Rio Grande do Sul

CONTRA O RACISMO

"Justiça por Beto": Protesto em Porto Alegre reúne milhares em frente ao Carrefour

O ato do Dia da Consciência Negra na capital gaúcha acabou se transformando em um grito de justiça por João Alberto

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Milhares de pessoas se reuniram em frente ao Carrefour no início da noite desta sexta-feira (20) - Ezequiela Scapini

Uma multidão de pessoas se reuniu em protesto, no início da noite desta sexta-feira (20), em frente ao Carrefour onde João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, foi agredido até a morte por dois seguranças, em Porto Alegre. O ato do Dia da Consciência Negra na capital gaúcha acabou se transformando em um grito de justiça por Beto, como era conhecida a vítima, exigindo um basta ao genocídio e violência contra o povo negro e o racismo estrutural da sociedade brasileira.

Transmitindo a indignação pelo crime ocorrido às vésperas do dia mais importante para a luta antirracista, o 20 de novembro, se ouvia cantos como “Racistas fascistas não passarão” e “Acabou o amor isso aqui vai virar Palmares”. Muitos carregavam cartazes com inscrições como “Justiça para Beto”, “Vidas Negras Importam” e “Racismo é o Vírus”.


Muitos carregavam cartazes com inscrições como “Justiça para Beto”, “Vidas Negras Importam” e “Racismo é o Vírus” / Ezequiela Scapini

O nome de Marielle Franco foi lembrado, ao lado de outros negros e negras que morreram vítimas do racismo no país. O ato também contou com manifestações culturais como a capoeira.

No início, foram realizadas manifestações em um carro de som de representantes de movimentos negros sociais e culturais e de entidades, que reforçaram a resistência do povo negro e a urgência da luta antirracista na cidade e no país. Também se manifestaram vereadores negros eleitos no último domingo para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre.


O nome de Marielle Franco foi lembrado, ao lado de outros negros e negras que morreram vítimas do racismo no país / Ezequiela Scapini

Pouco antes das 19h, os manifestantes iniciaram uma caminhada até o estádio Zequinha, puxados pela torcida organizada do Esporte Clube São José, do qual Beto era torcedor. Nesse momento, algumas pessoas começaram a forçar a grade de entrada do supermercado. Alguns conseguiram entrar, queimaram cartazes e picharam palavras antiracistas e "assassinos". A Brigada Militar e Polícia de Choque estavam dentro do Carrefour e protegeram o supermercado com gás lacrimogênio e balas de borracha contra os manifestantes. A tensão seguiu por várias horas. Também ocorreram atos no Carrefour no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em São Paulo, uma unidade da rede francesa de supermercados, nas imediações da Avenida Paulista, foi destruída após um protesto convocado pelo movimento negro da cidade.


Manifestantes iniciaram uma caminhada até o estádio Zequinha, puxados pela torcida organizada do Esporte Clube São José, do qual Beto era torcedor / Ezequiela Scapini


O ato também contou com manifestações culturais como a capoeira / Ezequiela Scapini


Muitos jovens participaram do protesto manifestando sua indignação através de cartazes / Ezequiela Scapini

O Brasil de Fato RS e a Rede Soberania acompanharam o ato ao vivo. Assista:

 
#VIDASNEGRASIMPORTAM - ATO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E REPÚDIO AO ASSASSINATO NO CARREFOUR

#VIDASNEGRASIMPORTAM - ATO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E REPÚDIO AO ASSASSINATO NO CARREFOUR Ato pede por justiça para João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, agredido até a morte em uma unidade do supermercado Carrefour, localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, na noite desta quinta-feira (19).

Posted by Brasil de Fato RS on Friday, November 20, 2020

O caso

João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por um policial militar e por um segurança em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS), na noite desta quinta-feira (19). Um laudo inicial divulgado pelo Instituto Geral de Perícias do RS (IGP-RS) aponta a possibilidade da causa da morte de Beto como asfixia.

Segundo a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, as agressões teriam começado após um desentendimento entre a vítima fatal e uma funcionária do local. Desacordado, Freitas foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que tentou reanimá-lo sem sucesso. Os dois agressores foram presos em flagrante e são investigados por homicídio qualificado.  

A BM informou que o agente envolvido na agressão é "temporário" e estava fora do horário de trabalho. Em nota, o Carrefour prometeu romper contrato com a empresa de segurança terceirizada do local e afirmou que adotará medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos e definiu o ato como criminoso.

“O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário”, diz um trecho do comunicado da empresa francesa.

Edição: Katia Marko