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O que aprendemos com os caçadores?

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Reprodução - Foto: Internet
Os caçadores trazem as características dos estrategistas, suas ações visam sempre causas coletivas

Por Elisabete Vitorino e colaboração de Aldenor Souza

Para as Comunidades de Terreiro existe um orixá extremamente importante. Ele é conhecido como Caçador. O orixá é bastante cultuado nos Terreiros por todo Brasil, a importância, o simbolismo como aquele que traz o alimento para a comunidade, repudiando a escassez. Mas, as características e importância de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí -- o Caçador -- estão para além do que já foi dito. Os caçadores trazem em si as características de um estrategista, suas ações visam sempre as causas coletivas. À época anterior a 3.000 A.C., a figura dos caçadores está relacionada à destreza e à paciência.

A importância dos caçadores para a história humana que remonta aos tempos mais antigos é comprovada pela ciência atual, através de dados que afirmam que as técnicas de meditação já eram utilizadas pelos nossos ancestrais caçadores.

O cientista político estadunidense – Willard R. Johnson – em suas pesquisas sobre estudos étnicos e africanos afirmou que os caçadores primitivos para se aproximar de animais selvagens no momento da caça utilizavam das mesmas estratégias usadas na meditação, que era silenciar a mente de todos os pensamentos. Como não possuíam arcos possantes com os quais pudessem abater a presa, sendo obrigados a se aproximarem o máximo possível dela, mantendo uma distância de segurança, mantendo a atenção e esperando o momento exato de confrontá-la.

 Da mesma forma que os caçadores precisavam praticar estas habilidades para que pudessem enfrentar seus inimigos, nós as empregamos hoje nas artes marciais, como a capoeira, e nas diversas práticas meditativas, pois todas dependem de um êxtase meditativo, do esvaziamento da mente e das ansiedades autoconscientes e bloqueadoras da impulsividade. Essas práticas aperfeiçoadas por nós, descendentes dos caçadores, ainda é encontrada nos mais originais diversos grupos étnicos dos continentes americano, asiático e africano, como é o caso dos Kung San no deserto do Kalahari. 

As técnicas empregadas pelos nossos ancestrais caçadores estão na base para a sobrevivência da comunidade. A caça trazia sustento e segurança para as famílias dos caçadores. A caça é, portanto, uma das formas primitivas de trabalho. Não à toa,  em um dos orin de reverência a Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, há um trecho que diz: “- A flecha é trabalho, o trabalho do caçador é difícil.” O que nos remete ao fato de que para Ọ̀ṣọ́ọ̀sí ser tão cultuado em todo o Brasil e ser patrono de dois dos principais terreiros da Bahia – como o Terreiro da Casa Branca e o Terreiro do Gantois, ele tem uma relevância para a existência e manutenção do culto e memória dos caçadores no Brasil.

E, como dizemos nos orin a Ọ̀ṣọ́ọ̀sí, esse texto ligeiro, como suas flechas, como elas também esperamos que sejam certeiras. Ọ̀ṣọ́ọ̀sí tem o encanto de tornar tudo mais bonito. Caçar é uma arte. Ele aperfeiçoou a estratégia de sobrevivência, tornou-a uma arte. Quando vemos Ọ̀ṣọ́ọ̀sí dançar, é uma verdadeira exibição de suas habilidades de caçador. É algo que esteticamente nos arrebata. Ele guerreia como se bailasse. Seus passos e seus gestos não buscam exibir força, mas habilidade, técnica e dedicação. Como alguém que afina um instrumento, ou faz o traçado de um desenho, Ele exibe leveza e agilidade. Portanto, Ele vence as guerras como quem rege uma sinfonia.
 

Edição: Cida Alves