Paraná

RACISMO ESTRUTURAL

Artigo | A gente quer viver pleno direito

Nunca foi tão difícil o simples ato de respirar

Curitiba (PR) |
"Minutos de constrangimento e humilhação que pareceram um século. Aliás, quatro séculos" - DIvulgação

Nunca foi tão difícil o simples ato de respirar. Durante o ato realizado no dia 29 de maio contra o genocídio de mais de 450 mil pessoas (hoje já ultrapassadas 500 mil); por vacina, pelas universidades públicas, pelo voto eletrônico secreto, pelo auxílio emergencial digno, contra a maior taxa de desemprego da História, contra o negacionismo e pela democracia; ao fazer uma parada estratégica para troca de máscara, diante do prédio do Teatro Guaíra, que ocupa uma quadra inteira, com pelo menos quatro entradas, dois dos três seguranças do teatro se dispuseram a cuidar da minha presença com intimidação.

Mesmo um deles me reconhecendo (pois tive minha entrada no teatro interrompida por sua abordagem seletiva algumas vezes) e sabendo que sou ator que frequentemente presta serviços na casa, solicitaram que eu abandonasse a frente de um dos auditórios, informando que não era permitido permanecer ali, naquele espaço público. Minutos de constrangimento e humilhação que pareceram um século. Aliás, quatro séculos.

Numa sociedade que se estrutura tendo o racismo como base, o racismo institucional se estabelece na desigualdade de tratamento que negros, negras e negres recebem em relação à branquitude dentro de uma instituição. Conforme estudo realizado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, em 2013 -, o racismo institucional é um dos modos de operacionalização do racismo patriarcal heteronormativo (é o modo organizacional) para atingir coletividades a partir da priorização ativa dos interesses dos mais claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimação das necessidades dos mais escuros.

As motivações que levaram milhares de pessoas às ruas no dia 29 de maio são opostas às motivações de muitos agentes de segurança pública e privada, como os do teatro, que agiram legitimados e autorizados pelas lideranças desta sociedade. É dever da instituição se responsabilizar para evitar novos episódios como este. Neste dia, mais uma vez, não tive a oportunidade de realizar o que reivindicava minha placa levada à manifestação: a gente quer viver pleno direito.

 

 

Edição: Pedro Carrano