Paraíba

Vamos pra Cuba

Artigo | Em Cuba, incentiva-se as crianças com livros e não com armas

Relatos de uma viagem a ilha revolucionária que tem muito a nos ensinar

Brasil de Fato | João Pessoa-PB |
Crianças cubanas - Foto Divulgação

Eu estive em Cuba em 2017 e o que vi e vivi vão marcar para sempre a minha existência!

Crianças em tempo integral em escolas. Hospitais de qualidade em grande quantidade. Universidade de alto nível. Gás e luz, gratuitos. Criminalidade zero.

Aliás, devo dizer que no primeiro instante em que ziguezagueei pela cidade, estranhei a ausência de crianças. No entanto, às 17h, as ruas se coloriram com “el ninõs e ninãs” deslizando malinhas com seus livros e pertences escolares. Fiquei siderada ao vê-las desacompanhadas de adultos. As crianças vão e voltam sozinhas da escola, simplesmente porque estão próximas de casa e as ruas são seguríssimas. Lá incentiva-se o uso de livros e não de armas.


"Esta noite milhões de crianças dormirão na rua. Nenhuma delas é cubana" / Vitor Teixeira

E o que dizer da culinária local? Empanadillas de frango ou caranguejo, ceviche, kebabs de camarão, comida crioula, ropa vieja (picadinho), carnes grelhadas e peixes de todo tipo, banana frita em lâminas transparentes (como se fora batata frita) e lagostas gigantescas. Pude comê-las a 4,50 euros. Sim, é melhor levar euro, a cotação é bem melhor que a do dólar. Turistas pagam tudo muito mais caro, por qualquer produto consumido na ilha. Cubanos usufruem de uma tabela de preços infinitamente menor. Soube que antigamente não frequentavam restaurantes de luxo. Em 2017, porém, havia uma clientela equilibrada de nativos e estrangeiros nesses estabelecimentos.

A música cubana é um espetáculo à parte, confere um clima eletrizante à paisagem urbana. Está entre as quatro melhores do planeta, segundo Antônio Carlos Jobim. O sotaque latino do jazz cubano é a oitava maravilha do mundo. Tive a oportunidade de ouvir um de seus gigantes, Paquito de Rivera, no Blue Note em NY. Inenarrável! 

Há um clima acentuadamente boêmio em Havana. Existem desde sofisticados clubes de jazz como o Café Concierto Gato Tuerto, La Zorra y El Cuervo, Jazz Café até bares e congêneres espalhados por toda parte. Todos maravilhosos. La Bodeguita Del Medio é tipo um pé sujo (inicialmente era uma bodega mesmo), muito ao gosto de jornalistas, intelectuais em geral. Foi muito frequentada por Neruda, Guillén, Garcia Márques, Carpentier, Hemingway, Nat King Cole etc. As paredes são cheias de autógrafos, grafites e fotografias dessa gente e de mortais como nós. Aliás, o imortal Hemingway viveu 20 anos em Cuba. Partiu em 1960 e suicidou-se no ano seguinte. Há marcas dele por toda Havana.


Elizabeth Maia na La Bodequita del Meio / Arquivo pessoal

A literatura cubana dispensa apresentações. E para calar as más línguas que atacam recorrentemente o sistema político, cito apenas dois escritores que me ocorrem no momento, Pedro Juan Gutiérrez e Leonardo Padura, ambos críticos do governo cubano. Padura é um expoente da literatura contemporânea e já recebeu inúmeros convites para morar na França, no Brasil, na Inglaterra e simplesmente recusou, porque sua grande inspiração é seu país. Ele está vivíssimo, não está preso, continua escrevendo e dando entrevistas. Minha querida amiga Rosa Freire d’Aguiar Furtado já traduziu livros dele e fez inúmeras entrevistas com ele. Tudo isso acontece nas barbas do país que mais vilipendiou Cuba.

Sobreviver sob o brutal bloqueio econômico imposto à ilha pelos imperialistas, não é para qualquer país. Precisa ter revolucionários de fibra como José Martí, Fidel, Che, Cienfuegos, Frank País, Garcia Morales, Célia Sanches Manduley e tantos outros que minha fraca memória não deixa lembrar.
Ditador sanguinário foi Fulgencio Batista, entreguista e mais americano do que o pior dos republicanos. Mas, Batista foi expulso para sempre em 8 de janeiro de 1959?


Celia Sánchez (direita), com Vilma Espín, Fidel e Raúl Castro nos tempos de Sierra Maestra / Arquivo/El Nuevo Herald

Tem pobreza em Cuba? Tem. Ainda tem desigualdade social em Cuba? Tem. Tem analfabetismo em Cuba? Zero. Você tem medo de sair às ruas nas madrugadas musicais? Tem medo de caminhar livremente pelo Malecón? Jamais. Tem pobreza no país que se quer mais rico e mais poderoso do mundo? Muita. Você se sente seguro em caminhar de madrugada na 5ª Avenida? 

DU VI D Ó DÓ!

Vamos pra CUBA!

*Elizabeth Maia, Filósofa e professora aposentada da UFPB.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Cida Alves