Paraíba

Coluna História Pública & Narrativas Negras

Artigo | Áfricas nas Américas

O deslocamento e a exploração dos povos africanos precisam ser repensados à luz do presente

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Esta sexta (23) é o Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição.
Esta sexta (23) é o Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição. - Reprodução

Neste corrente mês, agosto, começamos a Coluna História Pública & Narrativas Negras, com objetivo de ampliar um diálogo entre Universidade e Sociedade, potencializando a divulgação científica para um público amplo, propondo reflexões sobre a complexidade da vida social, destacando, sobretudo, as experiências históricas de pessoas ou grupos subalternizados  que deixaram marcas do seu viver,  que merecem ser rememoradas, tanto para democratizar o conhecimento científico quanto para estimular o debate sobre as relações raciais no contexto contemporâneo.
A ideia é contar o protagonismo de sujeitos africanos e seus descendentes no Mundo Atlântico (África, Europa e Américas), numa longa temporalidade: do período Colonial ao Tempo Presente. Nesse sentido, começamos por lembrar de uma revolta de escravizad@s ocorrida em 1791, em Santo Domingos, então colônia francesa, que resultou na formação da primeira República nas Américas sem escravidão (1804) e o primeiro Estado negro, o Haiti, configurando-se como um emblemático marco na resistência dos povos africanos na sua secular diáspora nas Américas, sobre a qual são calculados cerca de 12 milhões de sobreviventes. Tal processo de deslocamento e exploração forçados precisam ser repensados à luz do presente. Nessa perspectiva, como resultado de trabalhos de estudiosos/as vinculados/as à Organização das Nações Unidas/ONU foi estabelecido o 23 de agosto como Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição, por entenderem ser importante enfrentar a memória dolorida do passado na construção de uma outra sociedade. 

Mapa Mundial do Comércio de Escravos desenvolvido com apoio da UNESCO. / Fonte: http://bit.ly/Pfdpgo.

Então, é preciso lembrar (e não esquecer), que a escravidão moderna, em seus quase quatro séculos de existência, pode ser caracterizada como um período de dominação política, exploração econômica, violência e escravização de milhões de pessoas, colonialismo e imperialismo, nos legando no Pós-Abolição, extremas desigualdades sociorraciais e racismos (estrutural, institucional e individual), sobretudo, para os/as viventes do lado de lá do Atlântico (Áfricas), e para os do lado de cá (Américas). Contudo, há que se destacar que “onde houve escravidão, houve resistência. E de vários tipos”, conforme assinalam os historiadores J. J. Reis e F. S. Gomes (1996). E é sobre as histórias de resistências de pessoas africanas e seus descendentes que vamos continuar a contar na próxima edição dessa Coluna. Afinal, a História é cheia de possibilidades, que nos instigam a manter as “rebeliões nas senzalas”, (C. Moura, 1988). Em momento histórico de democracia fragilizada e de governança com práticas conservadoras e autoritárias, de negação da Diversidade Cultural, vamos mostrar a capacidade coletiva dos Movimentos Sociais Negros e de seus parceiros no enfrentamento às adversidades em defesa de Direitos e da dignidade da população negra.
As Lutas (como a Antirracista) continuam!


Referências

MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições e guerrilhas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. (Orgs.). Liberdade por um Fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

 

*Professora(e)s do Departamento e Programa de Pós-graduação em História & NEABI-CCHLA/UFPB

Edição: Heloisa de Sousa