Paraíba

MÁRTIR PELA TERRA

Vida, luta e morte de João Pedro Teixeira - 58 anos de seu impune assassinato

O "cabra marcado para morrer" foi executado numa emboscada; seus mandantes e executores foram absolvidos pela justiça

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
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No mês de abril é celebrada a morte de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado por capangas do latifúndio, em 2 de abril de 1962, na rodovia Café do Vento, em Sapé. O agricultor foi um dos fundadores das Ligas Camponesas de Sapé, em 1958, juntamente com Biu Pacatuba, João Alfredo, Pedro Fazendeiro e Ivan Figueiredo. 

Alvejado pelas costas com tiros de fuzil por pistoleiros a mando de fazendeiros da Paraíba, segundo consta nos depoimentos e materiais jornalísticos anexados ao processo da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos - CEMDP (2013), os mandantes do crime foram Aguinaldo Veloso Borges, Pedro Ramos Coutinho e Antônio José Tavares. O crime teve evidente motivação política, com o objetivo de desmobilizar as lideranças camponesas da região.
João Pedro Teixeira é uma referência histórica na luta pela terra. A sua morte em 2 de abril de 1962 completa 58 anos e simboliza a criminalização dos movimentos populares no campo pré-golpe militar de 1964.

A história de João Pedro Teixeira foi retratada no documentário “Cabra Marcado para Morrer”, obra-prima do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho. Após perseguições políticas, o longa iniciado na época da morte foi retomado quase 20 anos depois quando Coutinho se reencontra com a viúva de Teixeira, dona Elizabeth, que vivia sob um nome falso no interior do Rio Grande do Norte. 

Na continuação das gravações, Coutinho entrevistou Elizabeth Teixeira e correu o Brasil em busca dos filhos espalhados. Além da família, vários personagens relacionados às lutas da Liga Camponesa de Sapé também compõem o documentário.

As Ligas Camponesas eram associações criadas por trabalhadores do campo como forma de organização política e ajuda mútua. Com frequência, as ligas despertavam a inimizade dos grandes fazendeiros e patrões latifundiários.

A primeira liga surgiu em Pernambuco no ano de 1954 sob o nome de Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco. Ela ficava dentro do Engenho Galiléia e serviu de exemplo para que a iniciativa se espalhasse pelo nordeste, chegando até a Paraíba, onde trabalhava João Pedro Teixeira.

Apesar da condenação, todos os culpados pela morte de João Pedro foram absolvidos em março de 1965, pelo regime militar.
Em 15 de julho de 2013, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade da Paraíba, realizaram, juntas, uma audiência pública no município de Sapé (PB) para ouvir depoimentos e colher informações a respeito das perseguições às Ligas Camponesas, além de outros casos de violências e mortes que continuam sem solução, como dos trabalhadores João Alfredo Dias (conhecido como Nego Fuba) e Pedro Inácio de Araújo (conhecido como Pedro Fazendeiro), também militantes da Liga Camponesa de Sapé, desaparecidos em setembro de 1964.
A comissão recomendou a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso de João Pedro para a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.

Desde janeiro de 2018, a importância de João Pedro Teixeira na história brasileira está reconhecida oficialmente pela lei 13.598/12, que inclui o nome do líder camponês no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria". O livro é confeccionado em aço, está exposto no Panteão da Pátria em Brasília (DF) e contém nomes como Zumbi dos Palmares, Anita Garibaldi e Chico Mendes. 

Edição: Heloisa de Sousa