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Retomada segura das aulas presenciais: qual a solução? Sem dúvida, a vacinação!

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Por mais que essas crianças não desenvolvam formas graves da doença, elas são vetores de transmissão

Com o início de mais um ano letivo, diversos professores, orientadores, gestores e demais profissionais das escolas se debruçam para planejar a volta às aulas, o acolhimento dos alunos, o envolvimento das famílias no ambiente escolar, como desenvolver um processo de ensino e aprendizagem proveitoso, enfim, todo aquele ritual que nós trabalhadores da educação estamos acostumados. Se fosse em qualquer outro ano, seria esse o cenário comum às escolas, com uma ou outra particularidade. Mas, em 2021, a grande preocupação de nós, profissionais da educação e comunidade escolar como um todo, é: como iniciar um ano letivo em meio à pandemia da Covid-19?

Para muitos de nós, o trabalho pedagógico de forma remota no ano passado foi bastante desgastante, seja por causa da carga horária excessiva, da falta de infraestrutura e formação específica para fazer um trabalho de qualidade, problemas físicos e psicológicos decorrentes da pandemia, entre muitos outros desafios. Gostaríamos de, nesse momento, estar iniciando um retorno seguro às nossas atividades presenciais. Mas será que essa é uma possibilidade real?

Os profissionais da educação querem manter suas atividades e contribuir com a formação social da melhor forma possível, mas sem colocar em risco as vidas que congregam a comunidade escolar.

Algumas redes de ensino estão prometendo que sim, principalmente as escolas privadas que, em tese, teriam mais recursos para implementar as medidas de segurança. Mas já se propagam pelo país inúmeros casos de escolas que apresentaram surto de Covid-19 após a reabertura, mesmo seguindo as normas estipuladas inicialmente. 

Dentre as redes públicas, o Governo da Paraíba anunciou seu plano de retomada a partir do dia 1º de março em modelo híbrido, com redução do quantitativo de estudantes por turma e utilização de equipamentos de segurança. Esse retorno é previsto para as escolas de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, considerando que os estudantes matriculados nesses níveis de ensino desenvolvem menos complicações decorrentes da Covid-19.

Entretanto, o inquérito sorológico da Paraíba demonstrou que a maior prevalência da doença no estado se dá justamente entre pessoas de 0 a 11 anos de idade. Ou seja, por mais que essas crianças não desenvolvam formas graves da doença, elas atuam como um vetor de transmissão aos trabalhadores das escolas e familiares, muitas dessas pessoas pertencentes aos grupos de risco. Ainda, essa proposta de retomada das aulas presenciais entra em contradição com a própria conjuntura pandêmica anunciada pelo governo em ocasião do cancelamento dos dias referentes ao carnaval deixarem de ser pontos facultativos para se evitar aglomerações. 

Mas, afinal, se essas propostas de retomada geram insegurança na população e risco real de sobrecarregar os sistemas de saúde, qual seria uma forma mais segura para o retorno às aulas presenciais? Sem dúvida, a resposta de cientistas ao redor do mundo é: a vacinação em massa.

Vacinar amplamente a população brasileira contra a Covid-19 nos parece hoje uma meta muito difícil diante da falta de política de vacinação em massa articulada pelo governo federal, mas não deveria ser. O Brasil é reconhecido internacionalmente pelo seu Programa Nacional de Imunizações (PNI), tendo erradicado doenças como varíola e poliomielite, e este programa teria capacidade e logística de vacinar amplamente a população. Entretanto, nos últimos anos, o PNI vem perdendo esse protagonismo. Poderíamos estar em outro patamar hoje, de não só produzir vacinas suficientes para a imunização da população brasileira, mas também exportar para outros países. Entretanto, a falta de investimento e vontade política colocam o Brasil como o país que pior geriu a pandemia da Covid-19 no mundo.

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O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, por exemplo, estabelece de forma muito vaga como se dará a imunização da população. Quanto aos grupos prioritários, o próprio Ministério da Educação havia se comprometido com o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais a incluir não só professores, mas os demais trabalhadores da educação na segunda fase de vacinação. Entretanto, no referido plano, nenhuma das três fases definidas inclui esses profissionais, ficando apenas numa quarta fase, sem planejamento específico para ela. Estabelecer um cronograma de vacinação para cada um dos grupos prioritários e implementá-lo de forma urgente é uma demanda necessária se queremos superar desafios decorrentes da pandemia, como a garantia do direito à educação.

Já se propagam pelo país inúmeros casos de escolas que apresentaram surto de Covid-19 após a reabertura

Defendemos que é preciso melhorar a acessibilidade dos alunos, nesse momento pandêmico, através da universalidade do ensino remoto na rede pública, garantir os empregos dos funcionários nas unidades escolares e, urgentemente, acelerar a vacinação em massa da população. Os profissionais da educação querem manter suas atividades e contribuir com a formação social da melhor forma possível, mas sem colocar em risco as vidas que congregam a comunidade escolar. Por isso, nos unimos ao coro: Vacinação já!

*A coluna Fala, professora Adélia! é uma iniciativa do Coletivo Professora Adélia de França que busca divulgar as reflexões das trabalhadoras e trabalhadores em Educação da Paraíba. Para contribuir com essa organização coletiva, escreva para [email protected]

 

Edição: Henrique Medeiros e Cida Alves