Paraná

FEMINISMO POPULAR

ARTIGO. Sobre textos machistas circulando via Whatsapp

"Sou mulher e ninguém me define, e definitivamente não vai ser um homem que vai me definir"

Ponta Grossa (PR) |
"Sou mulher, sou o que sei ser, e sofro de tudo que uma mulher pode sofrer" - Foto: Giorgia Prates

Primeiros dias de 2022 e aqueles textos de anos atrás voltam a circular nas redes sociais. Eu amo um textão! Amo pensar, repensar, refletir. Porém, gosto mais ainda de fazer tudo isso escrevendo e vez ou outra dividindo minhas reflexões, em conversas e/ou publicações.

Estamos tão acostumadas a receber textos, vídeos, memes... e compartilhá-los, que nem nos damos tempo de entender de fato a mensagem. Somos envolvidas nessa coisa chamada “tempo líquido” onde nada é feito para ser sólido o suficiente para nos fazer refletir.
Então vamos ao texto “renascido” em 2022, atribuído ao jornalista Arnaldo Jabor. Começa assim: “É melhor você ter uma mulher engraçada do que linda, que sempre te acompanha nas festas, adora uma cerveja, gosta de futebol, prefere andar de chinelo e vestidinho, ou então calça jeans desbotada e camiseta básica”.
Minha deusa me socorra!
Um texto machista, misógino, um texto que alimenta a comparação entre mulheres que vão a academia e mulheres com “uns quilinhos a mais” (palavras dele). Em que cuidar do corpo é coisa de mulher fútil, que diz que mulher bonita é burra! Em que um homem quer ter uma mulher para ele dizendo que mulher bonita não é engraçada, que mulher boa é aquela que está à disposição para ir a qualquer festa, mulher bacana mesmo seria aquela que bebe cerveja, que gosta de futebol, que usa chinelo e não salto. Para ele existe a “mulher perfeitinha que não curte nada”.
Eu hein! Me livre dessa coisa que quer me enquadrar em A ou B ou em A versus B. Sou mulher, sou o que sei ser, e sofro de tudo que uma mulher pode sofrer. Sou um ser humano com muitas atribuições e não quero ser capaz de dar conta de tudo não, só faço o que posso. Não quero olhar pra uma mulher e julgar seus gostos, suas atitudes, seu comportamento, seu corpo, seu cabelo, seu estilo.
Se eu fizer isso deixo de ser quem sou, eu sou mulher e ninguém me define, e definitivamente não vai ser um homem que vai me definir. Eu, mulher, não tenho o direito de fazer isso com nenhuma mulher. “Se eu não tivesse me definido para mim mesma, teria sido esmagada pelas fantasias que outras pessoas fazem de mim e teria sido comida viva”, dizia Audre Lorde.

Edição: Pedro Carrano