Paraíba

Coluna

AILTON KRENAK: uma voz indígena que se destaca

Ailton krenak no ato de protesto, em 1987, durante Assembleia Nacional Constituinte. Krenak pintou seu rosto com jenipapo. - Foto: Portal Geledés.
Ailton Krenak [...] destaca a urgência e a importância de se defender a sustentabilidade ambiental

Por Aline Vitória Alves da Silva, Raiane Dos Santos Silva, Emelyne Duarte Sales e Ana Cristina Silva Daxenberger*

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo na violação das terras indígenas. Isso se manifesta através do desrespeito à demarcação dos territórios, que resultam na devastação da vegetação. Ailton Krenak destaca-se como um opositor decidido que sempre esteve na vanguarda da defesa da sustentabilidade da natureza. Sua atuação é uma resposta à exploração caótica das terras indígenas em todo o Brasil, prática que ameaça a diversidade cultural de comunidades tradicionais. 

Ailton Alves Lacerda Krenak, conhecido como Ailton Krenak, é um destacado pensador, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro pertencente à etnia indígena crenaque. Além disso, detém o título de Professor Honoris Causa concedido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). 

Nascido em 1953 no município de Itabirinha, no estado de Minas Gerais, região do Médio Rio Doce, Krenak mudou-se para o estado do Paraná aos dezessete anos, onde adquiriu educação formal, tornando-se produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, direcionou seu foco exclusivamente ao movimento indígena, fundando em 1985, o Núcleo de Cultura Indígena, uma organização não governamental com o propósito de promover a cultura indígena.  

Ailton Krenak desempenhou um papel destacado na Assembleia Nacional Constituinte responsável pela elaboração da Constituição Brasileira de 1988. Durante esse evento, protagonizou uma cena notável ao pintar seu rosto com a tinta preta do jenipapo, em conformidade com o costume tradicional indígena brasileiro. Esse gesto foi realizado como forma de protesto contra o que percebia como um retrocesso nas conquistas da luta pelos direitos dos povos indígenas brasileiros. 

Krenak também foi cofundador da União dos Povos Indígenas em 1988, uma organização dedicada a representar os interesses indígenas em âmbito nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, um movimento visando a criação de reservas naturais na Amazônia para sustentabilidade econômica por meio da extração do látex da seringueira e da coleta de outros produtos florestais. Retornando a Minas Gerais, Ailton concentrou-se no Núcleo de Cultura Indígena. 

Ailton Krenak participou ativamente de uma série documental intitulada Guerras do Brasil, produzida em 2018 pela Netflix. Em 2000, assumiu o papel de narrador principal no documentário Índios no Brasil, produzido pela TV Escola e dividido em dez partes, que explora temas como identidade, línguas, costumes, tradições, colonização, contato com o branco, disputas territoriais, integração com a natureza e os direitos conquistados pelos indígenas até o final do século XX.

Em 2021, lançou a obra Ideias para Adiar o Fim do Mundo, que se tornou uma das mais vendidas nas livrarias brasileiras e foi traduzida para inglês, francês e alemão.

Em março de 2023, Ailton Krenak assumiu a cadeira 24, na Academia Mineira de Letras, tornando-se o primeiro indígena a integrar essa instituição. Em 5 de outubro de 2023, foi eleito para a cadeira de número 5, na Academia Brasileira de Letras, sucedendo a José Murilo de Carvalho e tornando-se o primeiro imortal de origem indígena, com 23 votos. 
 
O desrespeito à demarcação das terras indígenas é uma expressão clara da negligência em relação aos direitos territoriais dessas comunidades. Esse desrespeito, muitas vezes, resulta em práticas predatórias que impactam negativamente o meio ambiente, gerando a devastação de ecossistemas essenciais para a sobrevivência das populações indígenas e para a manutenção do equilíbrio ambiental.

Ailton Krenak, ao se posicionar como um opositor firme, destaca a urgência e a importância de se defender a sustentabilidade ambiental. Sua atuação não apenas se concentra na proteção das terras indígenas, mas também representa uma resposta consciente e engajada diante da exploração desordenada desses territórios em todo o território brasileiro.
 


Ailton Krenak / Divulgação

Além disso, a referência à ameaça à diversidade cultural das comunidades tradicionais ressalta a interconexão intrínseca entre o meio ambiente e as tradições culturais indígenas. A exploração caótica das terras não apenas compromete a biodiversidade local, mas também põe em risco as práticas e modos de vida dessas comunidades que, historicamente, têm uma relação harmoniosa com o ambiente que habitam.

Sendo assim, o aumento das violações das terras indígenas, a despeito das demarcações territoriais, ressalta a grande importância de líderes como Ailton Krenak, que se posicionam como defensores incansáveis da sustentabilidade ambiental e da preservação da rica diversidade cultural das comunidades indígenas brasileiras.

Para saber mais:
    
Ailton Krenak. Obras.

Academia Mineira de Letras.

Ailton Krenak é 1º indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras. Portal G1, 05/10/2023.

*Aline Vitória Alves da Silva é Graduanda de licenciatura em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II. Bolsista do PROLICEN e Voluntária no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). 

*Raiane Dos Santos Silva é Licencianda em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II. Bolsista do PROLICEN e ex-bolsista de extensão na área de educação. Atualmente, vem realizando estudos na área da educação étnico-racial dentro do ensino de ciências e biologia.

*Emelyne Duarte Sales é Bacharela em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II. Licencianda em Ciências Biológicas pela UFPB. Voluntária do PROLICEN e bolsista no Programa de Iniciação à Docência - PIBID, pela UFPB.

*É Professora Dra. do DCFS/CCA/UFPB. Coordenadora do Prolicen “FORMAÇÃO DOCENTE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS”. Membro do Neabi/UFPB. Doutora em Educação Escolar. Professora do DCFS/CCA/UFPB.


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Edição: Carolina Ferreira