Paraíba

ARTIGO

Qual o preço da Cultura?

'Foi com uma imensa tristeza que recebi a foto do Teatro Ednaldo do Egypto com placa de VENDE-SE'

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução - Foto: Reprodução

Por Alexandre Santos*

Foi com uma imensa tristeza que recebi a foto do Teatro Ednaldo do Egypto com placa de VENDE-SE na frente. Nesse teatro já fui produtor, público e acompanhante da minha filha.

Construído a duras penas, como missão de vida, pelo teatrólogo Ednaldo do Egypto, sua família decide vendê-lo. Devem ter suas razões - inclusive, diz-se que o atraso nos aluguéis é um deles. Porém, cadê o poder público? Cadê a prefeitura de João Pessoa @prefjoaopessoa, que alugou por tantos anos esse templo das artes e do entretenimento? Deixarão virar igreja? Deixarão virar condomínio de luxo em área nobre? Ou se tornará lava-jato, padaria, etc?

Para a lógica das grandes obras que impera na cabeça dos chefes dos poderes Executivos, não interessa a aquisição de algo pronto. Só dá despesa, não chama atenção, não rende inauguração, não gera placa ou mídia, não cria transtorno para ser visto. Por estar pronto, também não cria demanda para as construtoras, essas, sim, que mandam e desmandam na cidade.

Os poderes públicos largarão de mão o Teatro Ednaldo do Egypto, esquivando-se do mísero investimento de R$ 1,5 milhão? Isso é o troco das grandes obras que acontecem na cidade hoje.

É preciso que a classe artística se mexa ou perderá mais um equipamento cultural. A ausência de política pública, de planos de cultura e de sistemas culturais fortalecidos permite esse estado da coisa, onde equipamentos culturais inestimáveis são postos à venda em detrimento do acesso à cultura, da democratização e da própria sociedade, esta enquanto público diretamente beneficiado.

Fui produtor neste teatro, fui público, sou um pai que leva sua filha aos espetáculos, e agora dói assistir esse triste último ato de uma casa tão importante para a cultura paraibana.

Alexandre Santos é integrante do Fórum dos Fóruns de Cultura da Paraíba

Edição: Cida Alves