CRUELDADE

Artigo | Opressão das armas e da caneta

O tema da propaganda do governo federal no dia 28 de julho de 2021 é a violência

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Era para ser dia do agricultor, mas o que apareceu foi um caçador. - Twitter/Reprodução

“Estude, pois a enxada é mais pesada que a caneta.”  No governo Bolsonaro o que mais tem pesado é a caneta, ela oprime a Agricultura Familiar, que produz mais de 70% do alimento que chega à mesa dos brasileiros, em alguns municípios, esse percentual pode chegar a 85%. Ocupa 23% das terras agricultáveis do País, representa 77% dos estabelecimentos agropecuários. [1]

Durante a pandemia, a Agricultura Familiar não recebeu nenhum incentivo, é interessante que foi o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quem doou alimentos para aqueles que ficaram em situação de insegurança familiar. Quem de fato produz alimento não recebe nada, além de opressão e violência.

Voltamos ao mapa da fome de acordo com pesquisa realizada pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília cerca de 125 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar.[2] 

Violência é esse o tema da propaganda que o governo federal, no dia 28 de julho de 2021, utilizando a imagem de um caçador portando uma espingarda em savana africana, adquirida em um banco de imagens pagas, o governo Bolsonaro demostra todo seu escárnio pelo agricultor, um exemplo da opressão da caneta, que tem sido usada como arma. Mas este governo não usa metáforas é uma linguagem mais direta, essa imagem quer mesmo mostrar a face violenta e cruel de um governo que não valoriza a agricultura e também processos que garantem a segurança alimentar, mas enaltece a violência praticada pelos donos de grandes latifúndios.

Em 18 de setembro de 2019, foi sancionada a Lei 13.870/19 que autoriza o produtor rural que tenha posse de arma de fogo a andar armado em toda a extensão de sua propriedade rural, e não apenas na sede da propriedade, como era antes. Naturalmente que pessoas ligadas ao MST não estão inclusas nesse grupo.

Em 14 de agosto de 2020 de forma violenta e truculenta  a Polícia Militar de Minas Gerais, despejou 14 famílias sem-terra, o Quilombo Campo Grande, localizado em Campo do Meio, no sul do estado de minas Gerais,  essa ação é um símbolo  de um conflito que abrange todo país: o antagonismo entre a reforma agrária, a agricultura familiar e camponesa,  que recebe apoio dos movimentos sociais  que lutam pelo direito à terra contra o latifúndio e o agronegócio que tem sua própria bancada e recebe apoio do atual governo.

Diante de tanta violência, seja ela simbólica (fome) ou concreta (armas) eu mudaria a frase que iniciei esse texto para a seguinte: Estude para que a caneta não pese mais que a enxada e se transforme em arma cujo alvo sempre serão os pobres.

A imagem usada pelo governo Bolsonaro não representa os agricultores e agricultoras, mas a morte, o grande símbolo desse governo.

[1] www.agroecologia.org.br; www.calendarr.com/

[2] Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/04/13/Qual-o-quadro-de-inseguran%C3%A7a-alimentar-no-Brasil-da-pandemia

 

*Rosiane Cruz, oriunda da agricultura familiar, mestre em Direitos Humanos

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Heloisa de Sousa