Paraíba

CULTURA EM LUTA

Movimento “Fazer nada não é uma opção” pressiona gestores culturais na Paraíba

Através de vídeos curtos artistas fazem pressão junto aos gestores para cobrar ações durante a pandemia

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução - Foto

O movimento é virtual mas já conquistou e engajou diversos artistas e pessoas ligadas à arte e à cultura. A ideia consiste em pressionar as/os gestoras/es de políticas públicas culturais do estado que vêm deixando a desejar durante a pandemia. Através de vídeos curtos e padronizados, os artistas cobram dos gestores a se movimentarem em favor da classe que, durante a pandemia, vem sofrendo sem trabalho, sem renda e sem ajuda alguma. 

“Fazer nada não é uma opção” partiu do Fórum de Teatro, ligada ao Fórum dos Fóruns de Cultura da Paraíba, e tem como foco principal, neste momento, fazer exigências à Secretaria de Cultura do Estado e à Funjope (Fundação Cultural de João Pessoa). 

Daniel Porpino, ator e membro do Fórum de Teatro, explica melhor a ação: “O Fórum pensou numa estratégia para movimentar determinados gestores e gestoras, estando ou não mais próximo das pautas culturais, para tirar essas pessoas de uma certa inércia e inoperância que a gente percebe em alguns quadros. Dois daqueles que a gente acha mais graves neste momento de pandemia, que não se manifestaram e não estão propondo nenhum tipo de ação, é a Secretaria de Cultura do Estado, cujo secretário é Damião Ramos, e a Funjope, que tem como presidente o Maurício Buriti. Essas duas figuras têm cargo de liderança dentro do que nos representa culturalmente no estado e na prefeitura respectivamente. E esses gestores não estão se movendo”, denuncia ele.


Daniel Porpino, ator, cobra da SECULT / Foto: Reprodução

O movimento vem engajando principalmente no Instagram, mas se disseminou também no Whatsapp e Facebook, e nas diversas lives que vêm acontecendo diariamente. O gancho veio de iniciativas em vídeos postados nas redes sociais com conteúdo longo e que não dialogam muito com a velocidade da informação nas redes sociais. A estratégia do movimento é fazer conteúdo rápido e numeroso, reiterando uma única pauta por vez.


Diversos artistas fizeram vídeos para as redes sociais cobrando ações aos gestores de cultura / Foto Reprodução

“A gente pensou nessa estratégia de vídeos curtos focando numa pauta de cada vez. O primeiro que lançamos foi domingo (24) direcionado à figura de Damião Ramos, Secretário de Cultura, onde a gente diz que fazer nada não é uma opção, e isso virou o nosso grito de guerra, nossa palavra de ordem". 

Estas pessoas não podem ficar alheias ao que está acontecendo; elas precisam no mínimo se comunicar com a classe a qual representam, a classe cultural, e fazer alguma coisa. Então seria esse lugar de incomodar essas pessoas porque não dá para ficar parado diante dessa situação”, reforça Daniel.

Outra pauta é cobrar dos/das deputados federais a aprovação do Projeto de Lei de Emergência Cultural (PL 1075/2020) que está em vias de votação na Câmara Federal.

“É importante o poder público reconhecer o lugar da cultura neste momento. Primeiro porque é uma cadeia produtiva e econômica muito importante, que pauta a renda de muitas famílias que, neste momento, estão vivendo em precariedade porque parcialmente ou totalmente tiveram a sua renda afetada”, afirma Daniel. 

O ator também reforça o papel da cultura, dos artistas e dos agentes culturais neste momento de pandemia: “Está sendo um acalanto, um lugar de resistência e de união, as pessoas assistirem às lives, filmes, séries, entrevistas com os artistas, peças de teatro apresentados online para ter um pouco menos de dor e aflição através deste contato com a cultura, com a arte.

"A gente precisa ser assistido não apenas nos nossos filmes, mas também ser assistidos do ponto de vista político e ter a devida atenção e o devido cuidado de quem tem a responsabilidade de gerir a nossa política cultural de maneira abrangente”.

Diversas ações pela categoria

Recentemente a classe artística emitiu uma carta de apoio ao PL 1075/2020. Leia um trecho: “Nós, grupos de circo, dança e teatro, artistas plásticos, fotógrafos, artistas e técnicos do audiovisual, grupos de diferentes manifestações da cultura popular, gestores de espaços culturais da Paraíba da iniciativa da sociedade civil, micro e pequenos empreendedores, vimos, em caráter de extrema urgência provocada pela pandemia do Covid-19, solicitar a V. S.ª o apoio a Projeto de Lei – na forma de subsídio – para os teatros e espaços culturais da cidade e as trabalhadoras e trabalhadores da cultura, a fim de garantir a viabilidade imediata de suas condições de manutenção dessas unidades de cultura e a sobrevivência das pessoas que tiveram que interromper suas atividades. Os teatros, as sedes de grupos, cinemas, casas de shows e espaços culturais diversos foram os primeiros a fechar as portas e serão, com certeza, os últimos a voltar à cena, devido ao risco de contaminação”.

O Fórum do audiovisual também emitiu uma nota em que cobra ações de auxílio ao setor e faz críticas a outras atividades implementadas pelo governo como o edital da Fundação Espaço Cultural (Funesc), por meio do projeto “Meu Espaço – Compartilhando Cultura”, que já se encontra na terceira semana de execução e contemplou artistas impossibilitados de fazer apresentações devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo o fórum, o edital teve vários problemas e contemplou apenas alguns poucos artistas.


Divulgação / Card

Também encontra-se em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba o Projeto de Lei 1756/2020 que trata da criação do Auxílio Emergencial para trabalhadores do setor cultural. O PL é do deputado estadual Jeová Campos (PSB). O Auxílio Emergencial prevê valor equivalente a um salário mínimo nacional, ou seja, R$ 1.045,00 ou da complementação até esse valor, caso o beneficiário receba auxílio de renda básica no âmbito do Governo Federal. Os estabelecimentos culturais deverão receber um subsídio mensal no valor de R$ 3.500 para a manutenção desses espaços culturais.
 

Edição: Heloisa de Sousa