Paraíba

PANDEMIA

Artigo | O preço da vaidade em tempo de Covid 19

"Para quem sobreviver a esta crise pandemiológica, fica a reflexão do que somos e do que precisamos para viver"

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Novo Coronavírus - Reprodução

Desde os primórdios da humanidade que os seres humanos empreitam lutas pelo poder, instigado pelo ciúme, pela arrogância, pela ganancia do ter, do ser e da força de superioridade que esbanja supremacia, impondo a lei do mais forte em detrimento a vulnerabilidade ou fraqueza do seu semelhante. 


A Bíblia sagrada registra no livro de Gênesis a historia de Caim e Abel, os filhos de Adão e Eva que pelo ciúme da atenção de Deus para com Abel, fez com que Caim armasse uma emboscada e assassinasse seu irmão Abel, deixando marcado que a vaidade humana se sobrepõe, inclusive, ao amor fraternal e familiar.


A paixão pela aparência física, material e social, contamina o homem, fazendo dele, escravo da própria existência, quando em vez de viver para si, vive para a sociedade que o enxerga apenas pelo que demonstra ter materialmente ou pelo que aparenta ser, em face da influencia politica, econômica e social, demostrando superioridade em relação ao seu semelhante, contrariando a lei de Deus e a própria lei dos homens quando o iguala ao seu próximo em direitos e deveres.

 
Destaca-se, portanto que tudo isso se amolda no alicerce da vaidade, ora construída pela valorização que se atribui a própria aparência, física ou intelectual que se fundamenta no desejo de que todas as qualidades que o ser acredita ter sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros, ou seja, é algo que a pessoa acredita possuir como qualidade exclusiva que reflete superioridade em relação ao outro. 


Mas, afinal, o que a vaidade representa quando não se pode exibir glamour na aparência física, quando mansões não podem ser exploradas, quando roupas, gravatas, sapatos, veículos de luxos, joias permanecem guardados sem evento social para serem mostrados?

 

São momentos de reflexão que devem recair sobre todos nós que vivenciamos um tempo em que o mundo chora a perda de muitas pessoas, momento em que a humanidade busca a cura para um vírus que contamina toda e qualquer pessoa independente da idade, classe ou posição social, que aniquila de forma impiedosa a convivência familiar pela perda de entes queridos, tirando inclusive, o direito sagrado de se despedir do plano terrestre.

 
A Covid 19 é uma doença causada pelo coronavírus, que segundo o Ministério da Saúde, é uma família de vírus que causam infecções respiratórias e que apesar de existir a muito tempo, apresenta atualmente uma nova forma de deterioração da saúde humana, daí sua nomenclatura de novo coronavírus. Apesar de se manifestar de formas diferentes nas pessoas, a doença não escolhe a quem atingir, dando maior índice de infecção naquelas que já detém algum problema crônico que deixa o organismo menos protegido e com menor grau de imunidade. 


É interessante destacar que uma das formas de prevenção na contaminação da doença é o isolamento social, e esse isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que orienta às pessoas a ficarem em suas casas, reflete um sentimento de que nessa pandemia, a igualdade entre as pessoas resta configurada, ainda que de maneira forçada, mostrando que o ser humano em determinados momentos não se destaca pelo poder ou pelo ser que representa na sociedade e que a vaidade desaparece, dando a pessoa contaminada ou a família apenas um desejo: viver.  


Basta que seja observado (até maio de 2020) o numero de pessoas que já padeceram pela doença em todo mundo e o numero de famílias que ficaram sem o mentor familiar, seja homem ou mulher. Aqui, não houve escolha de quem morrer, ricos e pobres se igualaram na mesma suplica por mais um dia de vida. 


Quantos artistas famosos não tiveram leitura de obras ilustres em seus velórios? Quantos políticos foram enterrados sem bajuladores e admiradores em cortejo? Quantos profissionais de saúde e de segurança pública não puderam ser enaltecidos pelo trabalho prestado? Quantos empresários não tiveram sequer quem carregassem o caixão com destino ao cemitério? E quantas pessoas boas, que mesmo pobres, eram humildes de coração e servidoras ao próximo que não tiveram um velório digno de sua personalidade? Todas essas pessoas tiveram seus ataúdes lacrados e foram sepultadas logo depois de falecerem, pois seus corpos apresentavam o mesmo teor de contaminação. 


O que se destaca em termos de diferença entre pessoas contaminadas  pelo coronavírus, é que o rico teve condições de ser internado em hospital particular, porem, assim como o pobre, respirou através de aparelho e pagou pelo ar respirado, suplicando pela vida como o pobre também o fez e que apesar de ter sido acomodado em caixão caro quando de sua morte, independentemente da vestimenta que envolvia sua matéria, do mesmo jeito que o pobre, teve que ser sepultado as pressas, pois a Covid não fez escolha entre ambos para matar.


Em razão de tudo isso que se expõe, pergunta-se: Em tempo de pandemia como esta qual o preço da vaidade? O que representa o recurso econômico, a supremacia hierárquica, o puder politico, a influencia social, a exibição de glamour nos shoppings, o tratamento desumano dado ao gari que em trabalho pede um copo d’água ou ao mendigo que pede comida por estar com fome? O que adianta tanta roupa, calçados e joias no guarda roupa sem ter pra quem se mostrar? Em verdade, ainda que custe caro pra ser mantida, a vaidade consome o ser humano e em situação atípica como está vivendo a humanidade em pleno século vinte e um, ela se resume a nada, mostrando simplesmente, que somos pó de onde viemos e que ao pó voltaremos. 


Para quem sobreviver a esta crise pandemiológica, fica a reflexão do que somos e do que precisamos para viver, e ao invés de nos estressarmos pela oportunidade de estarmos isolados em nossas próprias casas com nossas famílias, agradeçamos a Deus por ela ser nossa, pois, o que certamente pode causar estres é estarmos em uma cama de hospital buscando oxigênio pra respirar na duvida de retornarmos vivos para casa. 


A preocupação com a economia deve existir e as autoridades governamentais das diversas esferas administrativas tem a obrigação de buscar meios para atender os anseios daqueles que por obediência legal e preventiva, estão impossibilitados de exercer suas atividades econômicas, mas, importa lembrar que não se faz economia apenas com cadáveres, é preciso ter vida pra que se tenha desenvolvimento econômico, pois a vida é o principal bem que o ser humano possui que se sobrepõe a qualquer outro bem. 


O ser humano precisa compreender que viver bem e com dignidade não é esbanjar riqueza ou puder e sim, ter saúde material e espiritual e viver em paz consigo e com os outros, pois, aos olhos de Deus e da lei, somos todos iguais e que nosso destino é um só e depois de partirmos, nada mais se tem de fazer, pois o choro sobre o caixão, ainda que cravejado de pedras preciosas não ofuscará a maldade que se praticou, ali resta apenas um corpo material e para a vida eterna, o alicerce que fortalece essa construção é o bem que se fez e o amor que se plantou em vida. 

*Prof. do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande; Pós Dr. em Estudo de Princípios Fundamentais e Direitos Humanos pela Universidade de Ciências Empresariais e Sociais - UCES - AR, (2015).

Edição: Heloisa de Sousa