Rio Grande do Sul

PISO SALARIAL

Centrais sindicais gaúchas protestam por votação do piso regional

Projeto encaminhado em julho segue em lenta tramitação devido a manobras da base aliada do governo Leite

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Centrais sindicais realizaram ato exigindo a votação do piso regional em frente a café onde deputados se reuniam com entidades empresariais - Divulgação CUT-RS

As centrais sindicais do Rio Grande do Sul realizaram, na manhã desta quarta-feira (18), um ato público exigindo a votação imediata do piso regional com um aumento de 9%. O ato ocorreu na frente do Café da Catedral, onde um grupo de entidades empresariais pagava um café da manhã para os deputados da base do governo Eduardo Leite na Assembleia Legislativa do RS. Os empresários estão negociando com os deputados governistas a extinção do piso regional.

:: Centrais sindicais criticam falta de diálogo do governo Leite no reajuste do piso regional ::

O projeto que reajuste do piso foi enviado com atraso aos deputados pelo governador tucano em 22 de junho, sem regime de urgência, e altera a data-base de 1º de fevereiro para 1º de maio. Ainda encontra-se em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa, onde vem sendo alvo de sucessivas manobras de parlamentares governistas, impedindo a votação.

No ato desta manhã, além de faixas e cartazes, os trabalhadores exibiram um banner, denunciando que o atraso na votação pelos deputados significa negar o direito a um litro de leite e três pãezinhos por dia para cerca de 1,5 milhão de trabalhadores e trabalhadoras que recebem o mínimo regional.

RS tem o menor piso regional

Na ocasião, o presidente da Centra Única dos Trabalahdores do RS (CUT-RS), Amarildo Cenci, disse que “os empresários querem acabar com o piso regional e hoje estão promovendo um café da manhã com os deputados da base do governo para negar os 9% do reajuste do piso regional aos trabalhadores mais empobrecidos e mais vulneráveis da sociedade gaúcha, como as domésticas”. Ele lembrou que os funcionários e as funcionárias de escolas estaduais também recebem o mínimo regional.

O dirigente sindical lembrou que “o Rio Grande do Sul paga hoje o menor piso regional na região Sul do Brasil” e criticou “as manobras de pedir vistas na CCJ, adiando a decisão para a semana seguinte, quando na verdade querem empurrar o reajuste para o ano que vem”.

O diretor do Sindicato dos Telefônicos do RS (Sinttel-RS), Marcone Santana do Nascimento, frisou que o reajuste do piso regional significa mais distribuição de renda, melhorando a qualidade de vida da classe trabalhadora.

“São muitos trabalhadores e famílias que dependem do mínimo regional. Deveria ser um compromisso de governo, independentemente de partido, repassar a inflação para repor a perda salarial que os trabalhadores tiveram no período”, salientou Marconi.

Uma questão ideológica

O presidente da Federação dos Trabalhadores da Saúde do Rio Grande do Sul (Fees-RS), Milton Kempfer, disse que “o governador não faz questão nenhuma de dar café para o pobre, pois o piso regional atinge aquelas categorias desorganizadas que precisam de um salário melhor”.

Criticou ainda a postura das federações empresariais. “É uma vergonha porque, quando é a favor do trabalhador, os empresários que também são beneficiados pelo piso regional, mas por uma questão ideológica, uma questão de não querer dar o braço a torcer, não querem que os deputados votem o piso regional”, disse.

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - RS (CTB-RS), Guiomar Vidor, reforçou a denúncia de que “as federações empresariais querem convencer os deputados a não votar o projeto do piso regional”.

“Temos em conta que, apesar desse projeto não atender o pedido das centrais sindicais, nós estamos defendendo que ele seja votado de forma urgente na Assembleia Legislativa. São mais de oito meses de espera para esses trabalhadores e trabalhadoras, que são os que mais precisam e os que menos ganham”, ressaltou Guiomar.

O deputado estadual Miguel Rossetto (PT) também participou da manifestação e comparou os valores do piso regional no Sul do Brasil. “No Paraná, que é um estado com economia e população semelhantes ao Rio Grande do Sul, os trabalhadores e as trabalhadoras de lá, desde o dia 1º de janeiro, estão recebendo o piso reajustado e lá ninguém recebe menos que R$ 1.750. Nós estamos entrando em outubro de 2023 e não tivemos reajuste neste ano. Aqui, o piso é de R$ 1.443. São R$ 300 a menos que o do Paraná”, alertou.

Base governista impede tramitação

Na reunião da terça-feira (17) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o deputado Cláudio Tatsch (PL) pediu vistas do Projeto de Lei (PL 290/2023), que prevê um reajuste de 9% para o chamado piso regional de 2023.

O apoiador de Bolsonaro repetiu o pedido feito na reunião do dia 10 pelo deputado Marcus Vinicius (PP), da base aliada do governo Eduardo Leite (PSDB), apesar do parecer favorável apresentado pela relatora, deputada Delegada Nadine, do mesmo partido do governador.

Nos últimos dois anos, os deputados empurraram o reajuste e as votações só ocorreram em dezembro. Na visão dos trabalhadores, isso favorece apenas os empresários e prejudica cerca de 1,5 milhão de gaúchos e gaúchos que recebem o piso regional.


Edição: Marcelo Ferreira