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Artigo | Muitas palmas para o ministro Marcelo Queiroga!

A política é do governo Bolsonaro, a política não é do ministro da saúde, admitiu o novo ministro

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Marcelo Queiroga, novo ministro da saúde, tem o desafio enorme que os outros três ministros enfrentaram: obedecer o negacionismo de Bolsonaro - Reprodução

Mandetta, acreditando que era o ministro da saúde, caiu em pouco tempo porque começou a desenvolver um trabalho focado na realidade científica e nas previsões aterrorizantes da pandemia que estava apenas começando.

Já Nelson Teich, depois dos vexames sofridos, preferiu seguir as exigências de sua personalidade e caiu fora em menos de um mês.

O general, em absoluta obediência às determinações do capitão, até que esquentou um pouco mais a cadeira do Ministério. O problema é que os níveis de incompetência na condução das ordens do "ministro da saúde" Jair Bolsonaro, transbordaram os limites do razoável  e Pazzuelo teve que retornar a seus afazeres militares.

E, nesse embalo de tantas quedas, os brasileiros vão caindo nos leitos de hospitais, nas camas das UTI's, nas sepulturas, nos necrotérios.

Conhecemos muito bem a inteligência e a competência do nosso colega paraibano Marcelo Queiroga em todos os desafios que ele enfrentou aqui no estado e à frente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. No entanto, há de se convir e lamentar que o autoritarismo e o personalismo narcisista de Jair Bolsonaro certamente não vão permitir que a inteligência e competência do cardiologista conduzam, com liberdade e autonomia, a maior tragédia da história sanitária de nosso país.

Acrescente-se a esse currículo do capitão, a absoluta indiferença e profunda insensibilidade ao sofrimento e angústia  de tantas famílias brasileiras que choram seus mortos com a imensa dor de nem sequer ter o direito da última despedida. Indiferença e insensibilidade, como é do conhecimento geral da nação, montadas no pedigree cheio de violência, no olhar enxergando apenas a economia e no olfato cheirando 2022.

Registre-se também que, além do obstáculo presidencial, o paraibano vai conviver com a marcação cerrada do fisiologismo do "Centrão", lambendo os beiços por um ministério carregado de visibilidade. Um "Centrão" que já deglutiu com muita azia a indicação "familiar" do cardiologista.

Fica-se a imaginar o dilema de nosso colega paraibano: seguir sua competência, suas convicções científicas, ou  manter a política negacionista do presidente, do kit covid, do estímulo à aglomeração, do desestímulo ao uso de máscara, do ''não tomo a vacina e pronto". 

Dos 11 milhões de infectados, do colapso hospitalar, das UTI's superlotadas, das mortes angustiantes sem oxigênio, dos óbitos sufocados sem respiradores, dos falecidos nas portas dos hospitais, dos cadáveres sem sepulturas. 

O neurocientista Miguel Nicolelis profetiza que, até o fim deste semestre, os necrotérios da nossa Pátria Amada Brasil estarão superlotados com 500 mil brasileiros, que deixarão de respirar pela virulência implacável do vírus estimulado pela insensibilidade genocida do presidente.

E a maioria absoluta dos brasileiros clamando para que o novo ministro atenda aos apelos de sua competência e ouça os gritos de suas convicções científicas.

Mas, a considerar suas primeiras declarações, ele deve ouvir mesmo é a voz autoritária do capitão!

 

*Médico Pneumologista e Amigo da Democracia

Edição: Heloisa de Sousa