Paraíba

Coluna

Nossos passos vêm de longe: quantas Dandaras somos nós

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Mari Okena, Enegrecer RJ, (Marcha das Mulheres Negras 2015 - Brasília/DF) - Google
RESISTÊNCIA

Chegamos a mais um novembro e temos muito que dizer sobre-viver. Não apenas nesse desafio de viver em 2020, que é indiscutivelmente um dos anos mais absurdos para a humanidade e todo o planeta Terra. Aqui, colocaremos em negrito o resistir em dor que a população negra brasileira, há tempos, está vivenciando. Desde a organização inicial do sistema capitalista, essa tem sido a condição das pessoas negras. Destacaremos, especialmente, referências da luta antirracista por tantas anônimas, guerreiras, mulheres-mães negras, brasileiras nesse papel de ponta de lança do re-existir em comemoração aos cinco anos da Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, violências e pelo Bem-viver!

“Vidas negras importam” se tornou o tema principal das redes sociais e fora delas para divulgar o basta ao racismo, no auge do século 21. Uma forma de metabolizar o luto em luta! Não bastasse a pandemia da COVID-19, que no Brasil afetou diretamente as famílias mais negras e empobrecidas, tanto por questões estruturais e sanitárias quanto por questões materiais para manter o básico de sobrevivência. As mulheres-mães negras foram duramente afetadas tanto na questão objetiva quanto subjetiva, na esfera privada e pública da vida, em razão da situação de se manter isoladas, porém expostas as diversas formas de violências estruturais sem rede de apoio, pressionadas para manter trabalho, os cuidados, os filhos, as famílias e comunidades afetadas. Um verdadeiro trabalho Iasãnico para manutenção das vidas que importam.

 Não é de hoje que as mulheres negras têm denunciado e se organizado contra o genocídio e indiferença de grande parte da sociedade brasileira pelas vidas negras. A realidade é que ainda estamos enfrentando um dos piores cenários quanto às questões racial, social e de gênero, talvez comparável à época da Lei do Ventre Livre (1871). Pois o racismo está escancarado também na esfera institucional e porque não se apresentam horizontes para esta e as futuras gerações com a retirada de direitos trabalhistas, previdenciários e de outras políticas públicas.

O racismo estrutural é latente, seja através da aceitação benevolente dos operadores do direito para os crimes raciais, ou simplesmente pela banalização das diversas formas de violência contra pessoas negras perpetradas por agentes públicos como políticos e policiais. Apartheid disfarçado todo dia é o que vivenciamos e é notório a disseminação de ódio contra pessoas negras em todo o planeta para sustentar a expansão da devoção ao fascismo enquanto forma de poder e, pior de tudo, enquanto forma de relação social. Esta forma política autoriza o ódio enquanto forma de dominação e perpetuação da existência de grupos que se consideram superiores (homens brancos), não apenas nos espaços institucionais particulares, mas sobretudo nos públicos.

Nessa trajetória ancestral de resistência, ressaltamos um dos marcos da luta negra. Em novembro de 2015, ocorreu a primeira edição da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, Violência e pelo Bem-viver, no Distrito Federal, onde as mulheres negras foram os primeiros alvos dessa disseminação fascista, agredidas com tiros disparados por homens armados acampados no gramado do Congresso Nacional que pediam intervenção militar e o retorno da ditadura. Este fato anunciava a dureza dos dias que vivenciamos na democracia brasileira pós-golpe de 2016.

 Não à toa que, desde o período de organização até a realização dessa ação histórica das Mulheres Negras no Movimento Negro Brasileiro, ressaltamos o nome de Dandara dos Palmares. Liderança exemplo de estratégia de guerra pela sobrevivência, reinvidicada por outros movimentos de mulheres-mães negras enquanto coluna fundamental para o salto evolutivo da humanidade a favor da liberdade, dignidade e respeito pela vida das pessoas negras.

Podemos citar, não só na luta quilombola, nomes das mulheres-mães negras símbolos, tanto no campo quanto na cidade, da luta contra a escravidão e permanência de vidas, que fizeram de tudo para ver suas crias vingarem e ecoar que somos livres para nos libertar. Nossos passos não param por aqui. Nossos passos seguem porque vêm de longe. Salve: Tereza de Benguela, Aqualtune, Acotirene, Luiza Mahin, Gertrudes Maria, Chica Barrosa, Margarida Maria Alves, Benedita da Silva, Elza Soares, Zezé Mota, Marielle Franco, Mirtes, Cláudias, Carolinas e Dandaras!

 

Coletiva Pachamamá: Carolina Porto, Katarine Silva, Suzany Silva

Edição: Henrique Medeiros