Paraíba

FERIDA HISTÓRICA

Artigo | Sobre nazismo e a desanificação  

A esquerda jamais defendeu a liberação do nazismo em nome da liberdade de opinião

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Monark e Kim serão investigados por eventual crime de apologia ao nazismo - Reprodução/YouTube

Andei lendo opiniões estapafúrdias, neste debate sobre o Monark, o Kim Kataguiri e o Flow, dizendo que a esquerda tem historicamente uma posição de defesa da liberação do nazismo, em nome da liberdade de opinião.

Quem teve essa posição na Alemanha no pós-guerra foram os ordoliberais, jamais a esquerda. É importante, neste aspecto, acompanhar o debate sobre a “desanificação”. Enquanto a esquerda defendia o julgamento dos nazistas, os liberais adotaram uma posição ambígua de acabar rapidamente os processos após a punição das lideranças públicas nazistas mais evidentes.

Neste aspecto, a posição dos Estados Unidos foi fundamental: no imediato pós-guerra, a posição dos Estados Unidos era pela desanificação. Com a guerra fria, prevaleceu outra posição, de terminar imediatamente os processos (passar o pano) em nome da “luta principal” contra o comunismo.

George Kennan, o pai da “políticas de contenção” que começam a guerra fria, era muito claro: vamos acabar com esses processos, dizia ele, agora é outro momento. Muito diferente era a posição da RDA. Aliás, que tá ficando muito longo, é exatamente a denúncia dessa ferida histórica que moveu a esquerda mais radical alemã em 1968 (que na Alemanha foi quente): para ela,  a República federal, por haver conciliado, continuava um aparelho de Estado infestado de antigos nazistas.

 

*Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Heloisa de Sousa