Paraíba

FORÇA POPULAR

Antes que o sol se ponha: a necessária unidade das forças progressistas em João Pessoa

"A tarefa do enfrentamento ao fascismo exige de forças progressistas populares espírito de sacrifício e unidade"

Brasil de Fato PB| João Pessoa |
As forças populares progressistas devem atuar para garantir a unidade do campo democrático - Reprodução - Movimento Brasil Popular - Redes Sociais

“Se você se conhece,
mas não conhece o inimigo,
para cada vitória ganha,
sofrerá uma derrota.”

 A arte da guerra, SUN TZU


A inegável vitória da frente ampla encheu de esperança e ânimo as filhas e filhos do povo brasileiro enfileirados nas forças populares. A sensação compartilhada por muitos, de que o fim do medo, mal estar, grito preso na garganta e faca retirada do pescoço trouxe - além de melhores condições objetivas e subjetivas de luta - um conjunto combinado de desafios estratégicos e táticos das quais destacamos dois: A organização popular com trabalho de base e a luta institucional.

Sobre o primeiro desafio, a organização popular, não aprofundaremos agora, mas faremos coro com as recentes reflexões de Frei Beto, no seu texto, “Políticas sociais mudam a cabeça do povo?” e destacamos a pedagogia de massas organizativa dos comitês populares de luta como medida fundamental para enfrentarmos o fascismo da extrema direita bolsonarista que se reagrupa, preparando novas investidas.

Já da odiada e amada luta institucional, é importante extraírmos a lição recente com nossos inimigos, de que não devemos escolher quando, como, nem onde lutar. O estágio atual da luta de classes nos põe o desafio de entender que a tarefa do enfrentamento ao fascismo exige das forças progressistas populares espírito de sacrifício, generosidade e unidade. Ocupar os espaços do parlamento e materializar um projeto para as cidades nesse momento é um desafio fundamental para evitarmos uma contra ofensiva da extrema direita, e por outro lado  fazermos avançar o programa das forças populares.

Para entender o desafio, comecemos por analisar a situação da capital João Pessoa e os últimos acontecimentos. A presença de Michele Bolsonaro recentemente na Paraíba revela um sinal importante da movimentação do núcleo de confiança do clã Bolsonaro e do PL. João pessoa segue sendo um polo avançado do bolsonarismo que não só sobrevive às inúmeras derrotas deste grupo desde outubro de 2022, como tenta sair das cordas, estabelecendo bases institucionais fundamentais para 2024.

Há de se considerar os motivos dessa movimentação tática, por trás dela existem objetivos de natureza estratégica, tanto em esfera nacional como local. Primeiro em esfera nacional o objetivo é manter o nome de Michele como possível herdeira do legado de Bolsonaro, que dada a inelegibilidade deste, já o coloca fora de jogo em 2024. Segundo, trata-se de uma capital do nordeste, que embora em termos absolutos não represente um grande contingente, traz uma enorme simbologia por se tratar de um reduto histórico do lulismo. Além do que a diferença entre Lula e Bolsonaro no segundo turno foi de pouco mais de 900 votos com vantagem para Lula. Se conquistarem a prefeitura de João Pessoa, a capital do Nordeste com menor diferença pró Lula, o objetivo de furar a bolha terá seu êxito.

Terceiro objetivo é romper a influência que  uma administração petista naturalmente tende a provocar, seja de um fluxo de apoios, como ocorreu recentemente na votação da reforma tributária, seja através da estrutura material das políticas públicas, capaz de alterar significativamente o mapa da última eleição para presidente. Lembremos que o bolsonarismo teve melhores resultados na eleição presidencial nos grandes centros urbanos. Para isso, manter uma moral elevada com vitória no próximo pleito de figuras reconhecidamente do círculo próximo a Bolsonaro, mantém o bolsonarismo vivo. Nesse caso estamos nos referindo ao paraibano Marcelo Queiroga, ex -ministro que perfila como a principal aposta do clã Bolsonaro em João Pessoa, chegando a causar tensões, inclusive, com o bolsonarista fiel, Nilvan Ferreira.

Por último, essa movimentação estratégica do bolsonarismo mira enfraquecer politicamente o João Azevedo, que embora faça um governo de composição, fez e ainda faz um importante combate aos pilares da política da extrema direita.

Em João Pessoa, destaca-se o processo crescente de acúmulo de forças sociais organizadas do bolsonarismo com capacidade de ações de rua e financiamento ao longo dos últimos 6  anos. Esse acúmulo de forças se deu tanto a partir do agrupamento de setores de inclinações fascistas quanto dos setores de uma direita mais patrimonialista que ocupou espaços nos governos

Os resultados das votações do pastor Sérgio, cabo Gilberto, Walber Virgulino, Nilvan Ferreira, Pedro Cunha Lima e Efraim Filho revelam por um lado, um limite no trabalho organizativo das forças populares progressistas como avanços significativos da extrema direita no trabalho de influência popular, ainda que pesem todas as reflexões sobre esse ponto. Da mesma forma é revelador que uma cidade com ares progressistas, em pouco  tempo tenha se tornado a porta de entrada do facismo de extrema direita. Um prognóstico nada animador para a disputa de 2024, mas perfeitamente reversível, caso não subestimemos nossos inimigos e nos lancemos de imediato aos desafios impostos pela história nesse momento.

Sabidamente o segundo turno da eleição municipal em 2020 foi plebiscitário entre a extrema direita bolsonarista de Nilvan Ferreira e a direita tradicional com Cícero Lucena, de um bolsonarismo envergonhado. O tempo revelou a mais pura essência do prefeito Cícero Lucena, que tentou assumir uma postura neutra na política geral e que agora por mero oportunismo diz ter mais identidade com Lula do que com Bolsonaro. Além de promover despejos de famílias sem teto, como o caso de Dubai, continua beneficiando o setor imobiliário especulativo com as mudanças no plano diretor da cidade, o programa ‘jampa sustentável’ que vai remover 900 famílias de 8 comunidades do complexo Jaguaribe, ou a tentativa famigerada da engorda da praia.

Os grandes problemas que afetam a maioria da população não tem sido enfrentados: unidades de saúde da família continuam com estruturas sucateadas e diversas áreas da cidade não têm acesso à atenção básica em saúde. O número de vagas nas escolas públicas municipais segue insuficiente, deixando centenas de famílias desassistidas. O serviço de transporte público é um dos mais caros e de pior qualidade do país. Como justificar tarifas tão altas com ônibus sem climatização, rampas de acessibilidade constantemente quebradas e superlotação em horários de pico?

A gestão do prefeito Cícero Lucena mantém um projeto de exclusão forjado com ameaças a catadores, ambulantes, feirantes, sem teto e pessoas em situação de rua. Além de eleger seu filho, Mercinho Lucena como deputado federal, sua maior missão nesse momento segue sendo se reeleger à custa das obras e ações dos governos estadual e federal.

As forças populares progressistas devem atuar para garantir a unidade do campo democrático derrotando definitivamente a extrema direita bolsonarista, e impedir que o projeto do setor imobiliário especulativo capitaneado por Cícero Lucena avance, utilizando as políticas do governo popular do presidente Lula como vitrine.

Para  que isso venha acontecer é necessário desde já a construção de uma candidatura própria deste campo que resgate um programa popular para João Pessoa, que devolva o protagonismo das periferias, um programa democrático e inclusivo. Eis a tarefa pra ontem, antes que o sol se ponha novamente.

*Gleyson Melo – integrante do Movimento Brasil Popular e da Direção Nacional do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD 
 

Edição: Polyanna Gomes