Paraíba

ENTREVISTA

Com aumento dos casos de esporotricose na PB, médica veterinária esclarece sobre prevenção e tratamento da doença

"É desinformação afirmar que é uma doença transmitida por gatos, os felinos também são vítimas do fungo", diz médica

Brasil de Fato PB| João Pessoa |
Gatinhos chegam a receber maus-tratos pela desinformação sobre a doença - Foto: pixabay

Nesta última semana, a Secretaria de Estado de Saúde da Paraíba (SES) divulgou dados sobre o aumento nos casos de esporotricose, uma zoonose conhecida popularmente e (erroneamente) como "doença dos gatos". Em 2022, a Paraíba havia contabilizado 237 casos notificados e uma morte. Este ano já foram 431 casos e uma morte. A SES-PB informa que o aumento é de 80% e considera preocupante.

Também nesse último mês, os casos de abandono e maus-tratos contra gatinhos tem aumentado, isso também devido a desinformação sobre a doença. Quando o fungo atinge o felino este se torna um potencial transmissor para o humano, mas não só por isso, como veremos nos esclarecimentos abaixo. 

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O Brasil de Fato Paraíba conversou com a Médica Veterinária, Valéria Rodrigues, para entender e buscar esclarecimentos sobre a doença, o tratamento e também o cuidado com o bem-estar dos nossos bichinhos de estimação.

BdF-PB: O que é a Esporotricose e por quem ela é causada?

Valéria Rodrigues: A esporotricose é uma doença causada pelo fungo do gênero Sporothrix, que está presente em ambientes que tenham matéria orgânica, por exemplo, no solo, vegetais, palha, madeira, espinhos, etc.

BdF-PB: Como saber que meu gatinho tá doente? E sobre o tratamento: como é feito e dura quanto tempo?

Valéria Rodrigues: É sempre importante observar bem o seu gatinho, principalmente se ele tem acesso a rua (o que não é recomendado). Os sintomas da doença são bem variados e se manifestam na forma cutânea ou afetando órgãos internos. As lesões aparecem após a contaminação da pele pelo fungo provocando o desenvolvimento de uma lesão inicial, semelhante a uma picada de inseto. Sendo nos gatos, os sintomas mais comuns são feridas profundas na pele, que não cicatrizam e geralmente apresentam pus. O tratamento é feito por via oral e por via tópica, com a utilização de antifúngicos específicos dependendo da necessidade do paciente, é um tipo de tratamento extenso que pode durar até 6 meses ou mais dependendo da forma clínica em que a doença aparece.


Valéria Rodrigues, Médica Veterinária / Foto: reprodução - redes sociais

 

BdF-PB: É uma doença transmitida para humanos, como acontece a transmissão? Quais as formas de prevenção? 

Valéria Rodrigues: Sua transmissão se dá pelo contato do fungo com a pele ou mucosa por meio de traumas em acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira, contato com vegetais em decomposição, contato com solo, arranhadura ou mordedura de animais doentes. De fato, é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida de animais para seres humanos, mas é uma grande desinformação afirmar que é uma doença transmitida por gatos. Os felinos, assim como outras espécies, são vítimas. E geralmente como eles tem o hábito natural de cavar eles acabam sendo os mais expostos a doença, mas ela pode ocorrer em cães e em outros animais.

BdF-PB: Quais as formas de prevenção? 

Valéria Rodrigues: Para a prevenção é importante usar vestimentas adequadas como luvas e roupas de mangas longas em atividades que envolvam o manuseio de material proveniente do solo e plantas, bem como o uso de calçados em atividades rurais. Uma boa higienização do ambiente pode ajudar a reduzir a quantidade de fungos dispersos e, assim, novas contaminações. Se o animal de estimação apresentar a doença, deve ser isolado e receber o tratamento indicado pelo médico veterinário, não devendo ser maltratado, abandonado ou sacrificado; se o animal falecer, seu cadáver deve ser cremado e não descartado no lixo, nem abandonado ou enterrado, de maneira a evitar possível contaminação do solo. E também como forma de controle é ideal que os felinos domésticos não saiam de casa, evitando, assim, que contraiam esta ou outras doenças e as transmitam, tanto para humanos como para outros animais.

BdF-PB: Quais os sintomas nos humanos? E como é o tratamento?

Valéria Rodrigues: Alguns dos sintomas em humanos são pequena nodulação avermelhada na pele, semelhante a uma picada de mosquito, lesões ulceradas com pus, ferida que cresce ao longo de semanas e feridas que não cicatrizam, além disso nos casos mais grave por acometer sistema respiratório. Em casos de contato com ambientes passíveis de contaminação e aparecimentos dos sintomas é importante procurar um médico para a realização de um diagnóstico e orientação de tratamento adequado.

BdF-PB: Existe uma época mais propicia à esporotricose ou ela pode acontecer em qualquer época de ano? Por que tantos casos aqui na cidade de João Pessoa nesse último mês?

Valéria Rodrigues: É uma doença de caráter universal, que hoje em dia, pode acontecer em qualquer época do ano. Devido as condições climáticas favoráveis a disseminação do fungo, pois tem maior incidência em clima tropical e subtropical. Também é uma doença que envolve questões de saúde pública, por também se tratar de uma zoonose.  Muitas vezes é negligenciada, com a falta de informação da população no manejo de animais que tem a doença, pois devido ao tratamento ser demorado ás vezes pode levar ao abandono de animais contaminados, causando a propagação da doença. Frisando que os gatos também são vítimas da doença, e geralmente como eles tem o hábito natural de cavar o solo e arranhar árvores para afiar as unhas acabam sendo mais susceptíveis a infecção.
 


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Edição: Cida Alves