Rio Grande do Sul

MÚSICA

Operita Violoncello estreia no Theatro São Pedro, em julho, com ingressos gratuitos

Ópera com libreto de Álvaro Santi, encenação de Jacqueline Pinzon e coreografias de Raul Voges destaca o violoncelo

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Os ensaios cênicos envolvendo músicos, cantores e bailarinos, já começaram - Reprodução

Depois de ter tido sua estreia cancelada, em 2020, devido à pandemia da covid-19, a Operita Violoncello já tem data marcada para se realizar e de forma presencial. As récitas ocorrem no Theatro São Pedro nos dias 13, 14 e 15 de julho, de terça a quinta-feira, em diferentes horários, seguindo todos os protocolos de segurança preconizados pela OMS.

Os ingressos já podem ser adquiridos, gratuitamente, mediante a doação de alimento não perecível. Este projeto é realizado com recursos da Lei Aldir Blanc.

Programação:

Dia 13 de julho, terça-feira, às 20: Ensaio Aberto

Dia 14 de julho, quarta-feira, às 16h e às 20h: Récita

Dia 15 de julho, quinta-feira, às 20h: Récita, dentro da programação do Encontro de Violoncelos da UFRGS

Local: Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/n – Centro Histórico – Porto Alegre/RS) 

Duração: 60 minutos

Classificação etária: 12 anos

Sobre a ópera

A ópera de câmara em um ato composta e regida pelo maestro Arthur Barbosa, com libreto de Álvaro Santi, tem como tema central o violoncelo. A montagem traz à cena um elenco protagonizado pela mezzo-soprano Angela Diel, pelo baixo Daniel Germano e pelo bailarino e coreógrafo Raul Voges, além de um conjunto de dez violoncelistas, um percussionista e duas bailarinas/atrizes, Pâmela Manica e Janaína Nocchi. Conduzindo este elenco, está a atriz e diretora teatral Jacqueline Pinzon. “Na verdade, me defino como encenadora”, corrige, e enfatiza: “para mim, encenar é propor. É realizar uma escritura no espaço e no tempo, a qual se configura a partir do uso criativo da linguagem da cena. Todo encenador faz isso, independentemente da pré-existência de qualquer material, seja ele musical ou dramatúrgico”.

Um dos diferenciais desta obra original de Arthur Barbosa é o fato de o compositor concebê-la para ser executada somente por um ensemble de cellos, em lugar de uma orquestra tradicional. Segundo o maestro, a concepção de Operita Violoncello seguiu a lógica de todo processo criativo. “A gente pena um pouco, é sempre doloroso, mas quando a obra está criada e vem o parto, temos aquela realização pessoal de ter gerado um filho”, opina. 

Ele explica que o som da orquestra de violoncelos é muito peculiar, ainda que sejam escassas as obras para esta formação. “Por isso, o ímpeto de criar nossa própria obra. Será inédito, especialmente para o público”. Ressalta, ainda, a presença de um percussionista, que nesta montagem esta representada por Jorge Matte, que irá garantir um toque de latinidade à formação operística.  “Eu me inspirei na música da América Latina, pelo fato de a trama se passar em um país qualquer deste continente. O público pode esperar uma musicalidade envolvente, com muito tango e ritmos do Sul do Brasil, como a milonga”, comenta. 

Sobre o libreto

No libreto de Álvaro Santi se acompanha o drama de Maria que ama tocar e dedica-se totalmente ao violoncelo.  O instrumento, por sua vez, assume a forma humana, e assim, a paixão entre ambos se corporifica e passa do campo das ideias para a paixão sensual. Mas na vida da artista surge Juan, um jovem sedutor que quer Maria somente para si. Neste dilema, o seu instrumento, o violoncelo, sente-se “traído” e assim inicia-se um improvável triângulo amoroso com grandes e transformadoras consequências para Maria e seus amores.

Poeta e compositor premiado, Álvaro Santi possui diversos poemas publicados (seu último livro foi "Nenhum amor igual ao meu", lançado em 2019). “Eu já tinha o enredo da ópera, mas foi Álvaro que desenvolveu essa história de amor, envolvendo esses três personagens”, relata Arthur Barbosa. “Foi um trabalho tranquilo. Ele fez o poema e eu transformei-o em música”, diz. Ele conta que uma boa parte da música já havia composto, mas não tinha os diálogos. “O Álvaro ficou livre pra fazer a parte dele. Trocamos impressões o tempo inteiro, até chegarmos a um texto final, a partir do qual comecei a compor as canções que faltavam. Foi todo um processo de composição em dupla onde eu transformava os diálogos criados em música”, narra. 

