Paraíba

Coluna

Coragem, substantivo feminino

Imagem de perfil do Colunistaesd
O Ele Não ou #EleNão rapidamente se espalhou por todas as cidades do Brasil e principais países do mundo. - Reprodução
Hoje, está mais que provado que elas estavam e estão certas

Coragem é a palavra certeira para definir a atitude das mulheres brasileiras e de grupos feministas, frente aos desmandos de um mandato presidencial marcado por injustiças e desconstrução dos direitos civis. Alguns dicionários definem ‘coragem’ como sendo a capacidade de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. Outras publicações classificam como moral forte perante o perigo, os riscos; bravura, intrepidez, firmeza de espírito para enfrentar situação emocional ou moralmente difícil. Mas, é a gramática que traça o melhor perfil: coragem, substantivo feminino.

Ainda durante a campanha presencial passada, um grupo de mulheres lideraram as maiores manifestações populares contra o então candidato a presidente da República e deputado federal Jair Bolsonaro, hoje sem partido. O Ele Não ou #EleNão rapidamente se espalhou por todas as cidades do Brasil e principais países do mundo. O foco do movimento era derrotar Bolsonaro. Hoje, está mais que provado que elas estavam e estão certas. O pico das manifestações aconteceu no dia 29 de setembro de 2018, quando aconteceu o maior protesto já realizado por mulheres e a maior concentração popular durante a campanha. Foi um marco.

Atualmente, falar de luta e coragem femininas, sem citar a vereadora carioca assassinada, Marielle Franco, é praticamente impossível. Filiada ao Psol, ela foi eleita, em 2016, com a quinta maior votação do Rio de Janeiro. Defensora ferrenha do feminismo e dos direitos humanos, Marielle era uma das vozes mais fortes contra o abuso de autoridade da polícia praticado nas favelas. Em 14 de março de 2018, foi assassinada a tiros, na Região Central do Rio de Janeiro. Ela estava dentro do carro, com o motorista Anderson Gomes, também assassinado. Os acusados de serem os autores do atentado, o policial militar da reserva, Ronnie Lessa, e o ex-policial militar, Élcio Vieira de Queiroz, estão pesos e devem ir a Júri Popular, a pedido do Ministério Público. O que falta ser esclarecido, há mais de dois anos, é: de onde partiu a ordem para executar a ex-vereadora, ativista e fanática pelo Flamengo? Enquanto a resposta não vem, o mundo repete a frase imortalizada: “Quem mandou matar Marielle?” 

Outra mulher que deve ser lembrada por sua luta é a jornalista e política brasileira, Manuela d’Ávila.  Filiada ao PCdoB, foi deputada federal pelo Rio Grande do Sul, entre 2007 a 2015, deputada estadual de 2015 a 2019 e candidata a vice-presidente da República na eleição de 2018, na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT). Certamente, essa mulher foi a que mais sofreu com as famigeradas fake news. Em bom português, notícias falsas, mentirosas, criminosas, nojentas, repugnantes...e por aí vai. Os adversários, sobretudo apoiadores de Bolsonaro, disparavam contra ela dezenas de imagens, falas e vídeos atribuídos à candidata. A mais famosa dessas “fake” é uma montagem em que ela aparece com uma camiseta escrita “Jesus é travesti”. A mentira foi amplamente divulgada com mensagens moralistas no sentido de que mães, famílias e cristãos não deveriam votar nela. Sobre a mentira, ela disse: “Eles dizem proteger a moral e os bons costumes, mas são os primeiros a usar este tipo de estratégia suja nas campanhas (…). Prestem atenção! Mentiras não passarão! Nos ajude a compartilhar a verdade.” Só em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mandou derrubar 33 fake news contra Manuela. Hoje, a também escritora, é um dos nomes mais fortes para vencer a campanha para Prefeitura de Porto Alegre-RG.


Essa coragem não vem de agora, é certo. Como também é certo que não vai parar. Muitas mulheres, jovens e adultas, de todos os recantos brasileiros estão dispostas a lutar por um Brasil mais igual, como o projeto que estava em andamento, antes do Golpe de 2016 e agravado com a chegada ao poder de um genocida e mentiroso patológico. 


Histórico – Para os que não acreditam na força da luta por direitos, quero pontuar algumas conquistas feministas, no Brasil:
1827 – Meninas são liberadas para frequentarem a escola
1879 – Mulheres conquistam o direito ao acesso às faculdades
1910 – O primeiro partido político feminino é criado
1932 – Mulheres conquistam o direito ao voto
1962 – É criado o Estatuto da Mulher Casada
1974 – Mulheres conquistam o direito de portarem um cartão de crédito
1977 – A Lei do Divórcio é aprovada
1979 – Mulheres garantem o direito à prática do futebol
1985 – É criada a primeira Delegacia da Mulher
1988 – A Constituição passa reconhecer as mulheres como iguais aos homens
2002 – “Falta da virgindade” deixa de ser motivo para anulação do casamento
2006 – É sancionada a Lei Maria da Penha
2015 – É aprovada a Lei do Feminicídio
2018 – A importunação sexual feminina passou a ser considerada crime

Edição: Heloisa de Sousa