Paraíba

IRREGULARIDADES

Orgs. Ambientais publicam Carta Aberta em oposição ao Polo Turístico Cabo Branco

Instituições alegam preocupação com danos ambientais irreversíveis decorrente da devastação do ecossistema da área

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Simulação dos lotes - Card

Instituições ligadas ao Meio Ambiente e aos Direitos Ambientais publicaram uma carta aberta aos moradores da cidade de João Pessoa e aos representantes governamentais acerca da construção do Polo turístico Cabo Branco.

O Governo já apresentou o projeto, inclusive, ao Ministério do Turismo, no ano passado, e já assinou contratos para construção de empreendimentos (15/10/2020) no local, destacando investimentos de R$ 600 milhões nas obras do Ocean Palace Jampa Eco Beach Resort, Amado Bio & Spa Hotel e o Surf World Park.

Segundo informações oficiais, o Polo Turístico Cabo Branco é o maior já planejado do Nordeste; possui uma área de 654 hectares com 35 lotes, sendo 19 para o setor hoteleiro, 05 para o setor de animação, 10 para comercial e serviços e 01 para o setor de eventos.

O governo faz um destaque em sua página: o Polo Cabo Branco está cercado pela maior reserva ambiental da Paraíba. “Através do Decreto nº 37.653/2017, o Parque das Trilhas passa a ser a maior área de conservação de Proteção Integral na Paraíba em Área Urbana, com 578,548 hectares, ficando à frente da Reserva de Vida Silvestre da Mata do Buraquinho, que tem 517,80 hectares e Parque Estadual da Mata do Xém-Xém, com 182 hectares. No local também será instalada uma sede do Batalhão da Polícia Militar Ambiental”.

Logo no início da Carta, as organizações acusam o Governo da Paraíba de planejar o desmatamento de 650 hectares de Mata Atlântica, o equivalente a 605 campos de futebol.

Os coletivos ambientalistas afirmam que a capital do estado é uma das mais verdes e biodiversificadas do Brasil e demonstram grande preocupação com os danos ambientais "irreversíveis decorrente da devastação do ecossistema na construção do Polo Turístico Cabo Branco". 

“A região é a maior área verde urbana da Paraíba e uma das maiores do Nordeste, abrigando uma das poucas áreas restantes da Mata Atlântica do estado, o bioma mais ameaçado de extinção do Brasil, segundo dados do IBGE¹. Hoje, em nosso estado, por exemplo, só restam 5% da sua área primitiva”.

No documento, o grupo alega ausência de publicidade e transparência no projeto, inclusive a respeito das licitações, editais e seleção de interessados. Há uma grande preocupação também com a legislação ambiental e a cobrança por um estudo de impacto ambiental que avalie os resultados da devastação do bioma.

Participam da Carta: a Apan - Associação Paraibana dos Amigos da Natureza, Harpias - Instituto Animalista da Paraíba, Projeto Exdima - Grupo de Extensão em Direito do Meio Ambiente da Ufpb, Projeto Neja - Núcleo de Justiça Animal da UFPB, Projeto Paraíba Criativa - Grupo de Extensão do Curso de Graduação em Turismo da UFPB; e Grupo de Voluntários do Greenpeace de João Pessoa.

Leia a carta na íntegra:

CARTA ABERTA AOS MORADORES DA CIDADE DE JOÃO PESSOA E SEUS REPRESENTANTES SOBRE O POLO TURÍSTICO CABO BRANCO

O Governo do Estado da Paraíba pretende desmatar 654 hectares (equivalentes a 605 campos de futebol) de MATA ATL NTICA, na cidade de João Pessoa, nas proximidades da praia de Jacarapé.

Diante disso, nós, enquanto cidadãos e cidadãs pessoenses e coletivos ambientalistas, buscando proteger o equilíbrio ecológico de nossa cidade, que é uma das mais verdes e biodiversificada do Brasil, vimos demonstrar a nossa preocupação com os possíveis danos ambientais irreversíveis decorrentes da devastação desse ecossistema para a construção do chamado Polo Turístico Cabo Branco.

A mencionada região, com 654 ha, é a maior área verde urbana da Paraíba e uma das maiores do Nordeste, abrigando uma das poucas áreas restantes da Mata Atlântica do estado, o bioma mais ameaçado de extinção do Brasil, segundo dados do IBGE¹. Hoje, em nosso estado, por exemplo, só restam 5% da sua área primitiva.

Além do desmatamento que será causado, há ausência de publicidade e transparência por parte dos órgãos responsáveis pela implementação do processo de escolha dos projetos que serão executados. O processo de escolha não será feito através de licitação, e esconde do público o Edital que regulamenta o procedimento de seleção dos interessados. O edital seria disponibilizado apenas após a apresentação do CNPJ, número que apenas pessoas jurídicas possuem.

Assim, é inegável a ausência de publicidade da seleção dos interessados na concessão dos empreendimentos, e é indiscutível que isso impede a fiscalização do uso e ocupação do espaço público pelos órgãos externos e por todos nós cidadãos e cidadãs.

Além da ausência de transparência, o projeto não atende a todos os requisitos exigidos pela legislação ambiental, como a realização, por exemplo, do devido Estudo de Impacto Ambiental que avalie por completo todos os resultados da devastação desse bioma. Não tendo sido sequer estabelecida uma adequada compensação ambiental da área a ser desmatada.

O EIMA/RIMA do projeto do Polo Turístico Cabo Branco, que é da década de 1980 (com atualizações de 2020) apresenta uma série de irregularidades ambientais que, inclusive, já estão sendo questionadas judicialmente na Ação Civil Pública n° 0805117-05.2017.4.05.8200.

Baixe aqui o doc em PDF: https://cdn.brasildefato.com.br/documents/ee344b0140735aa300c70a1a31cf075c.pdf

 

 

Edição: Heloisa de Sousa