Paraíba

29 DE JANEIRO/TRANS

Visibilidade e Justiça

"A data da visibilidade trans é oportuna para uma proposta de ressignificação e mudança de valores"

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Página - Foto: Giorgia Prates

*Cleber Ferreira

Todos os anos, o 29 de janeiro manifesta em nós uma dimensão especial da nossa existência: rememora a visibilidade das pessoas travestis e transexuais no Brasil. Em 2004, quando em épocas democráticas, o Ministério da Saúde lançou a campanha: “Travesti e Respeito”, cujo intuito era a prevenção da AIDS e acesso à saúde para travestis. Assim iniciou-se, também o debate sobre a existência de pessoas que não se sentem reconhecidas com o seu gênero biológico.

Antes de tudo, sabemos que gênero é um conceito amplo, mas em linhas gerais: o gênero é o comportamento e a identidade de uma pessoa e não está ligado à aparência ou ao corpo. A identidade de gênero não possui relação alguma com o genital, mas com atitudes do sujeito sobre seu corpo e sua maneira de se colocar no mundo.


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Atualmente existem as identidades de gênero masculina e feminina que podem ser reivindicadas por pessoas trans: aquelas que mudaram sua identidade de gênero desconsiderando o fator biológico, diferente das pessoas cis que são de acordo com os gêneros de nascimento. 

À parte da transgeneridade e cisgeneridade há a não-binaridade, tal conceito amplia ainda mais o debate sobre gênero, pois as pessoas não-binárias, em sua maioria, não reivindicam gênero fixo ou sequer assumem um gênero oposto ao biológico.

A data da visibilidade trans é oportuna para uma proposta de ressignificação e mudança de valores, pois além de estarmos atentos à dignidade de travestis e transexuais devemos defender seus direitos principais: (1) respeito à identidade de gênero; (2) chamá-los por seu nome social correspondente; (3) incluí-los nos espaços de trabalho e (4) garantir o seu acesso à dignidade.

O dossiê da ANTRA, articulação Nacional de Travestis e Transexuais, revela que em 2021, 140 pessoas trans foram vítimas de homicídios bárbaros – 135 travestis e mulheres trans e 5 homens trans, segundo Bruna Benevides, militante da ANTRA e a responsável pela elaboração do dossiê, ela declara que é um aumento preocupante face ao contínuo abandono e descaso com nossa população. 

Dossiê Assinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2021 - Bruna G. Benevides - ANTRA - 2022

O caso de Roberta da Silva que teve seu corpo incendiado por um adolescente na cidade do Recife em junho de 2021 chocou todas as pessoas, porém ao passar de um mês nada mais é denunciado e a morte de uma pessoa passa a ser naturalizada.


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A pandemia do novo coronavírus potencializou as vulnerabilidades das pessoas sem renda, e claro, mais uma vez as travestis e transexuais são negligenciadas. Desde o início da pandemia, na cidade de João Pessoa, a instituição Aspttrans, antiga ASTRAPA, distribui mensalmente 200 cestas básicas às mulheres trans, travestis, homens trans e até atendem outras identidades como gays, lésbicas e héteros em extrema necessidade.


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É necessário reconhecer que na campanha SOS TT, que a Aspttrans tem empreendido, os apoios foram indispensáveis, uma das apoiadoras foi a da cantora Elza Soares, que faleceu no dia 20 de janeiro, não só dela, mas a campanha ganhou muitos colaboradores e apoiadores como a Arquidiocese da Paraíba. 

Segundo Andreina Gama, presidentra da Aspttrans, a maior preocupação é assistir as meninas no período de vulnerabilidade e exposição devido à pandemia. Para conhecer o trabalho da Aspttrans e colaborar, acesse as redes socias: @aspttranspb e @lgbtqiaresistencia no instagram.

*Cleber Ferreira Silva é professor, militante do MEL e dos Direitos Humanos para a população LGBTQIAP+

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato PB.

Edição: Cida Alves