Uma ópera, do ponto de vista de sua montagem, se constitui num intrincado quebra-cabeças que exige muita atenção. Como encenadora da Operita, Jaqueline Pinzon busca imprimir uma expressão audiovisual por meio da qual possa deixar certos espaços, clareiras de significado e interpretação para o espectador olhar e resolver. “Não que me furte a contar a história, mas não revelo todas as particularidades de imediato, vou com calma, no andamento da música, por assim dizer. Assim, encenar Operita Violoncello, para mim, é jogar alguma luz (ou mesmo alguma sombra) sobre algo que já está lá e que talvez não tenha ainda se dado a ver ou sentir.  Porém, encenar esta ópera pode ser, igualmente, escolher um caminho original e impensado para viabilizar o encontro entre o espectador e a obra. Assim, me explico”.

Ópera Inédita

Operitta Violoncello seria inédita em sua proposta? Arthur Barbosa ressalta que não tem conhecimento, no mundo, de uma ópera feita com orquestra de cellos. “E se houver, serão poucas e desconhecidas”, reforça. “Eu arrisco dizer que esta proposta é inédita no Brasil. Apesar de não ter realizado uma pesquisa a fundo, o fato é que não encontrei nenhum indício da existência de uma obra similar no mundo”, enfatiza. 

Para a formação desta orquestra singular, Barbosa recorreu a excelentes cellistas que atuam no Estado. São eles: Phil Mayer, Rafael Honório, Martina Ströher, Isadora Gehres, Jonathan Santos, Paula Schäffer Saraiva, Murilo Alves, Estela Deunisio, Rodrigo Alquati, Tácio Vieira. Completam a formação, o percussionista Jorge Matte e o pianista Fernando Rauber, responsável pela preparação dos cantores.

Interpretando os papeis principais, estão Ângela Diel, Daniel Germano e Raul Voges, artistas com os quais Arthur Barbosa já teve oportunidade de trabalhar inúmeras vezes, em diversos concertos com a Ospa. “Nada mais natural que a gente conheça as pessoas e vá trabalhando com elas. A Ângela foi quem primeiro pensei para o papel. Depois precisávamos encontrar um cantor que encarnasse o Juan e a escolha de Daniel Germano foi acertada”, opina. “Para interpretar o violoncelo, convidamos Raul Voges, que é um excelente bailarino e com quem eu já havia trabalho em Chimango”. É dele, também, a coreografia do espetáculo. 

Sobre a coreografia, Raul Voges destaca que a pesquisa iniciou pela observação dos movimentos de musicistas com violoncelo. “Tentamos, de diversas formas, que este universo de gestos e movimentos, pudesse se fazer presente nos corpos de todo o elenco”, explica. “Assim, criamos e elegemos nossas partituras, somando a linha narrativa da história, às nossas criações de movimento e interpretação”, conclui.

Empreitada desafiadora

Em uma época em que toda a cadeia produtiva das artes sofre com a falta com os efeitos da pandemia, que atingiu sobremaneira os artistas; da falta de incentivos; corte de patrocínios, em meio a uma recessão econômica, conviver com a retração da atividade cultural se tornou uma realidade dura de ser enfrentada. Com a extinção de diversas orquestras no estado, a montagem de uma ópera se torna uma empreitada das mais desafiadoras.

“Eu penso que a montagem de Operita Violoncello é como um respiro, neste momento”, avalia o maestro. “A ópera, seja brasileira ou estrangeira, precisa ser valorizada, porque é um gênero completo, que envolve todas as artes: temos a as artes plásticas com os cenários, as artes musicais com os músicos, as artes cênicas com a representação, e a dança, ou seja, coexiste uma gama de linguagens, que tornam a ópera um dos gêneros artísticos mais completos que conheço.”

O libreto de Álvaro Santi conta a história de um violoncelo em forma humana, ideia que, por sua vez, nasceu como uma homenagem do compositor Arthur Barbosa e de Álvaro a este instrumento de timbre tão especial. Mas como apresentar um instrumento que toma a forma humana? Jaqueline diz que fez algumas escolhas neste sentido. “Espero que a plateia as acompanhe, ou ao menos as considere como algo a ser apreciado esteticamente”, afirma.

“Acredito que o público de ópera, de Porto Alegre, que é numeroso e bastante apaixonado, pode esperar um espetáculo diferente, ousado e não tradicional na abordagem dos personagens, com Angela Diel muito sexy e defendendo um personagem muito diferente da imagem que seu público tem dela, evidentemente, tudo feito com a classe que lhe é peculiar", observa Jaqueline. "Também destaco o traçado coreográfico e de desenho das movimentações que tenta sair da obviedade; a ousadia no trato com a visualidade do espetáculo e das imagens em vídeo e sua interação com a cena ao vivo”, conclui. 

“Porto Alegre precisa de óperas e a gente carece, também, de apoio. Então, quanto mais iniciativas surjam, mais temos que louvá-las, agradecer e pedir para que se mantenham e que as pessoas apoiem”, argumenta Arthur Barbosa. “É muito importante que nesse momento, em que a produção de óperas está em baixa, eu possa contribuir com uma obra de minha autoria. É um prazer fantástico”, finaliza.


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Edição: Marcelo Ferreira