Paraíba

PROTESTO POR JUSTIÇA

Familiares de jovens baleados durante abordagem policial na PB pedem avanço das investigações

Caso aconteceu em abril quando um adolescente foi morto e outro ferido por PMs no bairro Marcos Moura, em Santa Rita(PB)

Brasil de Fato PB| João Pessoa |
Fernanda, irmã do adolescente João Victor (14) morto durante abordagem da PM em Santa Rita (PB) - Print - Vídeo Redes Sociais

Neste último sábado (27) familiares e amigos dos adolescentes João Victor (14) e Pedro Henrique (17) que foram baleados durante abordagem policial no município de Santa Rita (PB) em abril deste ano, protestaram pelas ruas da cidade pedindo que a Polícia Civil da Paraíba acelere as investigações do caso.

Fernanda, irmã do adolescente João Victor que morreu no local com um tiro no abdômem, pede que seja feita justiça pela vida do seu irmão e por todo o sofrimento que passou seu amigo, o jovem Pedro Henrique. "Infelizmente meu irmão não está mais aqui, né? Mas não quero que esse caso seja esquecido, estamos aqui por justiça, queremos justiça por nossos meninos, precisamos ser escutados e reconhecidos em nossos pedidos, isso não pode passar impune", afirmou Fernanda. 

Jacy é mãe do jovem Pedro Henrique que sobreviveu ao ocorrido, ela diz que a caminhada é para que sua voz seja ouvida como mãe e que aconteça justiça pelo seu filho que saiu da UTI recentemente e se recupera em casa. "Não existiu simulação, não existiu troca de tiro, até porque só foram dois tiros, né. Todo mundo viu", disse Jacy.


Jacy é mãe do jovem Pedro Henrique (17) que passou por três procedimentos cirúrgicos / Print -Vídeo redes sociais

ENTENDA O CASO

O caso aconteceu no dia 10 de abril de 2023, durante uma abordagem da Polícia Militar na cidade de Santa Rita.  De acordo com a PM, a vítima (João Victor) estava com uma arma falsa em uma moto, com outro adolescente (Pedro Henrique), e teria furado uma blitz. Ainda segundo os policiais, a perseguição aos adolescentes começou no bairro de Tibiri, quando foram avistados por uma viatura que fazia rondas na região. Os policias afirmam que os jovens fugiram ao ver a guarnição que informou a uma segunda guarnição, esta no bairro de Marcos Moura, que eles estavam com uma arma de fogo. 

“Quando a dupla chegou no bairro de Marcos Moura, uma segunda guarnição tentou interpelá-los, mas como eles estavam distantes, conseguiram desviar e entrar em outra rua. Porém, ao entrar nessa rua, bateram de frente com uma terceira viatura. Como eles vieram em direção à viatura com a arma na mão, na medida em que se aproximaram e não pararam, o policial atirou e atingiu eles, que colidiram na lateral da viatura e caíram”, explicou o tenente-coronel Lima, do 7º Batalhão da Polícia Militar, durante entrevista na época do ocorrido às tvs locais. 

João Victor, de apenas 14 anos, recebeu um tiro no abdomen e não resistiu; já Pedro Henrique, de 17 anos, tentando se proteger, levantou o braço e o tiro transfixou atingindo a região do estômago. Pedro Henrique ficou em estado grave, passou por três procedimentos cirúrgicos, mas hoje já está em casa, porém caminha e se alimenta com restrições e faz sessões de fisioterapia no braço. 

Fernanda, irmã de João, contesta a versão da polícia. "Na verdade eles estavam voltando da escola, e aí a polícia fez essa abordagem, mas eles tiveram medo de parar porque não tinham habilitação, iam parar em casa. Como não pararam, eles atiraram, encostou a viatura e atirou nos meninos a queima roupa. Não teve troca de tiros”, disse. 

APOIO JURÍDICO E JUSTIÇA

O Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero (CEDHOR) vem realizando o aporte jurídico e psicológico às famílias dos adolescentes e ao jovem Pedro Henrique. A coordenadora do Cedhor, Gabriela Andrade, e o advogado Suellyton Lima, pontuam que houve despreparo dos órgãos de segurança e pedem rigorosa investigação do caso.

 


Familiares e amigos dos adolescentes em protesto pelas ruas do bairro Marcos Moura, em Santa Rita (PB) / Print -Vídeo redes sociais

"Nós nos solidarizamos com as famílias e seguimos ofertando todo apoio jurídico e psicológico. É necessário uma rigorosa investigação com o acompanhamento, inclusive, do Ministério Público, e que os policiais envolvidos sejam punidos pelo que fizeram. O erro de não ter parado na abordagem, não por está fazendo algo ilícito, mas por não ter habilitação, não dá direito da polícia agir tão violentamente, desferindo tiros em locais vitais dos adolescentes, tirando a vida de João Victor e impactando na vida de Pedro que, inclusive, participaria da Solenidade do Crisma na Comunidade Católica que pertencia, dias após os disparos. Estamos cansados do extermínio da juventude pobre e periférica do nosso país", disse Gabriela Andrade.

O caso ainda está sob investigação da Delegacia de Homicídios de Santa Rita, que também apreendeu a arma apresentada pela Polícia Militar como sendo a que estava com os adolescentes. Os policiais envolvidos no ocorrido estão afastados para averiguação. Suellyton Lima, advogado do Cedhor, reforça que o caso precisa ser investigado com mais celeridade. 

"Já é o segundo movimento que a Comunidade de Marcos Moura faz sobre o caso pedindo urgência nessas investigações, estamos atuando para que esses policiais sejam realmente responsabilizados, até o momento estão afastados, mas esperamos que não tenham voltado e nem voltem até a decisão final, a qual esperamos que seja de condenação. É preciso que seja feita a justiça", informa Suellyton Lima. 

Edição: Cida Alves