Paraíba

EM BUSCA DE DIREITOS

Centenas de pessoas ficam sem auxílio emergencial na PB e denunciam ao MPF e DPU

Força tarefa foi criada e Estado doará cestas básicas provisórias enquanto auxílio não sai

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Centenas de auxílios foram negados na Paraíba e MPF e DPU entram com ações - Reprodução

Uma força-tarefa constituída pelo Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU), advogados e advogadas voluntários ajuizará ações coletivas e individuais para combater injustiças detectadas no processamento dos cadastros das pessoas que solicitaram o auxílio emergencial do governo federal e ainda não foram contempladas. A força-tarefa foi formada no dia 14 de maio durante reunião com participação de representantes do MPF, DPU, Ouvidoria da Defensoria Pública Estadual (DPE/PB), Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

São centenas de denúncias que já chegaram ao MPF e DPU. Verificou-se que a base de dados do governo federal não é atualizada e, portanto, não retrata a realidade dos brasileiros. Além disso, muitos pedidos são negados sob a alegação do governo de que outro membro da família já teria sido contemplado pelo benefício; alegação de mesmo endereço para famílias que moram em casas diferentes, porém no mesmo sítio, na zona rural; ou, ainda, alegação de existência de vínculo empregatício formal em aberto, inclusive com órgãos públicos, quando tais vínculos já estariam encerrados. 

“São injustiças absurdas porque, além de não poderem recorrer, as pessoas não têm acesso à razão do indeferimento; usam-se dados defasados do CadÚnico, que não representam mais a situação atual dos cadastrados, como é o caso de pessoas que eram casadas e se separaram, que moravam com os pais na época do cadastramento, mas já constituíram uma nova família; pessoas que concorreram a cargos eletivos, mas não se elegeram. Ou seja, se você foi candidato a vereador nas eleições de 2016 e teve um voto, você é suplente e seu pedido de auxílio está sendo indeferido”, apontou o procurador da República José Godoy Bezerra de Souza.

Movimentos Sociais - Gleyson Melo, militante do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), explica como vai funcionar essa força-tarefa montada para defender os direitos das pessoas que tem direito ao auxílio emergencial, mas não receberam.

"Como no aplicativo do auxílio emergencial não tem como recorrer do resultado, pensamos em montar uma força-tarefa para que, juntos, pudéssemos ajudar a quem, nesse momento de angústia, teve seu benefício negado. Então, o MPF ficou com as causas coletivas e as demandas individuais que estão chegando ou que poderão chegar no MPF, eles estão encaminhando para Defensoria Pública da União (DPU), então a DPU é quem está concentrando essas demandas vamos dizer assim "avulsas, individuais". Já os advogados voluntários, estão atuando em demandas organizadas junto ao MTD. A primeira etapa é o acesso ao cadastro, porque por incrível que pareça, existem pessoas que não tem documentos. A segunda etapa é fazer o próprio cadastro no aplicativo do auxílio e tentar recorrer nos casos que forem possíveis", disse Gleyson.

Outro dado importante que foi lembrado por Gleyson é que o auxílio emergencial foi uma política, aprovada pelo Congresso nos valores de 600 e 1.200 reais, a partir da solicitação dos movimentos sociais e que ele não foi o governo que elaborou. "Muito pelo contrário, o governo falou, após a pressão dos movimentos e da sociedade, em conceder apenas 200 reais de auxílio. Isso se confirma quando vimos agora há pouco o ministro da Economia, Paulo Guedes, dizer que ia reduzir o auxílio para 200 reais", declarou.

Advogados voluntários – Em razão do alto número de demandas para o reduzido quadro de defensores federais, a força-tarefa também será composta por advogados voluntários. São profissionais sensíveis à causa, que se dispõem a prestar a assessoria jurídica de forma gratuita em favor dos vulneráveis. É o caso dos advogados Karolina Silva e Lucas Machado, que estão atuando com o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadores por Direito nessa questão do auxílio emergencial.

Karolina Silva destaca que para a imensa maioria da população que hoje está recorrendo ao auxílio emergencial, o amparo da Justiça e do próprio direito sempre foi uma realidade afastada. “A falta de condições materiais restringe o acesso aos serviços jurídicos e até mesmo à informação. É por isso que advogadas e advogados que estejam atuando em favor de pessoas em condição de vulnerabilidade devem exercer o ofício de forma voluntária, para que este momento de crise sanitária não aprofunde ainda mais nossa crise social”, defende a advogada.

Para Lucas Machado, o momento de crise traz grandes desafios às instituições de saúde e de outros serviços essenciais, visto que não estavam preparadas para enfrentar a pandemia, e principalmente, desafios aos trabalhadores e trabalhadoras mais pobres, dependentes do pleno exercício de tais instituições. “Sendo assim, principalmente para quem, como eu, se tornou jurista por conta de uma universidade pública e gratuita, não haveria outra opção além de ajudar voluntariamente as instituições e quem precisa delas. Precisamos ajudar a solucionar os problemas do povo, inclusive os jurídicos, a fim de nos levantarmos em união após esta crise. A vida é mais importante que o lucro e somente pessoas vivas movimentam a economia”, lembra o jovem advogado.

É preciso analisar caso a caso - Adicionalmente, há a situação dos que requereram o auxílio após perderem o emprego, pessoas que até três meses atrás tinham emprego formal, mas hoje estão demitidas; e a situação das mulheres, chefes de famílias monoparentais (famílias formadas por mulheres que vivem sem seus cônjuges ou companheiros) que não receberam o valor dobrado do auxílio.

Cestas básicas provisórias – A pedido da força-tarefa, o governo da Paraíba distribuirá cestas básicas para as pessoas que não tiveram acesso ao auxílio emergencial. O objetivo, segundo o procurador da República José Godoy, é diminuir a vulnerabilidade das pessoas que tiveram o benefício federal negado, enquanto aguardam o resultado judicial das ações coletivas e individuais que serão ajuizadas.

Centenas de denúncias – Com apenas quatro defensores federais atuando na capital, a Defensoria Pública da União enfrenta o crescimento exponencial das denúncias sobre indeferimentos arbitrários do auxílio emergencial. “É muita demanda chegando, além das 225 representações que nos foram encaminhadas pelo MPF, oriundas de denúncias e representações individuais recebidas pelo órgão”, informou a defensora regional de Direitos Humanos na Paraíba, Marcella Sanguinetti Soares Mendes. Segundo adiantou a defensora, a DPU já está ajuizando ações coletivas.

“Estamos tentando ao máximo coletivizar as ações, de forma mais abrangente possível, visto que o insuficiente número de defensores para fazer frente ao volume de demandas individuais pode resultar numa morosidade para obtenção de resposta via ações judiciais individuais, sendo que os assistidos não têm condições de aguardar tanto tempo. Eles precisam do dinheiro agora", ressaltou Marcela Mendes. A defensora também alertou que, se as demandas continuarem crescendo nessa velocidade, a Defensoria Pública da União pode ter que começar a trabalhar com agendamentos.

Com Assessoria de Comunicação do MPF

Edição: Heloisa de Sousa