Minas Gerais

DESESPERO

Moradores de Macacos (MG) reabrem estrada para rota de fuga, mas poder público fecha

Comunidade está isolada e sem água há cinco dias. Quase todas as vias de acesso têm áreas de risco

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Acesso ao distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), foi interrompido pela água - ©Arquivo da Comunidade / Publicação autorizada

Moradores do distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), realizaram na tarde de sexta-feira (14) um protesto para denunciar ações da mineradora Vale, que estão deixando a comunidade ilhada e sem água há dias. Na mesma hora do ato, uma estrada reaberta pelos moradores na quinta (13) foi fechada por um trator, com apoio da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal.

A estrada do Engenho, uma via antiga dos moradores da região, estava fechada por determinação da Defesa Civil por estar localizada na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem B3/B4, da Vale, que está em nível 3 de insegurança. Com as outras vias interditadas, os moradores questionam o fechamento da estrada.

“A alegação da Vale é que é uma via perigosa porque passa dentro da ZAS. Ora, todas as vias de Macacos passam na ZAS”, questiona Fernanda Tuna, professora e moradora de Macacos. “A que está todo mundo usando para sair daqui, eu inclusive usei ela ontem, é cheia de placas de zonas de inundação”.

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A comunidade do Engenho, principal afetada com o fechamento da via, tem o seu trajeto aumentado em cerca de 30 quilômetros para sair da localidade. No caso de um rompimento, a população teria de passar por zonas de inundação, segundo relata o engenheiro ambiental Felipe Gomes, assessor da vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT), que tem acompanhado a situação.

"A estrada do Engenho foi aberta para permitir que a população do Engenho, no distrito de Macacos, saia com menos risco. O atual trajeto passa por diversas zonas de inundação. Aumenta em cerca de 30 km o trajeto, enquanto por essa estrada são apenas 3 km até a MG 040. Entretanto a Vale mantém a estrada fechada junto com a Defesa Civil”, reforça Felipe.

A Vale foi questionada sobre a denúncia, mas não respondeu.

Estrada Campo Costa pode ser uma saída

Na manifestação desta sexta-feira, uma das pautas da comunidade foi a liberação das outras vias de Macacos, principalmente a estrada Campo do Costa. De acordo com a moradora Fernanda, a via é uma rota de fuga segura, mas passa dentro do território da mineradora. A reivindicação é que a empresa faça a pavimentação, sinalização e iluminação da estrada e a torne de livre acesso.

Outras demandas têm relação com a solicitação de que a Vale forneça informações, estudos e documentos acerca das condições das barragens, do muro e do cenário em geral em Macacos, e o urgente restabelecimento do abastecimento de água no distrito.

Captação de água de Fechos

A adutora de captação de água de Fechos, da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), rompeu na segunda-feira (11), causando a paralisação do abastecimento à comunidade. Questionada, a Copasa informou que o abastecimento está sendo feito por meio de caminhões-pipa, que são limitados devido às condições das estradas no local, muito danificadas pelas chuvas e enchentes.

“Técnicos da companhia trabalham ininterruptamente para que a retomada da operação do sistema ocorra o mais breve possível”, afirmou a estatal.

A água que chega ao distrito é insuficiente e moradores têm feito rateamento para a compra de caminhões-pipa, de forma particular.

Alagamento em consequência do muro da Vale

A comunidade de Macacos passa por uma série de situações absurdas por conta da presença de barragens na região. Cercado por sete barragens, o distrito está sem rota de fuga segura em caso de rompimentos. A barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale, desde 2019 está em nível 3 de insegurança, o mais alto possível.

O isolamento acontece devido a um muro, construído pela Vale no final de 2020, e que está causando a obstrução de pontes e estradas. A parede gigantesca é mais alta que um prédio de dez andares e foi construída no curso do Ribeirão Macacos para conter possíveis rejeitos da barragem B3/B4. Os moradores também estão sem atendimento médico, transporte público suspenso e chegaram a ficar 30 horas sem energia elétrica.

Edição: Elis Almeida