Paraíba

ALIANÇA SOLIDÁRIA

MST doa 800 Kg de alimentos a famílias carentes de João Pessoa e regiões

No Dia Mundial de Luta pela Reforma Agrária, MST entrega produtos a mães de crianças com microcefalia

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Doação de alimentos do MST para periferias de João Pessoa e regiões - Reprodução

O dia 17 de abril de 1996 foi marcado pelo assassinato de 21 trabalhadores rurais na cidade de Eldorado de Carajás, sudeste do Pará, o maior massacre da luta pela terra no Brasil. Por causa dessa barbárie, esse dia se tornou o Dia de Luta pela Reforma Agrária em todo o mundo.

“O dia 17 de abril é um dia de resgate, são 24 anos de impunidade no campo. Chegando a esse período, lembramos que, no Brasil, foi enterrada e soterrada todas as políticas para a reforma agrária. Então hoje é um dia de luta. A pandemia afeta a humanidade, nós dividimos aquilo que temos com as pessoas mais humildades da sociedade”, relatou Dilei Schiochet, dirigente do MST na Paraíba.

Vinte quatros anos depois desse triste episódio, o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) responde nesta segunda (17) ao Brasil mostrando a razão da sua luta: colocar comida na mesa das brasileiras e dos brasileiros, levar dignidade às pessoas que mais precisam e produzir de forma sustentável e agroecológica.  

“O MST como resposta a impunidade e a não reforma agrária, nós estamos trabalhando neste momento a solidariedade do campo com a cidade e dizendo para a sociedade que não temos outro caminho, ou nós democratizamos a terra e as riquezas, taxamos as grandes fortunas, ou do contrário, nós não conseguiremos ter um país digno, vidas dignas. O que é visível são as periferias com fome, o povo em permanente reivindicação por comida e a gente começa a perceber que não tem política, que o índice de desemprego é enorme, que a miserabilidade nas periferias das cidades nos dá um sentimento de desumanidade. Prestar a nossa solidariedade é dizer que quem ajuda, quem é solidário, são aqueles que pouco tem. Vejamos até na humanidade, quem sempre foi solidário foram os países que menos têm, a exemplo de Cuba, são países que têm outros sistemas, o sistema ligado à vida, à sociedade, ao Estado Forte. Portanto, esse momento de pandemia é um momento de lutar com um instrumento: a solidariedade, e esse é um instrumento que podemos ter nesse momento histórico”, disse Dilei.


Melancias doadas pelo MST / Reprodução

Contra o ódio, o amor; contra a fome, a solidariedade

Em torno de 800 kg de alimentos produzidos pelos assentamentos e acampamentos do MST-PB foram doados para atender às famílias que estão em quarentena em João Pessoa e regiões metropolitanas da cidade. Macaxeira, melancia, mamão, batata doce, abacaxi e feijão verde, essa produção veio dos acampamentos Arcanjo Belarmino, que fica localizado em Pedras de Fogo; Dom José, em Alhandra e Wanderlei Caixe, localizado em Pedras de Fogo e os assentamentos Nova Vida, Primeiro de Março, em Pitimbu, Ouro Verde, em Caaporã. Além dessa ação, o MST também entregou alimentos na cidade de Mari (PB) e em Campina Grande fez entregas de 900 litros de leite.


Na cidade de Mari milhares de cestas com produtos da reforma agrária foram distribuídas / Reprodução


Turma do Periferia Viva antes de sair para a entrega das cestas de alimentos em João Pessoa / Reprodução


Distribuição de leite em Pedregal (Campina Grande) / Reprodução

“Durante essa semana fizemos toda a articulação com o Ministério Público, somando as forças da Periferia Viva, que tem contribuído na entrega de leite, foram 8 mil litros de leite distribuídos para as periferias essa semana e 800 kg de alimentos produzidos pelos acampamentos. Só não foi mais porque a chuva de ontem atrapalhou uma pouco a saída dos alimentos”, explicou Dilei.


