Rio Grande do Sul

PANDEMIA

“Abrir para futebol é demência”, critica presidente do Conselho Estadual de Saúde

Com 919 gaúchos mortos pelo coronavírus, Eduardo Leite (PSDB) autoriza a retomada do Campeonato Gaúcho de Futebol

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Após encontro com a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Leite acabou concordando com o recomeço dos jogos a partir do próximo dia 23 - Lucas Uebel/Grêmio FBPA

“Abrir para futebol numa situação dessas é demência pura”. É o que pensa o presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES/RS), Cláudio Augustin, sobre a decisão do governador Eduardo Leite (PSDB) de autorizar a retomada do Campeonato Gaúcho de Futebol, mesmo com o Rio Grande do Sul acelerando o número de mortes pela covid-19. Ontem (9), quando a decisão de reiniciar o Gauchão foi anunciada, mais 45 óbitos foram registrados. Nesta sexta-feira (10), ficou ainda pior: 49 mortes, mais um triste recorde. No total, 919 gaúchos perderam a vida para o coronavírus. 

O dirigente do CES/RS – que reúne 41 entidades da sociedade civil – adverte que o Estado está perto de um colapso na Saúde. Pior ainda, segundo nota, que a bola voltará a rolar num período historicamente marcado pela lotação dos hospitais, mesmo sem pandemia. 

Para o médico infectologista e professor do curso de Saúde Coletiva da UFRGS Alcides Miranda o retorno do futebol, em um momento de progressão acentuada de contágios e óbitos, principalmente entre os mais pobres, passa mensagens questionáveis. A primeira delas é que os atletas “vão dispor de testes sorológicos e equipamentos de segurança, enquanto a maioria não dispõe, inclusive muitos trabalhadores da Saúde”. A segunda revela “a indiferença sistêmica e o alinhamento com aqueles que querem forçar o retorno a uma "normalidade" socioeconômica a partir da "naturalização" da tragédia em curso no país”.

 O inverno agrava a situação

“É inverno e este fato, por si só, já aumenta a procura motivada pelas doenças respiratórias graves”, acentua Augustin. O quadro se agrava com a covid-19 e as moléstias negligenciadas, devido aos pacientes cancelarem consultas e cirurgias. 

Após encontro com a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Leite acabou concordando com o recomeço dos jogos a partir do próximo dia 23. Já na segunda-feira (13), serão retomados os treinamentos em grupo, com contato físico. As partidas não terão presença de público. Atribui-se a decisão à pressão dos grupos de mídia que detém os direitos de transmissão do campeonato.

A maioria das equipes tem sede na região Metropolitana de Porto Alegre, atualmente com bandeira vermelha, o que impõe mais restrições à circulação de pessoas devido ao risco de contágio. 

Augustin enfatiza que, com o agravamento do quadro e a sobrecarga dos hospitais, aumentam a possibilidade de colapso e os riscos de forma geral, muito além da pandemia. “Um idoso cai, quebra a bacia e pode ficar sem atendimento”, exemplifica.

Quem fez isolamento, saiu mais forte

“Já existem muitos profissionais de Saúde doentes, há falta de pessoal capacitado para trabalhar na linha de frente. O afrouxamento para as atividades econômicas coloca mais pessoas na rua, cresce a quantidade de contaminações, aumenta o número de doentes e de pacientes mais graves que terão de buscar ajuda no sistema de Saúde." Cláudio lembra um ensinamento que a pandemia está deixando. “Todas as experiências mostram que aqueles países que optaram pelo isolamento social saíram mais fortes economicamente da crise, enquanto os que abriram antes do tempo acabaram mal.”

Edição: Katia Marko