assassinato, no Araguaia (GO), pelo Exército brasileiro.

:: Lady Tempestade, a advogada que desafiou os milicos na época da ditadura ::

O evento em homenagem ao desaparecido durante a ditadura militar aconteceu na praça que leva o seu nome, na Vila Tecnológica, Bairro Farrapos, na capital gaúcha. Foi dirigido por Ony Teresinha Pereira da Silva, advogada e líder de comunitária do bairro.

Estiveram presentes Lino e César Brum, irmão e sobrinho de Cilon, as vereadoras de Porto Alegre Abigail Pereira (PCdoB) e Luciane Congo (PCdoB), o mandato coletivo de Giovani Culau (PCdoB), a assessoria do vereador Pedro Ruas (PSOL), assim como representações do PCdoB, PT e PSOL.

Também prestigiaram o ato a Associação de Ex-Presos Politicos do Rio Grade do Sul (AEPP-RS), a Associação Cultural Desabafo, a advogada Carmen Lopes e os ex-parlamentares Raul Carrion e Jussara Cony. Carrion foi o autor da lei que criou em 2003 a praça Cilon Cunha Brum.

Após momento de falas, foram colocadas rosas vermelhas e brancas sob a copa de uma árvore, emoldurando a foto de Cilon, posta sobre o solo. O luto não se encerrou no enterro, que não ocorreu para muitos; famílias continuam na espera angustiante pela restituição dos restos mortais de seus entes queridos.

Neste sábado (9), será realizado um ato político em São Sepé (RS), cidade natal de Cilon, na praça que leva seu nome, e no cemitério, com a presença de familiares. A promoção é da Fundação Afif Filho com apoio da prefeitura do município.

O revolucionário Cilon Brum

Conforme o Arquivo da Verdade de PUC-SP, Cilon Cunha Brum nasceu em 3 de fevereiro de 1946 em São Sepé, cidade localizada no interior do Rio Grande do Sul. Era filho de Lino Brum e de Eloá Cunha Brum. Desapareceu supostamente em 27 de fevereiro de 1974, no Araguaia, em razão de sua militância no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, segundo consta, integrante do Destacamento B da guerrilha do Araguaia.

Iniciou seus estudos em sua cidade natal e concluiu o Ensino Fundamental no Ginásio Estadual Tiaraju, em 1963, aos 17 anos. Mudou-se em seguida para Porto Alegre e, em 1965, iniciou um Curso Técnico de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio N. Sra. do Rosário. Nesse colégio fez apenas as duas primeiras séries, até 1966.

Em 1969, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais “Coração de Jesus” da PUC-SP no curso de Ciências Econômicas. Em 1970, transferindo-se para o período noturno, matriculou-se no segundo ano, mas não cursou. Participou ativamente do movimento estudantil nesta universidade, chegando a presidir o Centro Acadêmico Leão XIII da FEA e a compor a diretoria do Diretório Central de Estudantes – DCE Livre da PUC-SP. Foi nessa época que ingressou no PCdoB.

Seu último contato com a família foi em junho de 1970, quando esteve em Porto Alegre; foi quando disse a seus irmãos que estava sendo perseguido por agentes de órgãos de segurança e que poderia ser preso a qualquer momento.

Nessa época foi viver em uma região próxima ao Araguaia, onde assumiu o codinome Simão, participando do movimento guerrilheiro organizado pelo PCdoB.

Segundo informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Cilon fez curso de guerrilha na região de Marabá (PA), em 1972, e seu nome fazia parte de uma lista de procurados do Destacamento de Operações e Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do II Exército (Doi-Codi), desde setembro de 1972. Segundo consta, ele estava na localidade onde o Cabo Rosa, um militar do exército que combatia a guerrilha, foi morto por guerrilheiros em maio deste mesmo ano.

:: Lady Tempestade, a advogada que desafiou os milicos na época da ditadura ::

Não há indícios conclusivos para a identificação do local de desaparecimento forçado de Cilon e da data em que isso ocorreu. As informações são díspares e os órgãos de segurança jamais assumiram os desaparecimentos e mortes na guerrilha do Araguaia.

Segundo o livro Operação Araguaia, Cilon ficou preso no mesmo local onde o irmão do Cabo Rosa servia, o soldado Adolfo da Cruz, e este era pressionado pelos seus pares a assassiná-lo para “vingar o irmão”. Ainda segundo esse livro, Cilon foi assassinado sem a presença desse soldado, pois ao retornar ao acampamento de uma patrulha e notar a ausência de Cilon, soube por seus superiores, que ele havia sido “transferido para uma base em Brasília”

Em memorial feito pelos familiares no processo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) infere-se haver fortes indícios de que ele foi morto em dezembro de 1973, em episódio conhecido como “Chafurdo de Natal”.

Contudo, os fatos referidos no Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente do PCdoB, Ângelo Arroyo, que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974, indicam que Cilon ainda estava vivo em 30 de dezembro de 1973.

A Comissão Nacional da Verdade registra que o livro Dossiê Ditadura relata o depoimento prestado ao Ministério Público Federal, em 2001, por Pedro Ribeiro Alves, o Pedro Galego, ex-guia do Exército, no qual ele afirma ter visto, ainda vivos, Batista, Áurea, Simão (Cilon) e Josias no acampamento do Exército, em Xambioá (TO). Tal depoimento indica que Cilon não morreu no dia 25 de dezembro de 1973 e que estava sob custódia do Exército brasileiro antes de seu desaparecimento.


Edição: Marcelo Ferreira