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Quem se beneficia com o crescimento do PIB brasileiro?

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Quem ganha com o crescimento da agropecuária no Brasil? - Divulgação
o que é bom para um certo grupo não será necessariamente bom para outro

As notícias sobre Economia nesse último mês falam sobre o crescimento do PIB nos primeiros três meses do ano de 2021. No início de junho o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021 em relação ao trimestre anterior (três últimos meses de 2020). No nosso imaginário, crescimento do PIB é coisa boa, não é? Mas antes de começarmos a qualificar aspectos da conjuntura, devemos ter em mente que nada é essencialmente “bom” ou “ruim” na economia. Sempre vão ter classes sociais a se prejudicar ou se beneficiar com os fenômenos econômicos, ou seja, o que é bom para um certo grupo não será necessariamente bom para outro.

Bom, antes de voltarmos para a questão do crescimento do PIB, vamos entender melhor o que significa essas três letrinhas. O Produto Interno Bruto (PIB) é o somatório de todos os produtos e serviços finais produzidos num determinado local e numa determinada quantidade de tempo. Explico melhor com exemplos: Todos os alimentos, roupas, livros, grãos de soja, celulares (produtos) e todo lazer, ensino, saúde, cursos (serviços) produzidos no Brasil num determinado ano, mês ou trimestre são somados e assim se totaliza o PIB. O PIB é um indicador construído a partir de diversas pesquisas e fontes, tais como: IBGE, Banco Central, FGV (Fundação Getúlio Vargas) e outras.

O PIB é apenas um dos vários indicadores que existem para observamos como vai a saúde econômica de um país. Ele é o mais famosinho entre os indicadores, mas devemos lembrar que ele não é capaz de expressar um monte de coisa, como por exemplo, a distribuição de renda, a qualidade de vida, a saúde, a educação, a concentração do patrimônio, o controle da terra, a proteção social e por aí vai.

Agora que já entendemos um pouco mais dessa sigla, trago um questionamento: Quem tem se beneficiado com o crescimento do PIB nesse primeiro trimestre de 2021?

O setor que mais cresceu foi a Agropecuária, que aumentou sua produção em 5,7% em relação ao trimestre anterior. E quais produtos compõem o setor agropecuário brasileiro? Soja, milho, trigo, algodão, café, açúcar, carnes, entre outros. Esse setor produz tanto para exportação, quanto para consumo interno. Retomando a pergunta inicial desse parágrafo: Quem ganha com o crescimento da agropecuária no Brasil? A maior parte dessa produção está concentrada na mão de poucas empresas estrangeiras. A maior delas, segundo a lista de “Melhores e Maiores” da Revista Exame, é a estadunidense Bunge Alimentos, que produz os nossos tão conhecidos produtos da Soya, Delícia, Salada e Primor. A segunda maior delas é a também estadunidense Cargill, que atua em ramos diversos, desde alimentos, ração animal a serviços financeiros e produtos farmacêuticos (vejam só, ela produz a doença e ela própria produz a cura). Consumimos seus produtos através das marcas Liza, Pomarola, Elefante, Mazola, Tarantela, Extratomato, Olívia, ou seja, várias marcas, para termos a impressão que temos concorrência e poder de escolha, mas na verdade pertence tudo a um só grupo ou uma só empresa.

Essas duas não são as únicas, há algumas outras poucas empresas que atuam nesse setor e estão lucrando muito com o crescimento do PIB. Seus donos e acionistas certamente não andam entre nós e não consomem a margarina e os óleos de soja que produzem. A bilionária família Cargill sequer mora no nosso país. E nosso querido Greg além de ser chefão da Bunge Alimentos, também manda na nossa tão conhecida JBS e também não é muito fã dos molhos de tomate Elefante ou Pomarola.

Gostaria de trazer também outros aspectos que o crescimento do PIB pode influenciar em nosso país a médio e longo prazo. Esse pensamento de positividade em relação ao crescimento do PIB pode melhorar as expectativas dos empresários, fazendo com que aumentem seus investimentos e consequentemente gerem mais empregos. Entretanto, isso pode ocorrer se essa taxa se manter positiva e crescente por um prazo mais longo. Só que não dá para esperarmos o empresariado ficar otimista enquanto há milhões de famílias em situação de fome, sem casa, sem emprego e sem vacina e contando com um auxílio de apenas R$150,00 vindo do governo federal.

Nós, trabalhadoras e trabalhadores, donas de casa, estudantes, agora que sabemos quem se beneficia com o crescimento do PIB puxado pelo setor Agropecuário em nosso país, podemos perceber que não é a nossa classe que está ganhando. Por isso, quando ouvirem economistas comemorando por aí, lembrem-se desse texto, e quando ouvirem falar sobre um tal bolo que precisa crescer para poder ser repartido entre todos, lembrem-se também que, nesse sistema capitalista neoliberal que vivemos, as fatias serão grossas, poucas pessoas as comerão e certamente não seremos nós.

Edição: Heloisa de Sousa