Paraíba

FÉ E EMPATIA

Onde estavam os cristãos no último domingo?

Vi seres humanos delirando, mas não vi pessoas religiosas, tampouco cristãs.

João Pessoa - PB |
Marcha da Família pela Liberdade ocorrida no último domingo (11) pedindo ações inconstitucionais como intervenção militar e fechamento do STF - Alexandro Martello/G1

Por Padre Savério Paolillo (Padre Xavier)*

 

Vi seres humanos saindo para as ruas. Empunhavam faixas e cartazes. Gritavam palavras de ordem com tom agressivo. Reivindicavam o fim da democracia. Pediam o golpe de estado e a imposição da ditadura militar.

Reclamavam das restrições, do isolamento social e do fechamento dos cultos e das missas. Clamavam por liberdade religiosa. Vi seres humanos se aglomerando em tempo de pandemia para pedir o banimento do comunismo e o impeachment do Supremo Tribunal Federal. 

Vi seres humanos delirando, mas não vi pessoas religiosas, tampouco cristãs. 

Os/as religiosos/as e os/as cristãos/ãs estavam nos hospitais cuidando dos doentes. Continuavam celebrando o rito da vacina para salvar a vida de idosos e de quem tem saúde fragilizada.

Andavam pela rua compartilhando comida com que está passando fome. Consolavam quem está sofrido por ter sido atingido pelo luto.

Estavam cumprindo, religiosamente, as restrições sanitárias para cuidar daquilo que é mais sagrado: a vida. Estavam comprometidos na luta para garantir vacina para todos e auxílio para aqueles que estão passando necessidade.

Estes homens e estas mulheres são religiosos e religiosas de verdade. Independentemente do credo que professam, celebram o Deus da vida, cuidando do templo em que Deus mais gosta de habitar: o ser humano, e celebrando o rito que mais O agrada: a defesa e promoção da vida.

Senti vergonha de vocês que desfilaram pelas ruas. Tão preocupados com suas absurdas reivindicações e tão ansiosos de subir a seus templos para o culto que esqueceram das milhões de pessoas que vivem à beira das estradas deste país e do mundo inteiro massacradas pela pandemia e suas consequências.

Voltem para suas casas e façam como o bom samaritano. Só assim a vida tornar-se-á plena de verdade.

Larguem sua indiferença e se revistam de misericórdia, pois é isso que Deus mais aprecia. A ternura e a compaixão são o hábito e os enfeites que nos tornam mais humanos e nos garantem o acesso à festa no Seu Reino. 

 

*Integrante das Pastorais do Menor e Carcerária da Arquidiocese da Paraíba.

Edição: Cida Alves