Pernambuco

DESCASO

Abandonos marcam futebol feminino em Pernambuco

Atual campeão estadual abriu mão de jogar o Brasileirão A2

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em fevereiro de 2019 o Sport chegou a anunciar a desistência do futebol feminino para conter gastos com dívidas - Anderson Stevens/Sport Club

O futebol feminino pernambucano registra um time montado “de última hora” e outro desmontado “de última hora” às vésperas do Brasileirão. O intervalo entre uma desistência do Sport e outra do Vitória das Tabocas é de menos de um ano. A argumentação de falta de recursos financeiros foi utilizada tanto na Ilha do Retiro, em 2019, quanto no Carneirão neste ano. 

Em fevereiro de 2019 o Sport chegou a anunciar a desistência do futebol feminino para conter gastos com dívidas, acumuladas pelo futebol masculino. Porém, o abandono foi revisto porque o clube poderia sofrer sanções. A decisão foi montar uma equipe feminina poucos dias antes do início da competição nacional. A disparidade na priorização entre as modalidades refletiu caminhos inversos, com o acesso do masculino na primeira divisão e o rebaixamento do feminino para segunda.  

O outro representante pernambucano no Brasileirão Feminino A1 2019, Vitória das Tabocas, também foi rebaixado. A mudança de divisão seguiu também mudança na gestão do clube. A atual administração vitoriense está alegando que as dívidas do futebol feminino no passado inviabilizam participar da segundona nacional neste ano. 

“A desculpa é sempre a falta de dinheiro e a falta de retorno financeiro. Plausível e real, mas um time de futebol não é só um negócio. Tem responsabilidades com a sociedade, torcida e com o futebol enquanto fenômeno cultural”, destaca Soraya Barreto, professora e pesquisadora do Departamento de Comunicação da UFPE. 
O tom financeiro alegado pelo clube também é rebatido por Elias Coelho, diretor de Futebol Feminino da Federação Pernambucana de Futebol. Elias lembra que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) arca com estadias e passagens para 25 atletas por jogos fora de casa no campeonato nacional feminino, além de possíveis ajudas de custo.  

Ao tempo de rebaixamentos e desistências em Pernambuco, o blog Dibradoras revela que o Brasileirão A1 feminino deste ano está batendo o recorde de equipe profissionais. Dos 16 clubes na primeira divisão, dez contam com carteira assinada no ofício de jogadora de futebol. A segundona conta com 36 clubes, sendo maioria a presença de equipes amadoras, a exemplo de Sport e Náutico.   

Soraya ressalta que os dados apresentados pelo Dibradoras reforça a concentração política do futebol nacional na região sudeste, assim como acontece com a modalidade masculina. Ao mesmo tempo, sugere estratégias eficazes de marketing para o futebol feminino, e entendimento de suas diferenciações diante do masculino. 

"O que precisa mudar é a compreensão do futebol como fenômeno cultural e, ainda, compreender o futebol feminino como um nicho de negócio que pode e vai ser rentável se houver investimento na infraestrutura e visibilidade", avalia Soraya Barreto.  

Edição: Monyse Ravena