Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA POLICIAL

No Rio, movimento de familiares contra violência do Estado recebe Medalha Tiradentes

Iniciativa do mandato da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL) foi realizada no Armazém do Campo, no Centro do Rio

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Rede surgiu em 2004 e reúne moradores de favelas, sobreviventes e familiares de vítimas da violência policial
Rede surgiu em 2004 e reúne moradores de favelas, sobreviventes e familiares de vítimas da violência policial - Jaqueline Deister

A Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência recebeu nesta sexta-feira (6) a medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do estado do Rio. A entrega foi realizada no Armazém do Campo, no centro do Rio, pelo mandato da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL).

A mesa foi composta por integrantes e apoiadoras do movimento: Márcia Jacintho e Maria Dalva, mães que perderam seus filhos vítimas da violência policial; Patrícia Oliveira, defensora de Direitos Humanos; Glaucia Marinho, da Justiça Global e Juliana Farias, pesquisadora.

A cerimônia foi marcada por emoção. As participantes da rede lembraram de mães que integraram o movimento e não estão mais presentes e também das histórias das perdas dos filhos. Márcia, que teve o filho Hanry Silva Gomes de Siqueira assassinado em 2002 no Complexo do Lins, falou da necessidade em transformar o luto em luta para honrar a memória do filho.

"O meu filho não foi confundido, não saiu correndo no morro, não foi uma bala perdida. Ele estava nas mãos de nove policiais [militares]. Eles optaram em dar um único tiro no coração dele, à queima roupa, porque naquele dia eles não receberam o arrego do tráfico. O meu filho foi dizer pra eles que quem mandava na comunidade éramos nós. O que estava na mão dele [Hanry] era um par de chaves", contou.

Maria Dalva, que teve o filho Thiago da Costa Correia da Silva assassinado na chacina do Borel em 2003, falou sobre a importância do movimento atuar também pelo desencarceramento.

"Quando os nossos filhos não são mortos, eles são encarcerados. O que o Estado quer é esconder o corpo negro e favelado. Ele quer limpar a cidade e acabar com a favela", destacou Dalva.

A trajetória da deputada Mônica Francisco como liderança comunitária e comunicadora na comunidade do Borel, na Tijuca, também foi lembrada pelas integrantes do movimento. A parlamentar ressaltou a força das mulheres que são a base da organização e se emocionou quando voltou ao passado e lembrou do movimento "Posso me Identificar" em 2003 que deu origem à rede. "Lembrei da primeira caminhada do 'Posso me identificar?' Olhar para essas mulheres ainda de pé, é muita emoção", ressaltou a deputada.

História

A Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência surgiu em 2004 e reúne moradores de favelas, sobreviventes e familiares de vítimas da violência policial. Atualmente é composta por 26 pessoas entre familiares e apoiadores.

A incidência do movimento ultrapassou o território do Rio de Janeiro. Hoje, a rede está à frente da construção da Agenda Nacional pelo Desencarceramento e da Rede Nacional dos Familiares de Vítimas da Violência. O movimento também organiza o Julho Negro e a campanha "Diga não ao caveirão e operações em favela". 

O trabalho da rede é internacionalmente reconhecido. O movimento já recebeu prêmios da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Prêmio Faz a Diferença e Medalha Chico Mendes de Resistência.

Edição: Vivian Virissimo