Era para ser um momento educativo. Na manhã do Dia Internacional das Mulheres (08), a Escola Estadual Professor Olívio Pinto, localizada no bairro de Valentina, em João Pessoa, deveria ter promovido uma palestra alusiva à data, no entanto, o que ficou marcado foi a tentativa de acabar com o momento.

"Desde o dia 1° de março que nós começamos a discutir, junto à equipe pedagógica da escola, sobre a programação relacionada ao 8 de março e decidimos trazer para a escola duas convidadas, a Deputada Estela Bezerra (PT) por ter pleiteado o projeto menstruação Sem Tabu, na Assembleia da Paraíba, e Fernanda França, do canal Maria Bonita e também diretora do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Estado da Paraíba (Sintep-PB), além de uma professora da escola que começou a empreender durante a pandemia e, eu, na mediação. Nos reunimos várias vezes e tudo foi prontamente repassado para a diretora da escola. No entanto, na noite anterior à palestra, a diretora Samyres Mesquita voltou atrás e resolveu cancelar a palestra", explicou a professora da escola, Vânia Mendes, que foi a responsável pela proposta do conteúdo e das convidadas escolhidas para o momento e é coordenadora da área de linguagens da ECIT Olívio Pinto.

Vânia também conta que recebeu mensagens da diretora da escola na noite do dia 7 de março e que ficou muito constrangida em ter que cancelar a palestra com as convidadas em cima da hora. Ela contou também que discordou da decisão e avisou a diretora que manteria a palestra, já que essa foi debatida e construída em concordância com a coordenação pedagógica da instituição. "Nós trabalhamos durante o carnaval. Dia 1° de março estávamos na escola trabalhando, discutindo a proposta. A diretora, infelizmente não esteve presente neste momento, no entanto, foi avisada de absolutamente todas as nossas decisões e debates, então não há justificativa para tal ação", completou Vânia.

A palestra estava no início quando começou o tumulto em torno do microfone. A deputada Estela Bezerra (PT) estava saudando os estudantes e à escola pela iniciativa e ao começar a falar sobre o projeto Menstruação Sem Tabu, de sua autoria, foi interrompida várias vezes pela diretora da ECIT Olívio Pinto, Samyres Mesquita, que pedia que ela deixasse de falar e entregasse o microfone. Estela pediu que desse apenas 10 minutos para concluir sua participação, no entanto, a solicitação foi sem sucesso e as interrupções continuaram.

Em rede social, a Escola ECIT Olívio Pinto se pronunciou, na noite do dia 7 de março, dizendo que a palestra havia sido cancelada.

Nota de Esclarecimento Olívio Pinto. / Reprodução

Segundo um dos integrantes da equipe da escola, a diretora estaria afastada, formalmente, por alguns dias para tratar de questões de saúde, no entanto, mesmo assim compareceu sob atestado médico para a palestra no dia 8 de março. "O que aconteceu comigo foi censura. A diretora deve ter recebido determinação expressa de seus superiores para cancelar a atividade. Como ela não conseguiu cancelar, pois as professoras mantiveram a atividade, ela teve que ir pessoalmente até a escola fazer de tudo para interromper minha participação", opinou a deputada Estela Bezerra (PT). 

Durante o ocorrido havia cerca de 80 estudantes no ginásio da escola, alunas e alunos do 1°, 2° e 3° ano, do ensino médio. Grande parte destes pediram para que a fala da Deputada continuasse, já uma parte mais reduzida, a dos alunos protagonistas (projeto que estimula os estudantes das escolas cidadãs) tratou de se posicionar junto à diretora.

Estela Bezerra (PT) disse que não pretende tomar medidas para judicializar o que aconteceu, no entanto, afirmou que vai pedir informações e abrir diálogo institucional a respeito da situação da educação no estado da Paraíba.

O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Estado da Paraíba lançou nota pública ainda na terça (08), afirmando que o ocorrido tratou-se de censura e que "a gestora da escola, em ato de censura e sem nenhum motivo plausível, informou que foi orientada pela Secretaria de Educação para cancelar o convite às convidadas, a deputada Estela Bezerra e a diretora do Sintep, Fernanda França. Foi claro ato de censura, falta de democracia e total desrespeito a liberdade de cátedra dos professores", afirmou. A nota do Sintep-PB também cita a indignação de uma das professoras da unidade, Érica Mantovani. "Às 21h de ontem, fiquei sabendo pelo instagram que as convidadas foram ‘desconvidadas’ pela gestora sem que tivesse se estabelecido qualquer tipo de diálogo entre a mesma e as professoras que estavam promovendo o evento", disse a professora.

O Sintep-PB ainda afirma que a justificativa posterior da gestora, de que ela não tinha sido comunicada oficialmente do evento, não se aplica por existir mais de três professores testemunhas de que ela tinha total ciência do encontro.

Entramos em contato com a diretora da ECIT Olívio Pinto, Samyres Mesquita, no entanto, não recebemos resposta sobre a sua versão dos fatos. Assim que recebermos, atualizaremos a matéria.

Veja a seguir o vídeo completo da situação abordada, aqui, nesta matéria:

Vídeo da palestra sobre o dia internacional das mulheres na escola ECIT Olívio Campos / Reprodução.

 

Edição: Heloisa de Sousa