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Estado de Espírito ou um consolo para o dia 12

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Festa Junina - Pixabay
Nós não somos egoístas para dar amor a apenas uma pessoa. Temos que amar várias

Por Joel Martins Cavalcante

O dia dos namorados, namoradas e namorades se avizinha (escrevo essas palavras no dia onze de junho). Como ocorre todos os anos, desde que me entendo de gente, os dias antecedentes a data magna são repletos de propaganda nas TVs, sites, lojas. 

O capitalismo, como sempre fez e fará, adota alguns símbolos (ou todos?) para gerar comoção e afetar as pessoas com o intuito de fazê-las comprar e se endividar mais ainda, diante da situação da que economia brasileira atravessa, com milhões de famílias com boletos e faturas do cartão de crédito atrasadas. A propósito, o governo federal lançou um programa para renegociar as dívidas de pessoas físicas. Vi na TV que os casais pretendem gastar mais com presentes do que no ano passado.

Para quem não sabe, o dia brasileiro reservado aos amantes, que coincide com o festejo de Santo Antônio, foi inventado pelo João Dória, em 1949, ao contrário do que ocorre em outros países onde é celebrado em 14 de fevereiro, dia de São Valentim, o bispo católico que no terceiro século celebrava casamentos em período de guerras, apesar da proibição do Império Romano.
 
Esse nome – Dória - sempre inventando, né? O filho dele, o Dória Jr. (PSDB), inventou de ser prefeito de São Paulo em 2016, prometendo ficar os quatro anos, mas que um ano e três meses depois inventou de renunciar ao cargo para disputar o governo paulista, inventou na campanha eleitoral o BolsoDória, ganhou a eleição, e inventou de se distanciar do presidente da república que o ajudou a vencer a disputa sobre Márcio França (PSB) em 2018, porque inventou que seria o próximo chefe da nação, mas depois de ter saído do Palácio dos Bandeirantes, inventou de desistir do jogo presidencial ano passado; ainda bem que Lula ganhou a eleição! Ufa, quase que não concluía o parágrafo!

Mas deixemos o capitalismo e os interesses político-eleitorais de lado e voltemos a d0ata-mor do amor na Terra de Santa Cruz. Só passei o dia 12 namorando uma única vez. Foi em 2015. Poucos dias depois veio o término. Comprei até perfume para o presentear o dito cujo e tive que pagar as parcelas alguns meses depois do fim. Para completar, em 2016, Solteirinho da Silva, enquanto todo mundo fazia declarações de amor nas redes sociais, eu fazia um texto, no meio da tarde, para anunciar a morte do meu genitor. Pois é, a data não é muito auspiciosa para mim.

Mas deixemos minhas frustações e dores de lado e voltemos ao dia de celebrar os afetos existentes entre duas ou três (trisal é tendência!) pessoas que se envolvem unidas pelo amor heros. Vi publicações recentes no Instagram e Twitter de pessoas (a maioria solteira) criticando, e outras (casadas, noivas ou namorando) expressando seu orgulho por passar o dia des namorades (vou usar apenas a linguagem neutra agora, certo?) ao lado de quem ama.

Contudo, uma publicação, em especial, prendeu minha atenção. Era alguma discussão, que nem me interessei muito, sobre estado civil, vida livre, coisas do tipo. “Rapariga não é estado civil; é estado de espírito”, disse a twitteira. Que aforismo sublime. Eu tive aquela sensação que alguma pessoa tem quando uma verdade oculta é revelada.

A vida rapariga é sem limites, amarras, longe das convenções sociais. Liberdade plena. Uso rapariga como adjetivo biforme. Não precisa da linguagem neutra para compreender o significado da palavra. Ela se aplica a todos, todas e todes. 

Ser rapariga lembra em muito a Geni de Chico Buarque. O mundo joga pedra, mas o mundo precisa dessa existência para o equilíbrio do corpo social. Quem não lembra dos cabarés de antigamente? Espaços essenciais para os rapazes terem sua iniciação sexual preservando a virgindade de suas futuras esposas. Hoje em dia quase não existe mais esses ambientes. Tempos atrás, em Colinas do Sul, bairro de João Pessoa, a polícia e o Ministério Público do Trabalho fechou um e autuou o dono por exploração do trabalho e crime de rufianismo. 

Mas a vida rapariga, antes sinônimo para profissionais do sexo, dispensa cabarés ou bares exclusivos. É possível encontrar nas redes sociais, no trabalho, no mercado e até nas igrejas. Conheci um pastor, que era exemplo de chefe de família, mas a casa de uma irmã solteira e sem filhos era seu refúgio para aliviar as tensões familiares e as do seu pastorado numa igreja pentecostal. Alguns dos sujeitos que vão comemorar o dia doze com suas paixões irão, indubitavelmente, procurar algum ou alguma rapariga para ter um momento singular, a posteriori.

Rapariga não precisa ser, necessariamente, amante. Basta não querer relacionamento fixo com nenhuma pessoa. Ir para os lugares sem amarras, sem ninguém no pé. Paquerar à vontade. Beijar com quantas pessoas quiser (e se a outra pessoa quiser também, óbvio). Dormir de conchinha por uma noite e entregar todo afeto disponível naquelas horas de prazer e carinho. Que seja infinito enquanto dure, né Vinícius?

Recentemente, uma amiga querida nos definiu. “Nós não somos egoístas para dar amor a apenas uma pessoa. Temos que amar várias. Dar amor ao próximo sempre.” Perfeito. Outra definição para ser rapariga: amar sem egoísmo. Não é estado civil; é estado de espírito; é também altruísmo!

Edição: Maria Franco