Paraíba

ARTIGO

O “eu avisei” da natureza

"As mudanças climáticas estão na nossa rua, batendo em nossa porta, ou caras"

Brasil de Fato PB| João Pessoa |
Rua José Firmino Ferreira, no bairro do Jardim São Paulo, em João Pessoa - Arquivo Pessoal - Autor

Por Ulisses Barbosa*

Essa é a rua José Firmino Ferreira, mais adiante ela cruza com a rua Joaquim Borba Filho, que vem a ser a entrada da BR 230 para o Jardim São Paulo e Bancários, fluxo de veículos intenso, como em toda João Pessoa. O fluxo de pedestres é expressivo, já que é caminho para universidades, de um lado e do outro, além do supermercado do bairro e outros serviços. Essa rua é uma, digamos, “experiência sensorial” pra falar localmente do nosso problema: o calor extremo, que também é global. Afinal, estamos no mesmo planeta enfrentando os efeitos do aquecimento global.

Voltando pra nossa rua e a experiência que ela oferece, entre dez da manhã e três da tarde; o sol, o asfalto e o fluxo de carros e ônibus deixam uma sensação de calor quase sufocante. Como uma “sala” com  ar refrigerado, essa  fileira de “ficus”, umas das poucas árvores da rua, traz alívio na sensação de calor e nos oferece uma bela sombra. Estudantes e moradores aguardam ali os ônibus. Perceba que não existe estrutura de parada de ônibus. Apenas a placa. Esta experiência nos liga ao mundo e ao que acontece neste momento no Brasil.  As tragédias em andamento continuam.   

O noticiosos mostram os “fenômenos” cada vez mais devastadores. No norte, seca, queimadas e os grandes rios quase secos. No sul, chuvas intensas, atividades ciclônicas. Sudeste e centro oeste, seca ou chuva acima da média destroem plantações inteiras. Incêndios de grandes proporções gerando nuvens pesadas de fumaça ameaçam a população. Esses são fragmentos do que se vê, lê e ouve na mídia nacional e internacional. Embora as coberturas, em sua maioria, estejam voltadas para o sensacionalismo da tragédia, elas mostram os fatos que mesmo como malabarismo não podem ser mais escondidos, ou seja, as mudanças climáticas estão na nossa rua, batendo em nossa porta, ou caras. 

A ONU com os tratados de Paris e Kioto, alardeou avanços, mas muito pouco foi entregue. As grandes nações boicotam os tratados que assinaram pra redução da emissão de carbono e outros poluentes. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente tem uma secretaria voltada pro tema, mudanças climáticas, especificamente. Nas ações propostas tem projetos, alguns avanços e belos exemplos, mas tudo muito lento. A grande mídia, fala dos problemas, mas omite as causas e os causadores, já que anda de mãos dadas como poder econômico,  incluindo o predatório como expansão imobiliária desordenada, grilagem de terras, garimpo ilegal e monocultura do agronegócio.

O El Nino e o La Nina vão passar, mas isso não significa que a situação vai mudar. Os próximos anos serão piores. As perspectivas, análises, dados e estatísticas de várias entidades, pesquisadores e especialistas mundo afora, são alarmantes. Se as autoridades não saírem para uma ação convergente e mundial, a situação pode piorar gravemente. As crianças serão as primeiras vitimas. Fauna e flora entraram em extinção. Será um “autoapocalipse”. Claro, os ricos e as nações poderosas terão uma sobrevida, ou “subvida”, mas não irão longe. Os dados ambientais e suas “involuções” desde a revolução industrial mostram, claramente, o resultado do “confronto” entre capital e a natureza, é um 7x1 contra a vida.

O tema, com suas questões e implicações, não é novidade. Volta e meia aparece. Cria um rebuliço, alarmismo, mas tudo vira mais episódio de uma série sem fim falando do fim do mundo iminente. Ainda assim, pouco se avança. E não avança por motivos óbvios como ganância, negacionismo, exploração e até terraplanismo. Segundo os “terraplanistas” a terra pendeu pra esquerda e por isso se inclinou para o sul, por isso as águas do norte alagaram o sul. Esse tipo de idiotice circula na Internet, e tem quem acredite. Esses jamais entenderiam que um mundo é um grande organismo vivo, e tudo que acontece tem relação direta e indireta com o aquecimento do planeta.

Organismos internacionais e governos mundiais estão em dívida com o tema e a celeridade definida nos acordos e tratados. Mas na outra ponta, pra piorar o que já é ruim, temos as prefeituras das cidades, onde vivem as pessoas, que deveriam ser as principais barreiras para conter crimes ambientais, agindo na contramão. Os ataques ao meio ambiente tem a conivência dos gestores quando, por exemplo, aprovam condomínios que transformam cobertura vegetal nativa em concreto. Retiram árvores dos canteiros centrais para aumentar as vias para veículos. Tudo isso “esquenta” a cidade. 

Aqui em João Pessoa,  o prefeito pra agradar a construção civil e o empresariado, desmata, flexibiliza leis, ataca a orla e atropela o debate público sobre a questão ambiental e qualidade de vida. Não queremos uma cidade árida cheia de carros. Queremos mais árvores, mais sombras, mais rios, mais mar, mais gente como prioridade. A rua da foto é  igual a muitas ruas da capital. A experiência sensorial pode ser revivida em todas elas. As árvores fazem muita diferença.  A natureza avisou.

*Ulisses Aparecido Barbosa é radialista e jornalista; também já atuou como repórter e apresentador nas afiliadas da Globo, Record e SBT


Apoie a comunicação popular, contribua com a Redação Paula Oliveira Adissi do Jornal Brasil de Fato PB
Dados Bancários
Banco do Brasil - Agência: 1619-5 / Conta: 61082-8
Nome: ASSOC DE COOP EDUC POP PB
Chave Pix - 40705206000131 (CNPJ)

Edição: Polyanna Gomes