Entrega de cestas na comunidade do Timbó / Reprodução

Trinta por cento desses alimentos foram distribuídos para a comunidade do Timbó, no bairro dos Bancários e os outros 70 foi direcionado para as mães de filhas e filhos que tem microcefalia. Essas famílias e pessoas que estão recebendo as doações estavam em uma situação de vulnerabilidade, com renda reduzida por causa da quarentena e com necessidades alimentares. As mães que receberam os alimentos estavam, inclusive, organizando uma campanha pedindo doações de leites, fraldas, produtos de higiene infantil, álcool gel, máscaras e cestas básicas.

Elas criaram uma entidade chamada Associação Mães de Anjos da Paraíba (Amap) e também estão disponibilizando uma conta da Caixa Econômica Federal, de número: 34291-1; Agência: 3487, sob CNPJ: 28.602.679/001-08, identificada como Associação F E Crianças, para quem quiser fazer doações em dinheiro. "A Associação de Mães de Anjos da Paraíba se encontra em um momento difícil pois ajudamos 125 famílias com crianças com microcefalia em todo o estado, esse momento de confinamento complicou bastante pois a associação se mantém de doações. E com a situação do país, as doações diminuíram bastante. A ação de solidariedade veio para somar forças e ajudar as famílias que estão tanto precisando de ajuda", declarou Kamila Bianca, vice-presidente da AMAP.


Campanha de Doações feita pela Mães de crianças com microcefalia / Reprodução


Cestas distribuídas neste dia 17 de abril / Reprodução

Além de receber os alimentos doados pelo MST, as mães da AMAP também receberam a doação de 125 litros de leite da campanha realizada pelo Ministério Público Federal, Leite Fraterno, produzidos por agricultores familiares da região do Cariri paraibano. Para saber mais sobre essa campanha acesse aqui.

Leite Fraterno

A campanha do Leite Fraterno continua e nesta sexta (17) entregou 900 litros no Centro de Formação Elisabeth e João Pedro Teixeira, em Lagoa Seca, que foram distribuídos na comunidade do Pedregal em Campina Grande. Além de 100 litros para os ambulantes.


Mulher exibe a doação do Leite Fraterno / Reprodução


Organizando os litros de leite para entrega / Reprodução

Também foram destinados 1000 litros para as famílias atingidas por barragens, organizadas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), nos municípios de Aroeiras, Natuba e Itatuba.  

Já em João Pessoa e região metropolitana, o leite foi entregue em vários locais. O Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) entregou a 3 ocupações de Cabedelo: Paraisópolis, Plástico, Portelinha; além das comunidades do Cafofo, no bairro Expedicionários, Bola na Rede, no bairro dos Novaes; e Sítio Mumbaba, no Bairro das Indústrias.


Durante a entrega em uma das comunidades / Reprodução


Doação em comunidade / Reprodução


Mulher recebe leite da campanha 'Leite Fraterno' / Reprodução

Além disso, também entregou 125 litros para a Associação das Mães de crianças com microcefalia; 500 para o Padre Egídio do Hospital Padre Zé; 900 para a associação dos ambulantes.

Campanha Periferia Viva

Todas essas iniciativas que ligam o campo e a cidade fazem parte das medidas de ação adotadas por diversos movimentos sociais que se uniram, por causa da pandemia, para atender a população mais vulnerável das cidades. As pessoas mais empobrecidas, que vivem de renda informal e que no estado de isolamento social, ficariam sem alternativa de trabalho, são as que estão sendo atendidas pela campanha Periferia Viva.

O ator Luiz Carlos Vasconcelos acabou de gravar vídeo pedindo a todos que colaborem para a Quarentena por Direitos, campanha que faz parte da Periferia Viva:

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“A campanha Periferia Viva foi pensada a partir das experiências de autoproteção e organização das periferias urbanas a respeito de como se alimentar e viver com dignidade, diante de uma pandemia mundial, onde o Estado muitas vezes não consegue alcançar. Além disso, por meio destas ações, está se ampliando a solidariedade entre os movimentos do campo e da cidade. Lideranças de vários movimentos sociais, como MTD, MST, Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Coletivo de Professoras e Professores Adélia França, Consulta Popular, MAB, PJR, e de grupos organizados se articularam para garantir especialmente comida e produtos de limpeza para o povo mais pobre urbano, considerando também que existe uma necessidade dos povos camponeses de se proteger e de escoar sua produção”, explicou Gleyson Melo, do MTD.

Edição: Heloisa de Sousa