Paraíba

Coluna

O ARMADO DESALMADO

Imagem de perfil do Colunistaesd
Imagem ilustrativa. - FABIANO GUMIER
Por Fabiano Gumier Costa*

Diga, cidadão de bem
Apresente os argumentos
Prometo tudo escutar
Com ouvidos bem atentos
Justifique e fundamente
Como surge nessa mente
A paixão por armamentos

Escute bem, comunista,
Pacifistinha e petralha,
Exerço sim meu direito
De atirar em um canalha
Defendo a propriedade
Na fazenda e na cidade
Deito logo na mortalha!

Moço, entendo a razão
Exalando valentia
O senhor quer explicar
Com fálica covardia
Ai do cabra se atrever
Vai excelência: “Volver!”
Funeral no mesmo dia!

O mundo não é dos mansos
Vence o forte cidadão
Esses Direitos Humanos
Só protegem o ladrão
Com meu esforço e trabalho
Muito mais eu sei que valho
Passo fogo com razão

Parece até racional
Superficial, de fato,
Já que compete ao Estado
Assegurar o aparato
O dever de proteger
Não cabe ao povo eleger
Quem é gato ou morre rato

Todo mundo quer moleza
Bandidagem arretada
Eu me cuido nessa guerra
Contra gente acostumada
Tudo culpa de petista
Cotista preto e artista
Eita, racinha encostada!

Você inventa inimigos
Só fala em deus e justiça
Porém prega violência
Patrimônio e cobiça
Ter direito de matar
Sem conversa fuzilar
Com essa ética mortiça!

Ninguém mexe no que é meu
Nem aceito desaforo
Deus fiel está comigo
Meu herói é Sérgio Moro
Bolsonaro, o capitão
Dou cacete no ladrão
“Mito, Mito!” é meu coro!!

Você fala no direito
Como muitos valentões
Mas a verdade não veem
São de fato pobretões
E fantoches belicistas
De barões armamentistas
Que faturam seus bilhões

Claro que não é barato
Adquirir uma pistola
Um revólver trinta e oito
Não se compra com esmola
E nem serve pra medroso
Sei que vai ficar nervoso
Rebolando igual bichola

Demorou a aparecer
Sua feia apelação
Defender arma de fogo
Como coisa de machão
É do chumbo e valentia
Praticar homofobia
Covardia de pimpão!!

Vai dizer que tô mentindo?
É verdade e vou provar
Quando aperta algum sufoco
Vocês querem se abraçar
Minha gente vai pra guerra
E vocês da nossa terra
Nunca querem se arriscar!

Já entendi a sua lógica
De soldado americano
Quer um rifle na parede
Feito bravo veterano
Ou vai pensando que é rico
Mas montado num jerico
É um latino americano

Eu quero e posso comprar
Tenho crédito na praça
Mesmo sendo parcelado
Treino tiro e vou à caça
Bang bang bom tá liberado
O Brasil abençoado
Dou cabo da sua raça!

É fraca a filosofia
Quer armas na sua mão
Pra brincar de caçador
E atirar na direção
De gente mais pigmentada
Que morre, é executada
Pela branca guarnição

A última estrofe é minha
Pois chega de tiroteio
Você acha isso bonito
Mas eu acho muito feio
A violência vai crescer
Muitos mais irão morrer
Nesse bélico recreio!

DESARME-SE!

*Biólogo e aprendiz de escritor. Cursando Letras no IFPB. Natural de Ubá - MG e Moro em João Pessoa - PB. Os cordéis produzidos estão disponíveis no site https://www.gumier.com.br/inicio 

Edição: Cida Alves