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Terceira via ou Plano B?

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Charge de André Dahmer - Ilustração
Historicamente o fascismo sempre foi o Plano B da burguesia

Historicamente o fascismo sempre foi o Plano B da burguesia, uma espécie de segundo time de arruaceiros na sociedade civil prontos para assumir o poder de Estado. Tanto Hitler (1933) como Mussolini (1922) assumiram o poder no cargo de primeiro-ministro em crises terminais do regime parlamentarista, a chamado do presidente Gal Hindenburg (Alemanha) e do rei Vitor Emanuel III (Itália). Nem Hitler nem Mussolini deram o golpe militar bonapartista clássico à maneira dos generais latino-americanos. Assumiram por dentro das regras do sistema político vigente, com o apoio da maioria parlamentar, e logo passaram a endurecer e criar a institucionalidade de uma ditadura. Neste sentido, nos termos de Gramsci, a estratégia número um dos fascistas, ao contrário do senso comum, é de guerra prolongada ou de posição, com um momento militar de reconstrução do Estado e não uma rápida guerra de movimento ou blitzkrieg.

É engraçado quando leio que a câmara federal foi leniente com Bolsonaro por 28 anos. As pessoas se iludem e não compreendem que uma esquisitice bizarra como Bolsonaro estava no pacote na transição transada de 1988, que nunca, em que pese a hibernação do Senhor Urso, liberou o país totalmente da possibilidade de uma tutela militar. Basta arguir a letra – nem falo das interpretações de “poder moderador” imperial à lá Ives Granda Martins – do artigo 142. Afinal de contas, está lá escrito que cabe às forças armadas, e não ao presidente da república, “... a defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem” (Artigo 142 da Constituição Federal).

O “Plano B” Bolsonaro estava ali – mas poderia ser qualquer outro que a deusa Clio olhasse complacente –, produzindo gargalhadas em programas de auditório, para uso quando devidamente necessário quando fosse necessário virar “Plano A”. A “necessidade Bolsonaro” surgiu exatamente na oportunidade da crise do sistema político (atenção, não resumo a questão do regime político à querela do “pacto de governabilidade” em torno da constituição de 1988), que começou nas confusas manifestações de 2013, mas cujas principais sequências foram o golpe continuado do impeachment de Dilma, a prisão e cassação de Lula e a eleição de Bolsonaro. 

Evidentemente, a vitória de Bolsonaro foi uma surpresa que não estava posta no começo do processo de crise, em 2013. Ele credenciou-se durante a crise orgânica de representação do sistema político no bojo do movimento de massas pelo impeachment de Dilma. De Plano B virou Plano A e os tucanos de Plano A viraram Plano B. Digo mais: apesar das reservas de alguns setores burgueses, Bolsonaro continua o Plano A nas eleições de 2022.

De tudo isso pode-se apurar que “terceira via” (nem Lula, nem Bolsonaro) é uma marca de fantasia. Não foi por acaso que políticos tidos hoje como de “terceira via” como João Dória e Eduardo Leite do PSDB votaram em Bolsonaro, Moro e Mandetta foram ministros de Bolsonaro (Ciro Gomes, um caso a parte, é conversa que deixo para outro texto).
 

*Jaldes Meneses é Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Heloisa de Sousa