Rio Grande do Sul

MEIO AMBIENTE

Artigo | Ricardo Salles está pela bola sete

Até mesmo setores do agronegócio já estão insatisfeitos com a gestão do ministro do Meio Ambiente

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Documento apresentado por empresários ao vice-presidente, Hamilton Mourão, expressa preocupação diante da política suicida do Ministério do Meio Ambiente
Documento apresentado por empresários ao vice-presidente, Hamilton Mourão, expressa preocupação diante da política suicida do Ministério do Meio Ambiente - Lula Marques

Nas últimas três semanas acompanhei um movimento interno do agronegócio brasileiro, mais especificamente, algo que podemos chamar de agronegócio sustentável. Um documento assinado por várias entidades do setor, reunidas em torno do Centro Empresarial Brasil Sustentável, encabeçada pelo presidente da Cargill do Brasil – empresa que é a maior comercializadora de grãos do planeta – foi apresentado ao vice-presidente, Hamilton Mourão. Neles os empresários expressaram suas preocupações diante da política suicida do Ministério do Meio Ambiente, cujo titular, Ricardo Salles, é um representante da extrema direita brasileira.

Ele foi secretário particular do ex-governador Geraldo Alckmin, em 2013, e, posteriormente, secretário do Meio Ambiente. Pela sua gestão ineficiente, já tem uma condenação em primeiro grau por improbidade administrativa. E não conta com nenhuma simpatia do ex-governador. Muito menos das melhores cabeças que conheço do agronegócio. Tenho 45 anos de jornalismo, durante 20 anos percorri o país visitando propriedades – grandes, médias e pequenas. Depois de 2000, comecei a estudar as questões relativas ao funcionamento dos ecossistemas da Terra. E continuei percorrendo territórios e estados do país. Fui seis vezes ao semiárido, região onde a Articulação no Semiárido Brasileiro desenvolve um trabalho exemplar no mundo, inclusive premiado pela ONU.

Ricardo Salles é daquele tipo medíocre que entrou na onda conservadora que elegeu o miliciano presidente. Segundo ele, seria um representante do agronegócio. Mas não é e nem conta com o apoio da bancada conservadora chamada de ruralista. Só conta com o apoio da extrema direita. É um oportunista que acha que tem poder. Porém, atravessou a sua “ximbica”, como costumávamos chamar um carro velho caindo aos pedaços aqui no Rio Grande do Sul, num negócio trilionário.

E ele vai cair por isso. Mesmo que o presidente miliciano queira protegê-lo, não vai dar. O agronegócio está em pé de guerra. Claro, existem setores que ainda concordam com a política ambiental – se é que pode se chamar essa coisa assim – porque pretendem convencer os generais de que existem saídas. Um dos meus amigos, diretor de uma multinacional, tomou café da manhã com o general Mourão esta semana. Ele não concorda com cartas para divulgação pública e pressão aberta dos veículos de comunicação. Acha mais eficiente o diálogo com generais. Ele qualificou Mourão como um homem sério, definição que está longe da realidade, pelo menos no que diz respeito à Amazônia. Mourão montou um conselho de militares ignorante, que não entende nada do que está acontecendo no mundo. É um terraplanista de terceira categoria.

Neste mês, a sueca Greta Thunberg esteve reunida com a primeira ministra da Alemanha, Angela Merkel. Greta lidera um movimento pela emergência climática, que envolve adolescentes de toda a Europa. Merkel disse que tem dúvidas sobre a assinatura do Tratado entre União Europeia e Mercosul.

Mas isso não importa. Esta articulação envolve várias cabeças pensantes do agronegócio, que simplesmente desconsideram a autoridade do ministro do Meio Ambiente. Nesse trabalho de investigação também estive conversando com um general de três estrelas, agora na reserva, mas que mora em Brasília e participa da articulação do governo federal. Esse governo tem milhares de militares ocupando postos e outros milhares atuando por fora.

Nessa conversa contei a ele da preocupação das lideranças com quem conversei e indaguei sobre quem protege Salles no Palácio do Planalto. Aguardo retorno desse questionamento. O ex-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte e ex-secretário de energia do governo Alckmin, João Carlos de Souza Meirelles, me colocou a seguinte questão:

“Todas as medidas tomadas por esse governo na área ambiental são programadas. Deve existir um núcleo de inteligência por trás disso. Não é nada ‘abilolado’, sem noção como pode transparecer”.

Meirelles, que conheço há 40 anos, é português, criador de cavalo Andaluz e uma pessoa extremamente lúcida. Na década de 1960 foi vereador pela esquerda em São Paulo. Conhece a elite econômica desse país como poucos conhecem. E está extremamente preocupado com os rumos da política ambiental implantada por esse governo.

As ações contra isso estão em andamento. O desenlace acontecerá em breve. Uma coisa é certa: esse medíocre do Salles não continuará destruindo um patrimônio construído por gerações de brasileiros que lutaram para ter um país mais justo, com empresas que trabalhem dentro da legalidade pensando no futuro e que reconhecem a importância da biodiversidade do país e a sua importância para o planeta.

* Najar Tubino é jornalista

Edição: Marcelo Ferreira