Paraíba

NO RANGEL

Comunidade São Geraldo, com mais de 40 anos de existência, está ameaçada de despejo

Moradores nunca foram ouvidos em processo judicial

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
São Geraldo, localizada paralelamente por toda a extensão do bairro do Rangel com a Mata do Buraquinho - Google Street View

Maria José mora na Rua São Geraldo, no bairro do Rangel, em João Pessoa (PB), há 33 anos e de repente soube que teria que sair de sua casa porque será despejada. "Aqui mora muita gente que precisa. Estamos pedindo para que olhem direitinho pela nossa comunidade, que tem como ponto de referência a Serralharia Brito", disse Maria José.

A Rua São Geraldo, ou Comunidade São Geraldo, acompanha a extensão da Mata do Buraquinho no bairro do Rangel/Varjão e por isso a comunidade foi acusada há 70 anos de destruir a floresta. O processo é originário da União por se tratar da ocupação da da Mata do Buraquinho, que é de alçada federal. O processo de remoção das famílias não ouviu as famílias envolvidas e agora está transitado em julgado.

As moradoras Adriana, Valda, Simone e Mary também estão na mesma situação. "Somos moradores antigos. Somos posseiros. Por que tirar a gente daqui? Essa comunidade é extensa. São muitas famílias. Criamos nossos filhos aqui e nossos netos. Nós não invadimos a mata, nós preservamos. Nós somos conservadores da mata. Não temos muitos benefícios na nossa rua. Não temos calçamento, só buraco e lama. Não temos acesso à rede de esgoto. Passou uma rede de esgoto aqui mas não serve à comunidade. O Estado deveria nos dá condição de vida e vida com qualidade! É isso que a gente precisa e não eles tirarem a gente daqui", desabafou Adriana, que mora há 22 anos perto da Mata do Buraquinho.


Vias não calçadas do Rangel. / Reprodução Google.

Confira o depoimento das moradoras a seguir:

A Defensoria Pública da União (DPU) está acompanhando o caso e explicou: "De fato, tem uma sentença judicial já transitada em julgado que determina que União, Estado da Paraíba e Município de João Pessoa promovam a realocação das famílias da Comunidade São Geraldo para outra localidade. Contudo, não há nada a ser cumprido de imediato. Pelo contrário, o Município de João Pessoa se manifestou recentemente nos autos dizendo que não tinha a mínima condição de fazer a possível realocação em menos de 180 dias", declarou Edson Júlio de Andrade Filho, defensor da União.


Comunidade São Geraldo em reunião para pensar na resistência contra despejo das famílias. / Marcos Freitas

O Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direito (MTD) está acompanhando o processo. "Já é absurdo o despejo, imagina nessa pandemia. A comunidade não foi ouvida, esse é um princípio mínimo do direito, ponto que não ouve. Em nenhum momento houve direito de defesa nem audiência entre as partes. Então estamos prontos para denunciar e lutar junto com essas famílias", disse Gleyson Melo.

"Estamos de pé e vamos lutar e não vamos sair daqui", pontuou Simone, moradora da São Geraldo há 44 anos.

No dia 31 de maio haverá uma reunião entre DPU e os moradores de São Geraldo para definirem os passos legais para enfrentarem o despejo.

 

 

Edição: Heloisa de Sousa