Coluna

A fadiga dos causos: cansei vocês?

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Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e seguirá contando causos em boas companhias por esse mundão - arquivo pessoal
Com meus causos aqui, aconteceu o mesmo: “Foi indo, foi indo e iu...”. Lá se foram esses anos todos

Há mais de seis anos e meio venho publicando um causo por semana aqui, no Brasil de Fato. Cada ano tem 52 semanas... quer dizer, são trezentos e tantos causos. Não imaginava que chegaria a tanto.

No início de 2017, fui chamado por uma amiga para uma reunião do Brasil de Fato, que começou com um jornal que eu assinava e gostava, e já não era mais impresso, para discutir a criação de uma emissora de rádio com noticiário diferente dessas que manipulam as informações a favor dos latifundiários, dos capitalistas, dos patrões, enfim.

:: Confira os causos da Coluna do Mouzar ::

Fui e gostei. Propus que, para dar um respiro no noticiário, houvesse um causo em cada edição. Cada vez, contado por alguma pessoa diferente, variando de região. Mas propuseram que fosse eu o contador dos causos. De início, vacilei, mas acabei topando, achando que pouco tempo depois me substituiriam.

O jogador Nunes, do Flamengo, disse uma vez: “A bola foi indo, foi indo, e iu...”. Com meus causos aqui, aconteceu o mesmo: “Foi indo, foi indo e iu...”. Lá se foram esses anos todos.

No início, eu ia à sede do Brasil de Fato uma vez por mês e gravava quatro causos, e gostava demais de ir lá. Muita gente da minha geração acreditava que os jovens de hoje são todos individualistas e desinteressados por assuntos culturais e políticos. E na redação do Brasil de Fato eu topava com dezenas de jovens inteligentes, politizados, simpáticos, militantes... E mais: a maioria do sexo feminino. Admirava muito.

Com a pandemia, parei de ir lá, passei a mandar meus causos pelo telefone, por onde continuei tendo contato com outros e outras jovens que também gostei e gosto. Admiro.

Agora sinto que depois de tanto tempo, meus causos já não são de grande interesse. Cansaram. Brinquei com a minha mulher: “Se até objetos de metal se deterioram, têm a tal fadiga dos materiais, por que não haveria uma fadiga dos causos?”.

Então decidi parar. Já passa da hora. Vou continuar vendo o portal do Brasil de Fato, muito bem feito e importante para não engolirmos notícias manipuladas pela grande imprensa. E se ocasionalmente aparecer alguma coisa que a equipe ache que vale a pena eu dar meu palpite, e eu tenha o que falar, estarei aqui.

Vocês se livram de meus causos, mas, às vezes, não totalmente de mim. Abraços fraternos à equipe do Brasil de Fato, aos leitores e aos ouvintes. Tiau.

Edição: Daniel Lamir