Paraíba

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A concentração de renda na pandemia e a resposta necessária à repressão em Recife

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A brutal repressão policial à manifestação pacífica no Recife em 29/05 chocou o país - Agência JCMazella - SINTEPE
É preciso formar consciência do caráter fascista do Bolsonarismo e enfrentá-lo com todas as forças

Até nisso Marx foi genial. Ninguém explicou tão bem o processo de concentração e centralização de capitais como o barbudo. E as crises cíclicas e estruturais do capitalismo servem pra isso. Ou fazem parte desse processo...

Mas o próprio Marx mostra, através da dialética (materialista e histórica), que esse processo produz sua própria negação. Ou seja, a concentração de capitais produz a socialização do processo de produção. Marx constatou que essa passa a ser a contradição principal do capitalismo. A socialização cada vez maior do processo de produção de valor (riquezas) e sua apropriação cada vez mais privada.

Por isso, Marx considerava fundamental, à época, a existência do Partido Comunista e a unidade do proletariado de todo o mundo. Porque considerava que esse avanço cada vez maior do capitalismo provocava, também, cada vez mais, a alienação do trabalho; ou seja, cada vez mais a riqueza gerada pelo trabalho humano era apropriada pelos capitalistas em "mundos distantes", criando "coisas" em que o "produtor direto" (o trabalhador) não se sente presente naquelas coisas. É o fetiche da mercadoria. 

Dessa forma, Marx considerava impossível à classe trabalhadora adquirir consciência revolucionária de forma natural/espontânea, produto dessa realidade. 

O contrário, disse Engels, em carta de 1892, 9 anos depois da morte de Marx, para um amigo, algo mais ou menos assim: constato que, quanto mais o capitalismo se desenvolve, mais naturalmente ocorre o processo de aburguesamento e alienação dos trabalhadores. Engels se refere à "Aristocracia Operária" inglesa. Completamente aburguesada. Com padrão de vida muito superior ao da massa operária internacional. 

Aliás, esse é o debate que vai nortear a II Internacional, e é a base da ruptura entre Comunistas leninistas e Socialdemocratas "kautskystas".

Lênin, a partir de Marx e Engels, compreende que o processo de concentração de capitais produz o Imperialismo. Ou seja, um capitalismo em que o domínio dos monopólios se sobrepõe à livre concorrência. E aponta como uma das características do capitalismo em sua fase imperialista o "aburguesamento" de parte da Classe Operária. Que esses setores da classe trabalhadora, aburguesados, defenderão o capitalismo junto com suas burguesias, contra a Revolução Operária Socialista.

Lênin identifica Kautsky, herdeiro dos manuscritos de Marx e Engels, o cara que concluiu O Capital, como um dos que não entendeu essa questão. Daí, Lênin desenvolve a tese do elo mais fraco. Aliás, ele usa Engels em defesa de suas teses. Contra Karl Kautsky.

Segundo Lênin, o capitalismo em sua fase imperialista, atingirá escala internacional, subordinando povos do mundo inteiro. E as disparidades econômicas entre as diversas realidades do capitalismo iriam "arrebentar" onde as contradições emergissem mais fortemente. E as formações históricas dessa "corrente capitalista internacional" determinariam o elo mais fraco.

Em outras palavras: a Revolução Proletária na Rússia (ou em outra periferia do capitalismo) deveria desencadear processos revolucionários no mundo todo. 

Diria eu: não haveria Teoria Marxista da Dependência sem a teses de Imperialismo de Lênin...

Domingo, o Peru vai às urnas decidir entre a filha de Fujimori e um professor que se diz Marxista-Leninista-Mariateguista. Biden já investiu, na filha do ditador, fortunas. A campanha de difamação do professor foi insuportavelmente desleal. A diferença que, há dois meses, era de 20%, hoje não existe mais.

125 anos depois da Carta de Engels falando do aburguesamento de setores das classes trabalhadoras, percebemos como as burguesias, em suas formações locais, sabem usar o discurso ultranacionalista, fascista, para ter o apoio desses setores... e têm...

Como diria Fidel, seguindo Gramsci, a batalha das ideias se faz diariamente e as ideias socialistas só se tornarão hegemônicas pela práxis. O estudo e a luta. O próprio Fidel conta que só se tornou simpático à causa comunista quando, em 1948, sentiu a repressão brutal da polícia burguesa contra os estudantes em um protesto pacífico. 

Houvesse no Brasil um movimento político revolucionário, Recife, a cidade vermelha, se tornaria o ponto de partida da derrubada do fascismo, entranhada nas forças policiais de todo o Brasil e amparada pela central miliciana fascista instalada no Palácio do Planalto.

É hora de lutar. O medo da pandemia não pode nos paralisar. Os protestos do 29M, que, pessoalmente, temi jogar água no moinho da direita, demonstraram tal maturidade e disciplina dos que protestavam, que nos deixou entusiasmados e encorajados para enfrentar o fascismo sem fortalecer a pandemia. 

A repressão em Recife é a expressão fascista do principal braço bolsonarista no Estado brasileiro hoje. É preciso formar consciência do caráter fascista do Bolsonarismo e enfrentá-lo com todas as forças, estratégia e sabedoria. Não há vitória possível à Democracia e ao avanço social sem lutas, sem enfrentar a repressão fascista nas ruas e nas redes sociais.

O 29M parece nos apontar que o futuro do Brasil será decidido nas ruas. Inclusive, as urnas refletirão o que acontecer nas ruas nos próximos embates. Se demonstrarmos capacidade de nos mobilizarmos nas praças e no palco tradicional de lutas, as ruas, sem transmitir o vírus, demonstramos, automaticamente, capacidade de consciência e disciplina para derrotar o fascismo. 

À luta. Venceremos!
 

Edição: Heloisa de Sousa