Minas Gerais

CRÔNICA

Artigo | "Homens de bem" ou histórias de fantasmas para gente grande!

Nas condutas desses homens se veem tracejadas, também, as feridas da nossa sociedade que sangram nas entrelinhas

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
"Nas condutas desses homens se veem tracejadas, também, as feridas da nossa sociedade que sangram nas entrelinhas" - Divulgação

Narrar o cotidiano dessas histórias que nos atravessam e que nos fazem olhar para as contradições que também nós trazemos, tem sido a grande beleza do novo livro de Luciano Mendes, "Homens de bem". 

Ao longo de sua narrativa, nesses homens grafados estranhos e tão familiares, encontramos o medo e o seu gesto fúnebre: a perseguição e medo da liberdade. A força dessas histórias que o cotidiano captura coloca em xeque toda masculinidade pretendida e recupera a coragem de se enfrentar diante de um mundo torto escrito para tipos padronizados e afeitos à métrica.

Não deixemos dormir quem não nos deixa sonhar

Nas condutas desses homens se veem tracejadas, também, as feridas da nossa sociedade que sangram nas entrelinhas. Ao mesmo tempo em que o autor faz curar, pela palavra, a covardia da cultura. Diante de nós, erguem-se homens que bem poderiam ser "histórias de fantasmas para gente grande"! Na banalidade do encontro e da conduta prescrita, aparecem o gozo e o desejo sem nome: ali, à distância de uma janela e de uma marreta, em um dia de trabalho, por um momento de descuido - onde a vida aparece. 

A preocupação com o cenário e contexto que todos os leitores poderão encontrar no livro, encena não só a criatividade do autor, mas a perspicácia em perceber o movimento das pessoas no mundo, jamais sem o próprio mundo que as conforma, na roda-viva da vida. 

Luciano Mendes nos lembra que o bem estará sempre além da aparência

Luciano Mendes, neste belíssimo livro, nos lembra, mais uma vez, que o bem estará sempre além de qualquer aparência, cuja descoberta começa quando termina o livro. 

O sentimento de uma esperança triste que talvez nos alcancem durante sua leitura vai logo dando lugar para novas formas de imaginar as circunstâncias dos tempos. Nos enchendo de outros horizontes menos perversos e medíocres e nos despertando para uma luta necessária, capaz de "não deixar dormir quem não nos deixa sonhar". 

 

João Victor Oliveira é editor do Jornal Pensar a Educação em Pauta

 

Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

 

Edição: Elis Almeida