Minas Gerais

FUTURO

Artigo | Zema, de extrema-direita, é ameaça aos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

"Como Bolsonaro, Zema tira dos pobres para dar para os ricos"

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Vale do Jequitinhonha
"A fala do governador demonstra a sua falta de conhecimento da região" - Créditos da foto: Nilmar Lage/Agência Pública

No dia 17 de outubro de 2017, o então candidato a governador de Minas Gerais, Romeu Zema foi questionado sobre ter dito que no Vale do Mucuri e no Vale do Jequitinhonha há mão de obra disponível e que bastaria pagar um salário mínimo e haveria filas de pessoas, e que nessas regiões é possível encontrar empregadas domésticas que aceitam receber R$ 300 por mês.

Ainda completou: "se vier uma empresa de informática para os vales do Jequitinhonha e Mucuri, ela não vai absorver um contingente tão grande de pessoas, porque são poucas pessoas que estão preparadas para essa área".

Aqui no Vale o que importa para o Zema são as suas lojas, mais de duas dúzias

Em outras palavras, não é intenção desse governador qualificar a mão de obra dos vales e sim mantê-las ainda mais no subdesenvolvimento. Quanto mais subdesenvolvido, maior e melhor são as explorações. E isso se deu na prática. A fala do governador também demonstra a sua falta de conhecimento da região, onde há bons cursos superiores na área de tecnologia, tanto em faculdades particulares quanto públicas.

Lítio: do Vale para Zona da Mata

Em 22 de maio de 2020, já como governador por mais de um ano, Romeu Zema mostrou mais uma vez para quem ele governa. Por meio de sua conta oficial no Twitter e também na página da CODEMGE, foi anunciado oficialmente que a “Primeira fábrica de células de bateria de lítio-enxofre do mundo será instalada em Juiz de Fora”.

O lítio extraído das terras do Vale do Jequitinhonha (cidades de Araçuaí e Itinga) agora será levado para quase 800 km de distância para ser beneficiado na Zona da Mata Mineira. Todos aqueles sonhos de prosperidade que tinham nessas cidades foram dados à Juiz de Fora para beneficiar ainda mais o eixo Rio-Minas-São Paulo. Ao vale do Jequitinhonha sobram apenas os resíduos e os impactos ambientais.

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O que expõe o caráter exploratório e discriminatório do governador Romeu Zema e o seu desprezo pelo Vale do Jequitinhonha.

Aqui no Vale o que importa para o Zema são as suas lojas, mais de duas dúzias, com seus empréstimos aos trabalhadores com juros que chegam a 123% ao ano, não importa como, se é moral ou não, tem que explorar os trabalhadores de qualquer forma. Em 2018, Zema declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 69 milhões, já em 2022 o seu patrimônio era superior a R$129 milhões.

Fome: Yanomamis e Vales

Uma reportagem do Fantástico (Rede Globo), em 22 de janeiro de 2022, apresentou o Brasil que voltou ao mapa da fome, com um destaque à cidade de Araçuaí (a mesma que tem seu lítio explorado). Onde há 20 anos uma mulher morreu de fome e hoje, na mesma comunidade, há moradores que anseiam pela morte para assim acabar o sofrimento e a miséria social em que vivem. Em 20 anos pouco ou nada mudou.

As recentes declarações do governador Romeu Zema não surpreendem quem vem acompanhando o cenário político estadual e nacional, ao afirmar que as suas ideias e as do ex-presidente da extrema-direita Jair Bolsonaro tem 99,5% do mesmo DNA. Paralelo a catástrofe humanitária com os índios Yanomamis e a volta da fome nas regiões mais pobres de Minas Gerais, percebemos que o DNA do governador realmente é de extrema direita.


Vale do Jequitinhonha / Vrin Resende

Diante de declarações do governador, percebe-se de fato que ele e Bolsonaro comungam da mesma ideia de governo em relação às minorias. São Robin Hood às avessas, tiram dos pobres para dar para os ricos, o caso do lítio de Araçuaí é um ótimo exemplo disso.

Se o destino dos habitantes mais vulneráveis dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ficar nas mãos de Zema já sabemos o destino.

Ediel Vieira Rangel é mestre em tecnologia e pesquisador sobre tecnologia e alienação da classe trabalhadora. Também atua como voluntário na Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais (CPT) e, desde 2016, documenta a luta no campo e comunidades quilombolas.

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida