Paraíba

ELEIÇÕES 2022

Representação política na Paraíba ainda segue lógica do “familismo”, afirma cientista político

Dos 12 deputados federais eleitos no estado, apenas dois não estão ligados a famílias tradicionais da política paraibana

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Hugo Motta, Nabor Wanderley e Francisca Motta, três gerações da família de políticos durante campanha em 2022 - Reprodução/Facebook

Os resultados do primeiro turno de votação das Eleições 2022 na Paraíba chamam atenção pelo baixo índice de renovação dos futuros representantes no Legislativo. Além da eleição do deputado federal Efraim Filho (União Brasil) para o Senado, tanto na Câmara dos Deputados como na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) a maioria dos representantes escolhidos eram candidatos à reeleição.

Dos 12 deputados federais que assumirão o mandato em 2023, sete foram reeleitos. Já no contexto estadual, 22 das 36 cadeiras da ALPB serão ocupadas por deputados e deputadas reeleito(a)s.

Contudo, mais do que a repetição dos nomes, o cientista político José Marciano destaca a repetição dos sobrenomes que representarão o estado na próxima legislatura. Segundo ele, o resultado das eleições deste ano reforça, mais uma vez, um padrão de representação política baseado no “familismo” que se repete há décadas na Paraíba.

Familismo

O professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) observa, por exemplo, que dos 12 deputados federais eleitos, apenas dois – Luiz Couto (PT) e Cabo Gilberto (PL) – não estão diretamente ligados a famílias tradicionais da política e da elite paraibana.

“Você poderia pegar aqui a família Motta, a família Ribeiro, a família Lucena, a família Cunha Lima – representada por Romero Rodrigues –, a família Roberto, a família Carneiro, a família Santiago, a família Maia. Há também Dr. Damião, que não advém dessas tradicionais oligarquias, mas que se insere e acaba também utilizando esta lógica para não só se manter no poder mas também para estabelecer as redes de posições no estado. Até bem pouco tempo a sua esposa [Lígia Feliciano] foi a vice-governadora do estado”, pontuou.


Wilson Filho e Wilson Santiago, filho e pai eleitos, respectivamente, deputado estadual e federal em 2022 / Reprodução/Instagram

De acordo com Marciano, a lista de parlamentares eleitos neste ano demonstra que “a construção de uma candidatura bem sucedida para deputado federal na Paraíba perpassa, para além do capital econômico, essa dinâmica do capital político-familiar que esses grupos construíram”. Como exemplo, o cientista político cita o caso de Hugo Motta (Republicanos), o deputado federal mais votado do estado. Marciano lembra que Hugo é neto de Francisca Motta (Republicanos), eleita neste ano ao sexto mandato como deputada estadual e filho de Nabor Wanderley (Republicanos), prefeito de Patos. 

“Sua família [Motta] tem um reduto muito específico no sertão paraibano, que é o controle do orçamento público da cidade de Patos. Isso também pode ser observado com a família Cunha Lima em Campina Grande e com os Lucena atualmente na própria capital”, acrescentou.

“Casadinha”

Ainda sobre a influência do familismo nos resultados das Eleições 2022 na Paraíba, Marciano ressalta as práticas de “recrutamento parlamentar” e de “casadinha” de candidaturas entre os grupos familiares tradicionais do estado.

“Por exemplo, quando você tem a eleição do Wilson Santiago (Republicanos) para a Câmara Federal, ao mesmo tempo você tem como deputado estadual o Wilson Filho (Republicanos). Você tem o Murilo Galdino (Republicanos) para deputado federal e ao mesmo tempo você tem o Adriano Galdino (Republicanos) também como o mais votado para deputado estadual”, aponta.


Adriano e Murilo Galdino, eleitos deputado estadual e federal no último domingo (2) / Reprodução/Instagram

Ao comentar sobre como operam essas famílias tradicionais, Marciano explica que são grupos familiares que controlam os orçamentos públicos – principalmente os municipais – e “se articulam a ponto de formar um preposto, um representante que advenha do grupo familiar, ou que tenha parentesco com esse grupo, ou que esteja no campo da parentela”.

“É algo que nós podemos dizer que é uma característica da República Velha, mas que se reproduz na famosa República Nova. Ou seja, não é algo tão novo, mas que se expressa dentro de um padrão de representação em que o parentesco e a lógica familiar acabam sendo características”, conclui.

Edição: Maria Franco