Pernambuco

MEMÓRIA

Vereadores decidem hoje se busto de Castello Branco será retirado da Ponte da Caxangá

Debate em questão é como contar a história do país sem homenagear figuras como o Marechal, que conspirou o Golpe de 1964

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O ato de repensar as pessoas homenageadas com estátuas, bustos e nomes a ruas e instrumentos públicos vem acontecendo mundialmente - AFP

Está em discussão na Câmara do Recife desde a última semana de junho um requerimento que pede a retirada do busto do Marechal Castello Branco - o primeiro presidente da ditadura militar brasileira- localizado na ponte da Caxangá, zona oeste do Recife. O ato de repensar as pessoas homenageadas com estátuas, bustos e nomes a ruas e instrumentos públicos acontece mundialmente, principalmente nos Estados Unidos por integrantes do movimento Black Lives Matter que tem destruído estátuas de escravocratas e mercadores de escravos após a morte de George Floyd, homem negro assassinado por um policial em Minneapolis.

Assim, chega à Recife o debate sobre quais são as figuras que devem ser homenageadas. O Marechal Castello Branco foi um dos conspiradores do Golpe de 1964, que deu origem ao regime militar que durou até 1985, além de ter decretado os Atos Institucionais 1, 2 e 3, que determinavam a repressão e perseguição de opositores, o bipartidarismo e o fortalecimento do Executivo em detrimento de outros poderes. "Essas figuras históricas ao invés de serem responsabilizadas por crimes contra a humanidade, são homenageadas não só em forma de pequenos bustos, mas dando nome à ruas e até bairros", afirmou o historiador Allan Luna, Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que completa, "eu acho que a gente falhou enquanto sociedade, quando olhamos a existência desse busto. É urgente esse requerimento de remoção, não só desse, mas de outros bustos, bem como a renomeação do nome de ruas, hospitais, escolas, o que é urgente".

A Comissão Nacional da Verdade, criada com a finalidade de examinar e desvendar as graves violações de direitos humanos praticadas no período da Ditadura Civil-Militar brasileira, emitiu 29 recomendações, dentre elas a que determina a mudança na denominação de logradouros, vias de transporte, edifícios e instituições públicas de qualquer natureza, sejam federais, estaduais ou municipais, que contenham nomes de agentes públicos ou de particulares que tenham participado ou praticado graves violações de direitos humanos durante o período da Ditadura Militar no Brasil. Em Pernambuco, foi sancionada a Lei Estadual nº 16.6029/2019, que proíbe qualquer homenagem aos nomes presentes no relatório da Comissão da Verdade, o que incluiria o Marechal.

O requerimento é de autoria do vereador Ivan Moraes (PSOL) e vai ser votado novamente nesta segunda-feira (6), visto que nas últimas duas sessões a votação foi desmarcada por que a quantidade de vereadores na Câmara não atingia o quórum para ser votada. "Como há uma homenagem feita através de um busto, a gente encaminhou um requerimento, que é um pedido à prefeitura para que ela providencie a remoção desse busto, que na minha opinião caberia melhor em um museu, onde a gente poderia discutir o que foi a ditadura militar e conhecer tudo o que foi feito no Brasil a partir dele, para que não se repita", afirmou o vereador. 

"Ninguém que defende a retirada do busto do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco acha que ele deve ser esquecido, muito pelo contrário, ele tem que ser lembrado, assim como os outros generais, marechais, coronéis e presidentes da Ditadura Militar, mas eles tem que ser lembrados pelo que foram de fato, pelo que eles representaram na história política nacional, o que não é o caso de um busto”, disse o historiador, que acredita que esses atores políticos devem ter sua imagem analisada a partir de embasamento científico, “Você tem que diferenciar uma homenagem, que é a exaltação de uma figura, do reconhecimento de suas ações históricas, que estarão sempre em estudos,  monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros didáticos, tendo seu papel analisado de forma crítica a partir de embasamentos científicos".

Edição: Vanessa Gonzaga