Paraíba

JOGADEIRA

“Um dia eu vou jogar na seleção brasileira e vou jogar com a Marta”, disse Ary Borges

Quem é a jogadora brasileira de 23 anos que fez 3 gols na estreia do Brasil na Copa do Mundo Feminina 2023?

Brasil de Fato PB| João Pessoa |
Ary Borges e Marta durante partida de estreia do Brasil pela Copa do Mundo 2023 - Thais Magalhães/CBF

Do outra lado mundo, uma jovem de 23 anos mostrou que a força do país do futebol ainda é poderosa. Ary Borges marcou três gols na estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino 2023 que acontece na Australia e Nova Zelandia. Diante de um Panamá que fazia sua primeira copa do mundo, Ary aproveitou cada jogada e espaço para entrar na seleta lista de jogadoras a marcar três ou mais gols em partidas de estreia pela seleção: Pretinha e Sissi em 1999, Kátia Cilene em 2003, Marta em 2007 e Cristiane em 2019. O Brasil venceu o Panamá em sua estreia na Copa por 4 x 0, nesta segunda (24).

“Eu estava muito emocionada, queria muito isso, e é uma honra estar nesta lista, poder cravar meu nome entre as que vieram antes de mim”, disse a jovem em entrevista após a partida.

Ary Borges ainda mostrou algo que se espera de um jogo coletivo como o futebol: estratégia e espírito de equipe, quando em uma jogada que podia claramente fazer o gol, decidiu por deixar acontecer pelos pés da companheira de seleção, Bia Zaneratto. 

Mas, afinal, quem é a meio-campista brasileira que ganha destaque e importância na nova geração do futebol feminino?


Ary marcou três gols na estreia do Brasil pela Copa do Mundo 2023 / Thais Magalhães/CBF

HISTÓRIA
Ary Borges nasceu em São Luis do Maranhão, em 1999. Nordestina, negra, mulher. O pai contou, durante entrevista pós jogo a um programa de TV, que uma vez jogou uma bola pra ela, que cabeceou brilhantemente. Ele relata que seus olhos se encheram de alegria, pois estava ali, quem sabe, uma futura estrela. A menina de sonhos grandes como o mar, carregava a bola entre os pés pelas areias das praias maranhenses. Conhecia cada palmo daquela lugar e se entrançava ela e a bola, fluindo pelos espaços abertos do seu campo natural. Desde criança já sabia quando a maré ia secar, os horários que podia treinar seus dribles, mas também sabia a batalha que iria travar pela frente. Por sorte, tinha apoio de quem lhe trouxe a vida: seus pais. 

Dino, seu pai, contou ainda que a menina resolvia tudo com a cabeça. “Era bonito demais ver ela cabecear uma bola, certeira”. E assim, a jovem abriu o placar da Copa do Mundo 2023: cabeceando pro gol, como fazia ainda menina enquanto calculava o tempo de cheia da maré nos solos maranhenses.

“Um dia pai, eu vou ser jogadora da seleção brasileira e ainda vou jogar com a Marta”, disse para Seu Dino enquanto seguiam de ônibus para os treinos. O pai, emocionado, respondeu motivando: "se você diz, filha, eu acredito". 

A família veio tentar a vida em São Paulo e, na categoria de base, a menina tinha que jogar com meninos pois não existia competição feminina que pudesse acolhê-la. Com um tempo, isso mudou. Do Centro Olímpico de São Paulo, a jovem seguiu para o Sport, em Recife; depois para o São Paulo FC e, assim, convocada para a Seleção Brasileira. Ainda passou pelo Palmeiras, e, hoje, joga numa das ligas mais reconhecidas de futebol feminino do mundo, que é a liga americana nos Estados Unidos.

NÚMEROS
Ary Borges foi campeã pernambucana pelo Sport nos anos de 2017 e 2018; também venceu  uma Copa Paulista em 2021; um Campeonato Paulista e uma Libertadores da América pelo Palmeiras, em 2022. No mesmo ano, a jovem ganhou a Copa América pela Seleção Brasileira. 

ACORDANDO PARA SONHAR
Em entrevista ao jornal The Players' Tribune, a jovem atleta afirmou que estar numa Copa do Mundo, jogando com a maior e seis vezes melhor do mundo, Marta da Silva, era uma maneira de acreditar que tudo seria possível para ela. 

“Ela é um símbolo para mim, porque há algum tempo atrás eu tava jogando bola num campinho feito pelo tio ou esperando a maré secar nas praias de São Luís e, hoje, num treino coletivo pela seleção, eu toquei uma bola pra Marta e a Marta tocou a bola de volta pra mim. Cara, se isso aconteceu, tudo pode acontecer. Por isso eu peço para a torcida brasileira, assim como acordei para meus sonhos, acorda cedo para ver a gente, acorda pra nós, olha pra nós. É o Brasil também!”, disse Ary durante entrevista.  


Seleção Brasileira de Futebol Feminino venceu o Panamá por 4 x 0 nesta segunda (24) / Thais Magalhães/CBF

Um legado de muitas histórias e trajetórias dentro do futebol feminino não caberia num só texto, mas Ary Borges, ampliando mais ainda a história, nos acordou três vezes nesta manhã de segunda-feira. De Marta, a gente fala mais na frente, pois precisamos lembrar o quão importante e emblemática é sua (r)esistência dentro de campo, mas hoje, vamos lembrar que acordamos às novas eras, por elas, por um Brasil inteiro feminino. Que não esperemos a maré secar, as martas passarem, as arys dizerem adeus, precisamos lembrar que existimos todos os dias, dentro e fora de campo, e que é acordando agora para a realidade que vamos sonhar com um belo futuro. 

Vai Brasil! 

Vamos meninas, mulheres!

Obrigada por hoje, Ary!
 

Edição: Cida Alves