Paraíba

TEATRO POLÍTICO

Espetáculo 'Desertores', inspirado em peça de Brecht, estreia nesta sexta (01)

Quatro soldados se perdem no campo de batalha e são tidos como mortos, mas na verdade desertaram da guerra

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Divulgação
Divulgação - Foto: Tarciana Gomes

O Coletivo de Teatro Alfenim estreia nesta sexta-feira (01) o espetáculo Desertores, com ideia e texto livremente inspirados na peça inacabada O declínio do egoísta Johann Fatzer, de Bertold Brecht. O projeto  é uma realização do Rumos Itaú Cultural 2017-2018 e será apresentado na Casa Amarela, a partir das 19h. 
A peça conta com uma tradução inédita realizada pelo diretor e pesquisador Pedro Mantovani sobre a obra Complexo Fatzer do dramaturgo alemão Bertold Brecht, reunindo cenas, diálogos, poemas, côros e apontamentos teóricos produzidos pelo autor alemão durante o período de 1926 a 1930. Desertores tem direção de Márcio Marciano, e ficará em cartaz na até o dia 7 de dezembro.
Trata-se da história de quatro soldados, que se perdem no campo de batalha e são tidos como mortos, mas na verdade, desertam da guerra e passam a viver na clandestinidade, com o medo iminente de serem descobertos e executados como desertores. 
Foto: Tarciana Gomes
Segundo o diretor  Márcio Marciano, a obra de Brecht é uma referência importante na formação e trajetória do Coletivo Alfenim, e, portanto, assumiram a tarefa de estudar o “Material Fatzer” no intuito de refletir sobre a atual conjuntura política e social do Brasil. Segundo ele, a peça causa espanto por ser uma fábula aos pedaços, que reverbera as contradições da atualidade. O declínio de quatro soldados alemães que desertam do campo de batalha e passam a viver na clandestinidade à espera de uma revolução que os exima da responsabilidade por seus crimes: “A trajetória desses desertores se apresenta como uma potente alegoria dos descaminhos que marcam a lutas sociais no Brasil recente, seus erros estratégicos, conquistas temporárias, avanços e retrocessos, seu desalento, mas também sua renitente esperança. Chama atenção pela forma lúcida e objetiva como discute o papel da mulher na divisão social do trabalho na (des)ordem capitalista. Temas que, apesar de sua crueza intrínseca, surgem em cena com alta voltagem poética. Brecht afirmou num dos comentários que compõem esta obra, que se tratava de atingir o ‘mais alto padrão técnico’. O Coletivo Alfenim arrisca uma tentativa de levar à cena este desafio”, explica Márcio.
A obra de Brecht - constantemente contudente na crítica sobre as relações humanas no sistema capitalista - é uma reflexão dialética sobre a catástrofe da Primeira Grande Guerra, o impasse dos movimentos sociais e revolucionários, e o prenúncio de movimentos totalitários como o nazismo e o fascismo, a inoperância frente às ameaças ao sistema civilizatório, as ilusões perdidas e o medo constante, a clandestinidade, a fome e a esperança de redenção. Os desertores acreditam poder tomar parte na desejada revolução.
Complexo Fatzer
O conjunto de fragmentos é organizado em cinco fases de trabalho denominadas Fatzer Documento, acrescidas de um conjunto de notas teóricas a que Brecht chama de Fatzer Comentário e que constitui uma espécie de programa para um teatro-político-poético.
 De todo o material produzido, o autor publicou em vida o fragmento que corresponde à quinta fase do trabalho. O restante do material só veio a público a partir das décadas de 1970 e 1980. No Brasil, foram publicadas a organização de Heiner Müller, em 2002, pela editora Cosac & Naify, com tradução de Christine Röhrig, e o fragmento correspondente à quinta fase, pela editora Paz e Terra, em 1995, com tradução de Ingrid D. Koudela e Erlon J. Paschoal. O material na integra, com tradução de Pedro Mantovani, permanece inédito.
 No início do processo de estudos para a criação de Desertores, Mantovani esteve em João Pessoa (PB) para conversar com o grupo sobre a obra de Brecht, juntamente com Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão, e José Antonio Pasta Jr., autor do livro Trabalho de Brecht: breve introdução ao estudo de uma classicidade contemporânea. O processo contou, ainda, com a participação do pesquisador e músico Walter Garcia, que compôs, com os integrantes do Coletivo Alfenim, a trilha sonora do espetáculo.
Sobre o Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.
Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.
SERVIÇO:
DESERTORES
De Coletivo de Teatro Alfenim
De 1 de novembro a 7 de dezembro (de quinta-feira à sábado)
Às 19h
Local: Casa Amarela
Rua Amaro Coutinho, 163, Varadouro - João Pessoa (PB)
Entrada gratuita
Número de lugares: 35 lugares
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 85 minutos
FICHA TÉCNICA:
Elenco: Adriano Cabral, Edson Albuquerque, Kevin Melo, Lara Torrezan, Mayra Ferreira, Murilo Franco, Paula Coelho, Vítor Blam e Victor Dessô
Cenografia: Márcio Marciano
Figurinos: Maria Botelho
Iluminação: Ronaldo Costa
Projeção: Rebecca Dantas Animação: Lívia Costa
Identidade visual: Patrícia Brandstatter
Composição musical: Kevin Melo, Mayra Ferreira, Márcio Marciano, Paula Coelho, Walter Garcia e Vítor Blam
Costura: Maria José
Serralheria: Anderson Galdino
Dramaturgia e direção: Márcio Marciano
Produção executiva: Gabriela Arruda
Realização: Coletivo de Teatro Alfenim
Apoio: Rumos Itaú Cultural 2017-2018

Edição: Cida Alves