Um dos teatros mais importantes da capital paraibana, o Teatro Ednaldo do Egypto, vinha sofrendo ameaça de extinção. O espaço já foi colocado à venda diversas vezes para uma provável destinação que se desvia dos propósitos artísticos e culturais, o que significaria uma grande perda para a cultura local.

Na última quarta-feira (13), nas redes sociais, a comunidade artística pessoense comemorou a decisão da Prefeitura de João Pessoa em adquirir o teatro de forma permanente.

A decisão é fruto de uma mobilização popular, ocorrida nos últimos meses por parte dos agentes culturais da cidade, que culminou em uma audiência pública na Câmara de Vereadores da capital, no mês de outubro, propositura do vereador Marcos Henriques (PT). Nessa audiência, encaminhou-se uma pauta de reivindicação para que a Prefeitura de João Pessoa comprasse o Teatro. 

A partir disso, uma comissão levou a proposta para América Castro, Secretária de Educação e Cultura (Sedec).

“Nós queríamos que a prefeitura assumisse a responsabilidade de gerir aquele teatro, já que há uma diretora garantindo que o teatro funcione diariamente”, comenta Marcos Henriques.

Em seguida, uma emenda parlamentar do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) foi protocolada para adquirir o imóvel. A prefeitura demonstrou interesse em adquirir o espaço baseado nos números legais levantados pela Caixa Econômica Federal. O acordo foi feito com os proprietários herdeiros do teatro, ficando no aguardo da emenda do senador Veneziano, prevista para o meio do ano que vem. Os papéis de compra e de desapropriação já estão tramitando, e a prefeitura complementará o valor para fechar o negócio.

O vereador Marcos Henriques comenta: “O Teatro Ednaldo do Egypto tem toda uma simbologia, toda uma importância. Primeiro porque os teatros precisam ser multiplicados, e não há justificativa de acabar com um mecanismo tão importante, num local em que existe tanto público consumidor de arte como o é naquela região. Acho que a prefeitura teria que construir mais teatros, em cada região, pelo menos”.

Para Lau Siqueira, ex-diretor Executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), é um momento de comemoração.

 “A comunidade artística de João Pessoa está comemorando esta decisão da Prefeitura de João Pessoa de comprar o Teatro Ednaldo do Egypto a partir de uma emenda dos Senador Veneziano Vital (MDB), e através dos encaminhamento que têm sido feitos pelo vereador Marcos Henriques, que realizou audiência pública para discutir a questão, e que tem se empenhado na negociação para que esse sonho seja realizado. O palco do Teatro Ednaldo do Egypto é um dos mais importantes da cidade, é o palco onde mais a produção local se expressa, então nós estamos muito mais do que preservando o Teatro, nós estamos preservando a memória recente do teatro paraibano e a memória do grande artista que foi Ednaldo do Egypto, que não merecia ter seu nome esquecido e ter a sua história apagada”, conclui ele.

Para Antônio Deol, diretor de teatro, é necessário mais investimento: “É um presente de final de ano para João Pessoa, eu fico muito feliz com essa notícia e é um reconhecimento para a cultura local, não só para a cidade e o estado, mas também para o país. O Teatro Ednaldo do Egypto, esse nome dessa figura tão emblemática, de certa forma valoriza a nossa cultura, estabelece uma segurança para que a gente tenha essa entidade podendo receber obras e trabalhos dos mais diversos. A gente saber que tem esse local agora, que está garantido, que ele não está sob ameaça de ser vendido para uma outra destinação que não seja a arte e a cultura. E eu espero que  a prefeitura cada vez mais invista nisso, abrindo editais e participação efetiva da classe artística e da sociedade civil”.

Patrimônio Cultural da Capital

Recentemente a Lei 14.943 – de autoria do vereador Milanez Neto reconhece o Teatro Ednaldo do Egypto como Patrimônio Cultural da Capital, e foi sancionada pelo prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.

O vereador Milanez justificou o projeto afirmando que o teatro faz parte da cultura da cidade e que desenvolvimento e preservação devem caminhar juntos.

“Não podemos pensar em João Pessoa crescer sem respeitar o movimento cultural. Essa responsabilidade é de todos nós, de todos os poderes e de uma sociedade. A terceira capital mais antiga do país tem que respeitar a sua memória e preservar mais a cultura”, destacou.

O Teatro Ednaldo do Egypto foi inaugurado em 27 de março de 1995, em homenagem ao Dia Internacional do Teatro e do Circo pelo ator pessoense, Ednaldo Gonçalves do Egypto, que era um entusiasta, admirador e fomentador das artes cênicas na Capital.

Ednaldo afirmava que, desde a infância, era fascinado pelo teatro e queria criar um espaço onde pudessem existir espetáculos, formações e apresentações artísticas. Em 2002, o ator morreu, mas o local foi mantido devido a um convênio entre os herdeiros e a Prefeitura de João Pessoa, em 2007.
 

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Edição: Cida Alves